segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

JOGO DE PODER - CRÍTICA


As torres gêmeas de Kuala Lumpur abrem o filme Jogo de Poder, que estreia no dia 11 de março no cinema. É, claramente, uma referência ao ataque terrorista às torres do World Trade Center em 2001 e suas consequências políticas. A produção é baseada na autobiografia Fair Game, de Valerie Plame, a ex-expiã da CIA que teve sua vida arruinada após sua identidade ser revelada pelos jornais estadunidenses. Detalhe: foi a própria Casa Branca a responsável pelo vazamento da informação, como represália ao artigo escrito por seu marido, o diplomata Joseph Wilson, sobre as fictícias armas de destruição de massa do ditador Saddam Hussein.

Doug Liman, que parece gostar do mundo da espionagem (é diretor de A Identidade Bourne e de Sr. e Sra. Smith), arrisca-se a ingressar por um gênero que não vem obtendo grandes sucessos de bilheteria na última década: o cinema com fundo político, de reflexão sobre a conduta de Washington e sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão. Tanto obras que trataram o assunto de forma mais séria – caso de Leões e Cordeiros (de Robert Redford), de No Vale das Sombras (de Paul Haggis) e de Syriana (de Stephen Gaghan) – quanto filmes de puro entretenimento – como Rede de Mentiras (de Ridley Scott), O Reino (de Peter Berg) e Zona Verde (de Paul Greengrass) – foram ignorados pelo público norte-americano.

Jogo do Poder tem a possibilidade de reverter esse quadro. O atual contexto político está favorável à produção de Doug Liman, afinal George Bush deixou a Casa Branca sendo o presidente com o menor índice de aprovação dentro e fora dos Estados Unidos. Desta forma, fica fácil para Liman colocar nos créditos de abertura a música Clint Eastwood, do Gorillaz, enquanto apresenta imagens de arquivo de Bush com seus discursos belicistas, além de toda a paranoia da mídia e da população sobre novos ataques terroristas. Ou seja, a distância do tempo dos acontecimentos permite ao diretor mostrar como todos tiveram sua parcela de responsabilidade, sem ofender ninguém.


 A linguagem visual de A Identidade Bourne é repetida aqui, com uma câmera curiosa, que vigia as ações dos personagens – ou seja, uma espiã, assim como sua protagonista. Naomi Watts interpreta com segurança a agente secreta traída pelo governo e que teve sua vida virada ao avesso, inclusive levando ao extremo a situação de seu casamento com Joseph Wilson, vivido por Sean Penn. A história tem o roteiro adorado por Hollywood, de um “Davi enfrentando Golias” – ou, no caso, de um casal lutando contra a máquina de guerra e de propaganda da Casa Branca. E, ao contrário do que sugere o irônico título original (Fair Game), o jogo não é justo.


* Texto publicado no site http://www.cinemanarede.com/  

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

INCÊNDIOS - CRÍTICA

Indicado ao Oscar 2011 de Melhor Filme Estrangeiro, obra franco-canadense faz metáfora sobre intolerância entre as três religiões monoteístas 


Com a recente queda de Hosni Mubarak no governo do Egito após 30 anos de ditadura, e as crescentes revoltas populares pelos demais países do norte da África e do mundo árabe, ganha força a produção canadense Incêndios, indicada ao Oscar 2011 de Melhor Filme Estrangeiro, e que estreia no Brasil no dia 25 de fevereiro. Dirigido por Denis Villeneuve, baseado na peça de Wajdi Mouawad, Incêndios mostra o drama da família Marwan trazendo como pano de fundo a intolerância religiosa da região que mais parece um barril de pólvora.

Durante a leitura do testamento de sua mãe, os gêmeos Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon Marwan (Maxim Gaudette) descobrem que tem um irmão e que seu pai ainda está vivo. Na carta, a falecida pede aos filhos que viagem ao Oriente Médio, descubram onde estão os dois homens e lhe entreguem uma carta selada a cada um. A jovem Jeanne decide cumprir a missão e sai em busca do passado da mãe, Nawal Marwan, mulher expulsa do vilarejo natal e que acabou se envolvendo com um movimento militar revolucionário.

Com paciência, o diretor Denis Villeneuve deixa a história se desenvolver vagarosamente, intercalando as cenas da busca da filha pelas raízes de sua família com os flashbacks do destino de sua mãe – numa interpretação marcante da atriz Lubna Azabal. Villeneuve também é o autor do roteiro, e entrega em cada capítulo do filme uma peça do quebra-cabeça, colocando o espectador na mesma situação de desorientação dos gêmeos.

Mas o elemento mais poderoso da produção canadense está no pano de fundo da história, a guerra religiosa que domina o Oriente Médio. A cena do massacre no ônibus, que estampa o cartaz e dá título ao filme, é angustiante e resume todas as contradições de um conflito secular e irracional. Incêndios acaba se tornando um complemento de Valsa com Bashir, documentário em forma de animação (!) dirigido pelo israelense Ari Folman, também indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro dois anos atrás.

Quando os créditos sobem, fica cristalina a grandiosa metáfora sobre a intolerância entre as três grandes religiões monoteístas e a família Marwan.




DUETO PARA UM & RONALDO FENÔMENO


Pode soar engraçado, mas não consigo deixar de pensar no agora ex-jogador Ronaldo – o fenômeno –, ao falar da peça Dueto Para Um, dirigida por Mika Lins e interpretada por Bel Kowarick e Marcos Suchara, baseada no texto escrito por Tom Kempinski na década de 1980. Trata-se da história de uma famosa violinista que, acometida pela esclerose múltipla, é impedida de exercer sua arte no auge da carreira e busca ajuda de um psiquiatra para tentar impedir o avanço da depressão.

A peça é realizada num palco escuro, cru, desprovido de recursos cênicos, e baseia-se exclusivamente na arte do diálogo entre a paciente e seu médico. Com isso, a diretora estreante Mika Lins exige o máximo de interpretação de seus atores e o resultado foi a premiação de Bel Kowarick pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por sua personagem, Stephanie Abrahams. O roteiro se passa durante seis sessões de terapia e a atriz nos mostra o avanço da doença, seja com a mão definhando, a curvatura de suas costas ou a tristeza em seus olhos. No entanto, é curioso o fato de que seu colega de palco, o ator Marcos Suchara, tenha sido ignorado pela APCA. Sua interpretação do Dr. Feldman rouba as cenas, com um psiquiatra desesperado por não conseguir ajudar sua paciente.

E é o clima e o debate entre os dois personagens que movimentam o roteiro, que procura discutir como continuar o prazer da vida após perder seu maior sentido. A peça é baseada na história verídica da violoncelista inglesa Jacqueline du Pré, morta aos 42 anos vítima da doença degenerativa. O violino, para Stephanie, não é apenas um instrumento musical, mas a extensão de seu corpo. A música vai além de ser seu meio de vida, é sua própria vida. Presa a uma cadeira de rodas e com os movimentos musculares ignorando seus estímulos cerebrais, o próprio ato de viver precisa ser visto de outra forma.

Guardadas, obviamente, as devidas proporções, não estaria em situação semelhante Ronaldo Nazário? Três vezes melhor jogador do mundo, maior artilheiro das Copas, e ídolo de uma geração, o atleta alega que o hipotireoidismo o obrigou a encerrar sua carreira, por conta das dores e do excesso de peso. A partir de agora, ele estará longe dos gramados, deixará de fazer dribles e gols filmados e transmitidos para o mundo inteiro. Deixará de ser o “fenômeno” e se tornará apenas Ronaldo, o ex-jogador. Ele vai levar isso numa boa?

Voltando à Dueto Para Um: há um filme, de 1986, também baseado na peça. Dirigido por Andrei Konchalovsky e roteirizado pelo próprio Tom Kempinski, Duet for One (no Brasil batizado de Sede de Amar – não confundir com o nacional homônimo) tem a atriz Julie Andrews no papel de Stephanie e conta com Liam Neeson no elenco. Os interessados em assistir à peça devem se apressar: a temporada no Tucarena encerra-se no dia 27 de fevereiro.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O VENDEDOR DE ARMAS - CRÍTICA

Hugh Laurie, o Doutor House, surpreende com ótimo livro policial


Imagine um amálgama entre Jack Bauer e Doutor House. Pois esse personagem existe e foi criado pelo ator inglês Hugh Laurie, o próprio médico mal-humorado protagonista da série televisiva que leva seu nome. O Vendedor de Armas é o romance escrito por Laurie em 1996, quando ele ainda era desconhecido do grande público, e traz todas as características que mais tarde o consagrariam na série House: muito, muito sarcasmo.

Thomas Lang é um ex-militar aposentado que recebe a proposta de matar um empresário norte-americano por 100 mil dólares. Ao decidir avisar à vítima de que será alvo de um atentado, Lang acaba sendo tragado para uma gigantesca conspiração que envolve a indústria armamentista, a CIA, os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra e o terrorismo internacional.

A história é mais simples do que parece, mas Laurie compõe uma narrativa repleta de reviravoltas, o que deixa o leitor tão perdido quanto o protagonista. Principalmente porque não sobra muito tempo para pensar, já que a ação não para uma única página, por conta dos tiroteios, perseguições, lutas e explosões tipicamente hollywoodianas.

Mas o grande destaque do livro é seu (anti) herói, Thomas Lang. Fica impossível não enxergar reflexos da personalidade do Dr. Gregory House no militar aposentado, por conta de seu humor, brilhantismo e piadas irônicas (é interessante, aqui, lembrar que o personagem Thomas Lang foi criado quase 10 anos antes de estrear a série House, o que nos faz pensar na importância de Hugh Laurie na composição e elaboração das características do médico rabugento e genial). Por ser um excelente agente de campo, que se livra das piores situações mesmo quando tudo está contra ele (é baleado, espancado, sofre um acidente automobilístico etc), Lang também nos remete a Jack Bauer, da série 24 Horas – outro personagem que só iria nascer anos depois da publicação da obra. Há apenas um defeito no livro: faltou à edição brasileira uma revisão mais caprichada, já que há diversos erros de português.  
 
Hugh Laurie é um artista diferenciado: além de ser um ótimo ator (passou despercebido por diversos filmes, como O Homem da Máscara de Ferro, Stuart Little e Razão e Sensibilidade), também é músico (foi o pianista da canção If I Can’t Have You, do Meat Loaf, integra a Band From TV, formada por atores de seriados como Heroes, Desperate Housewives e Plantão Médico, e fez diversas apresentações musicais na série cômica A Bit of Fry and Laurie, ao lado do colega ator Stephen Fry).

A literatura é outra seara que ele gostou de investir e seu segundo livro já tem título, The Paper Soldier, mas ainda não há previsão de lançamento. E, claro: O Vendedor de Armas deve chegar aos cinemas.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

TRAILER: CAPITÃO AMÉRICA

Finalmente foi divulgado o primeiro trailer de Capitão América - O Primeiro Vingador. O vídeo foi exibido durante o intervalo do Super Bowl (a final do campeonato de futebol americano). Ainda mostra muito pouco do personagem, mas parece o uniforme vai funcionar. Confira:



Esta não é a primeira adaptação do personagem nos cinemas. Em 1989, o supersoldado lutou contra o Caveira Vermelha sob a direção de Albert Pyun em Capitão América.



Em 1979, foram exibidos dois filmes do Capitão América. Com um uniforme bizarro (que incluía um capacete de motociclista) e um escudo transparente, o herói quase apanha de um punhado de cachorros. Tente não rir da cena em que ele joga sua moto e ela para em pé!

Captain America II - Death Too Soon (1979):



Capitão América (1979):



Mas a pérola, mesmo, está nessa série de televisão de 1944, com um Capitão América que usa arma de fogo e atira os inimigos pela janela do prédio!



Assista ao primeiro capítulo dessa raridade clicando aqui

O INCRÍVEL HULK - CRÍTICA


Em 2003, Ang Lee dirigiu Hulk, adaptação para o cinema de um dos personagens mais conhecidos das histórias em quadrinhos. Com o gênero da HQ invadindo a sétima arte, após o sucesso de X-Men (2000) e Homem-Aranha (2002), o diretor chinês teve liberdade para construir um drama, ao invés de um esperado filme de ação. E isso irritou os fãs.

Já nessa nova produção, O Incrível Hulk, Louis Leterrier entrega um golias verde mais animalesco, que uiva para os trovões e diz sua clássica frase nas páginas: “Hulk esmaga!”. O elenco também foi reforçado: o ótimo Edward Norton (Clube da Luta) faz o papel de Bruce Banner / Hulk, no lugar de Eric Bana; a atriz Liv Tyler (a Arwen, de Senhor dos Anéis) interpreta Betty Ross, namorada do herói; e Tim Roth (Pulp Fiction) faz o militar Emil Blonsky.

O filme começa mostrando Bruce Banner refugiado em uma das favelas do Rio de Janeiro, em busca de uma cura para sua maldição. Após localizar Banner, o exército norte-americano envia o soldado Emil para caçá-lo. Admirado com a força destrutiva de Hulk, o militar decide receber o mesmo experimento de exposição de raios gama sofrido por Banner, transformando-se no monstruoso Abominável.

Além de atuar, o astro Edward Norton também foi produtor e escreveu parte do roteiro, interferindo diversas vezes nas decisões impostas pela editora Marvel e pelo diretor. Enquanto Norton buscava transformar O Incrível Hulk num filme mais “cabeça”, a produtora e Leterrier queriam um longa-metragem de ação. A briga pela liberdade criativa influenciou a produção e é possível perceber isso na variação de ritmo ao longo das cenas. Mas, sem dúvida, o resultado final é melhor do que a produção anterior, com muita destruição e menos drama, mais próximo do universo do personagem nos quadrinhos. 

ANIMAMUNDI - 16° edição (2008)


Em 2008, aconteceu o 16° Festival Internacional de Animação do Brasil, o Anima Mundi, evento que seleciona os melhores trabalhos nacionais e internacionais desta técnica que encanta crianças e adultos. Com cerca de 450 filmes, de 42 países, a edição contou com produções que consolidam a luta contra o preconceito de que desenho é coisa para criança com diversas sessões desaconselháveis para menores de idade (detalhe: a primeira animação do mundo foi produzida em 1917, uma sátira política chamada O Apóstolo). Pelas mostras competitivas, 17 sessões de curtas-metragens – com cerca de 6 filmes cada –, quatro longas-metragens, além de sessões infantis. Profissionais e grandes nomes da área compareceram em mesas-redondas e palestras.

A sessão da qual participei apresentou 7 curtas: o mexicano S.I.T.E, do diretor Pablo Orlowsky; Animadores, do cartunista brasileiro Allan Sieber; Cook, Mug, Cook!, produção tcheca de Jirí Barta; Casa de Máquinas, outra produção nacional, dos diretores Maria Leite e Daniel Herthel; Monsieur Cok, animação francesa de Franck Dion; De Zwemles, do belga Danny de Vent; e Dji Vou Veu Volti, do também belga Benoit Feroumont.

S.I.T.E é uma mistura de “A bruxa de Blair” com “Cloverfield” num ambiente de guerra. Com câmera tremida, nunca conseguimos saber exatamente o que está acontecendo, exceto que o ambiente é um deserto e que há tanques procurando por algo. No fim do filme, todo esse mistério e dúvida sobre o que está acontecendo ao redor mais parece uma crítica à tão atrapalhada invasão americana no Iraque.

Animadores, do carioca Allan Sieber acompanha um dia de trabalho de um grupo de animadores de festa infantil. Sem diálogos e cores, o desenho segue a característica depressiva e irônica do diretor, vencedor de dois prêmios HQ Mix de 2008: Melhor Cartunista e Melhor Álbum de Cartuns (“Assim Rasteja a Humanidade”). Drogas, sexo e tristeza, conteúdo típico do universo de Sieber, acompanham o protagonista.

A animação da República Tcheca Cook, Mug, Cook! segue um roteiro aparentemente nonsense com dezenas de personagens seguindo suas rotinas num ambiente sem fundo gráfico (não há chão ou paredes, apenas objetos primários, como mesas, carros, copos etc). Porém, com a aceleração da trilha sonora, cacofônica, percebe-se que todos estão interligados, da mesma forma que acontece aqui, em nosso mundo real.

Casa de Máquinas, o mais fraco dos filmes exibidos na sessão, é o outro trabalho nacional em disputa, e mostra uma casa de brinquedo que produz industrialmente novas peças para as próximas casas de brinquedos, numa linha produtiva infinita; A indústria da guerra é o tema do francês Monsieur Cok. Com um ambiente sujo, cinza, o desenho mostra os desvarios de um milionário armamentista que não se importa com o mundo ao seu redor. Críticas ao capitalismo, à indústria da guerra e à hipocrisia da sociedade são os destaques da produção.     

De Zwemles, aparentemente infantil, esconde uma bela metáfora sobre a vida e as dificuldades que devemos enfrentar durante todo o percurso: um garotinho de quatro anos é levado a um clube aquático pela mãe, porém ele não sabe nadar. Após se perder, o pequeno cai na piscina e precisa aprender a se virar para não se afogar. Ao observar as demais pessoas se divertindo na piscina, a criança começa a entender sua própria situação.


 A clássica história shakespeariana do Romeu e Julieta é recontada de forma hilária em Dji Vou Veu Volti. Jovem apaixonado arrisca-se a entrar no castelo para fazer uma serenata para sua princesa, porém a letra da música só possui a frase “eu te amo” (o título do desenho, em belga). A repetição da frase fica tão chata que a própria legenda da música se revolta e decide brigar com o rapaz. O final é tão dramático e romântico como a história que a inspirou, mas ainda assim consegue não ser piegas. 


OBRIGADO POR FUMAR - RESENHA


Nick Naylor tem uma missão ingrata: convencer a população norte-americana a continuar consumindo um produto que mata 1200 pessoas por dia! Lobista da indústria do tabaco, Naylor (Aaron Eckhart, ótimo!) consegue sair das mais enrascadas situações com uma cara-de-pau única e argumentos (quase) convincentes. O interessante filme do diretor Jason Reitman mostra, com um humor sarcástico, os bastidores da máquina de propaganda do universo tabagista e prova que a “liberdade de escolha” é completamente manipulada pelos meios de comunicação e pela indústria cultural (Naylor paga para um executivo de Hollywood fazer um filme com Brad Pitt e Catherine Zeta-Jones fumando). Preste atenção aos divertidos diálogos entre os "mercadores da morte" (o encontro dos lobistas da indústria do álcool, das armas e do cigarro) e à filosofia de Nick Naylor: você não precisa estar certo, precisa ter um bom argumento. 

ENCONTRO COM MILTON SANTOS - CRÍTICA



Crise mundial de alimentos, guerras religiosas, ataques terroristas, desigualdades sociais abissais, crise ambiental, aumento do petróleo, aquecimento global... como manter a esperança, o pensamento positivo diante de tantos problemas pelos quais a atual sociedade vem passando? Pois Milton Santos, geógrafo e grande pensador social, mostra que é possível, sim, juntar forças e lutar por um mundo melhor.

Neste documentário dirigido por Sílvio Tendler, Milton Santos divide o mundo em três: como “eles” nos mostram, como o mundo realmente é – perverso –, e como o mundo pode ser. Pois é justamente esse último que Milton lutou para construir durante sua vida.

O filme mostra que a globalização, da forma que está implantada, é a grande causadora das diferenças sociais pelas quais passam as sociedades em todo o mundo. Milton Santos mostra que o sistema em que o mais forte não apenas domina, como também destrói o mais fraco, sempre foi implantado. Como exemplo ele citou a época das grandes navegações, em que, em apenas 100 anos (de 1500 a 1600), 70 milhões de índios foram exterminados e, com eles, 2000 línguas pré-colombianas. 

O intelectual se pergunta se realmente vivemos numa democracia quando as principais decisões mundiais são tomadas por órgãos superiores, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. E também não acredita na veracidade das informações veiculadas na mídia, já que são empresas de comunicação, sempre movidas por interesses financeiros.

Mas o mundo não está entregue, e a prova disso é que ainda há lutas por causas sociais, como foi visto nas revoltas populares dos bolivianos contra a privatização do gás, sobre o congelamento da poupança na Argentina, e até no Brasil, sobre a privatização do Vale do Rio Doce. Movimentos de inclusão, como o MST, também recebem elogios de Milton Santos, que mostra que, se vivemos um momento pessimista hoje, devemos ser otimistas quanto ao futuro. 

WATCHMEN - RESENHA

Esqueça Batman ou Superman. Esta grafic novel escrita por Allan Moore em 1985 mudou todos os conceitos sobre história em quadrinhos. Em plena Guerra Fria, um pequeno grupo de pessoas, sem poderes como eu e você, se fantasia de super-heróis para tentar combater o crime. O que chama a atenção nessa história é o foco psicológico que Moore dá aos personagens: os heróis são neuróticos, têm problemas de relacionamento, alguns agem de forma violenta, diferentemente de um Capitão América, por exemplo. É perceptível na história o medo que a Guerra Fria causou a Allan Moore, como se o mundo fosse acabar a qualquer momento, com a disputa nuclear entre Estados Unidos e União SoviéticaWatchmen entrou na lista dos 100 melhores romances do século XX, de acordo com a revista Time e ganhou uma ótima adaptação cinematográfica em 2009, nas mãos de Zack Snyder

EXPOSIÇÃO STAR WARS BRASIL

Evento trouxe objetos originais das filmagens, como naves em tamanho real  
e figurino dos personagens

Sabres de luz vermelhos e azuis se digladiando, com seu inesquecível som próprio; naves espaciais cruzando todo o universo na velocidade da luz; um vilão de armadura negra e reluzente, apavorando os heróis com sua respiração ofegante e mecânica. Star Wars não é apenas uma série de filmes de fantasia, lutas de espadas e batalhas aéreas. Com seu seis filmes, a saga criada por George Lucas virou referência no cinema e na cultura pop ao abordar os principais elementos da cultura humana, como a luta do bem contra o mal, as conseqüências da exploração do poder, misticismo e religião, e os difíceis relacionamentos pessoais.

As gerações que ficaram encantadas com os filmes podem conferir de perto algumas das naves originais (em tamanho real) usadas nas filmagens, modelos de figurinos dos principais personagens e maquetes dos cenários na Star Wars Exposição Brasil, realizada no Parque do Ibirapuera em 2008. Na “Academia Jedi”, as crianças passam por um rápido treinamento com um mestre Jedi e seu padawan (aprendiz). Cada um recebe um sabre de luz e aprende golpes básicos, para, depois, enfrentar o próprio Darth Vader, vilão de toda a galáxia! Diversão para pais e filhos.

Uma linha do tempo com toda a cronologia da história coloca em ordem os eventos mostrados na recente trilogia (episódios I, II e III), ligando-os aos acontecimentos da trilogia original, mostrada na década de 70 (episódios IV, V e VI). Afinal, George Lucas inovou ao apresentar primeiramente os episódios finais da saga e só 30 anos depois apresentar a origem dos personagens. Apesar do preço salgado (R$ 30), vale a pena, afinal, esta é uma exposição mundial. E olhar o robô R2-D2 em seu tamanho natural é sonho de qualquer fã.

JUNO - RESENHA


Os filmes independentes voltaram a chamar a atenção. Depois de Pequena Miss Sunshine cativar a crítica e o público com a simples história da garotinha que queria participar de um concurso de beleza, é a vez de Juno provar que um bom roteiro e interpretações afiadas garantem, sim, o sucesso da película. Ellen Page interpreta a garota que dá nome ao filme e engravida, aos 16 anos, de seu melhor amigo. Sem o menor jeito para ser mãe, Juno pretende entregar seu bebê a um casal interessado em fazer a adoção. Com diálogos divertidíssimos, o longa de Jason Reitman (diretor do também ótimo Obrigado por Fumar e Amor Sem Escalas) mostra as dificuldades e mudanças psicológicas pelas quais passa a garota durante todo processo de gravidez.


BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS - CRÍTICA


Quando o diretor Tim Burton realizou Batman, o mundo era outro: fim da traumática Guerra Fria, derrubada do Muro de Berlin – que simbolizava a divisão entre socialistas e capitalistas –, a internet ainda estava em gestação... Logo, o espírito fantasioso da produção tinha tudo a ver com a circunstância em que se encontrava. Até mesmo o vilão Coringa, interpretado por Jack Nicholson, tinha um ar humorístico que, ao invés de assustar, fazia rir. Depois da sequência de Tim Burton, quem entrou no comando foi Joel Schumacher, que deu uma cara mais carnavalesca ao universo cinematográfico do homem-morcego: piadas infames como o “Bat-cartão-de-crédito” e a armadura do herói com mamilos afundaram a franquia.

Até que chegou o ótimo diretor Christopher Nolan (Amnésia) e, em 2005, recomeçou do zero a história de Bruce Wayne, milionário que, traumatizado com o assassinato de seus pais, decide viajar pelo mundo para aprender artes marciais e se torna o vigilante Batman. Neste mundo pós-11 de Setembro, Nolan buscou o máximo de realidade possível, transformando a Gotham mergulhada no caos em uma cópia de nossa realidade com seu Batman Begins. O filme foi um sucesso de público e de crítica e sua sequência vinha sendo aguardada ansiosamente.

E não é que Batman – O Cavaleiro das Trevas conseguiu superar o filme anterior! Com um pé ainda mais fundo na realidade, um herói que age violentamente, porém buscando fazer a coisa certa, e um vilão extremamente assustador, que rouba a cena cada vez que aparece, esta sequência pode ser considerada um marco na história do cinema moderno hollywoodiano.

A começar pelo fato de ser este o último trabalho completo do ator Heath Ledger, que morreu após ingerir uma overdose de remédios, pouco depois do término das filmagens. Seu Coringa é extremamente violento, sarcástico, frio, perigoso, psicopata...  ao contrário do que entregou Jack Nicholson. Foi uma das maiores interpretações já vistas, premiada postumamente com o Oscar.

Christian Bale também está mais maduro no papel de Bruce Wayne / Batman. Aliás, o elenco é outro ponto positivo: Maggie Gyllenhaal substitui Katie Holmes e dá mais vida à Rachel Dawes; o ótimo Aaron Eckhart interpreta Harvey Dent, que, todos sabem, se transforma em Duas Caras; os mitos Michael Caine e Morgan Freeman voltam com seus personagens de Batman Begins (o mordomo Alfred e o especialista em aparatos Lucius Fox, respectivamente); Gary Oldman também retorna com seu Jim Gordon, que, enfim, passa de tenente para comissário.
  

 E o roteiro é outra pérola a ser apreciada. A narrativa não pára um segundo, deixando os personagens a todo momento em alguma situação de perigo. No final do filme anterior, Gordon questiona ao homem-morcego como eles enfrentarão a escalada da violência (“Nós compramos semi-automática, os bandidos passam a usar pistolas automáticas; nós usamos coletes à prova de balas e eles passam a usar munição perfurizantes de Kevlar; surge você, um herói mascarado, agora aparece bandidos fantasiados”). Pois agora o maior desafio de Batman é enfrentar um psicopata que quer provar que todos podem ultrapassar os limites do bom senso. Personagens morrem, mas um clássico acabou de nascer. 


Agora é aguardar a conclusão da trilogia de Nolan, The Dark Knight Rises, que já conta com Anne Hathaway (O Diabo Veste Prada) como Mulher-Gato e Tom Hardy (A Origem) como Bane. O filme tem estreia prevista em julho de 2012.

FILMES SOBRE CHE GUEVARA



Camisetas, bandeiras, chaveiros, isqueiros, biquínis... em tudo isso é possível encontrar a estampa da famosa foto de Che Guevara tirada em 1960 por Alberto Korda. Mas, por incrível que pareça, filmes sobre esse personagem histórico começaram a surgir há pouco tempo. “Diários de Motocicleta”, do brasileiro Walter Salles, mostra a vida do jovem estudante de medicina Ernesto Guevara de La Serna antes de se tornar “Che” (interpretado por Gael Garcia Bernal). Já “Personal Che”, documentário dirigido pela colombiana Adriana Marino e pelo brasileiro Douglas Duarte, investiga como o mito é apropriado por diversas ideologias, impondo perguntas: Che era um herói? Um vilão? Um santo ou um demônio?  O cineasta estadunidense Steven Soderbergh também abordou a vida do revolucionário, com um gigante filme dividido em duas partes: Che (The Argentine) e Che - A Guerrilha (Guerrilla) - interpretado por Benicio Del Toro e com participação de Rodrigo Santoro como Raúl Castro, irmão de Che (atualmente no comando de Cuba).

HOMEM DE FERRO - CRÍTICA


Homem de Ferro foi aguardado com muita expectativa pelos fãs de revistas em quadrinhos e cinéfilos. Motivo: era o primeiro filme de super-herói totalmente produzido pela Marvel Studios, novo departamento da editora Marvel, criado especialmente para as próximas produções cinematográficas de seus personagens. Todos os longas de heróis anteriores – a trilogia de Blade, dos X-Men e do Homem-Aranha, os dois filmes do Quarteto Fantástico e as produções-solo do Demolidor, da Electra e do Motoqueiro Fantasma foram realizados em parcerias com estúdios hollywoodianos como a Fox, a Universal e a Warner.

E não é que a Marvel sabe fazer filmes! Do elenco estelar, soma-se a correta escolha por um diretor fã de histórias em quadrinhos (Jon Favreau) e a liberdade de poder fazer o que quiser com seus personagens, sem a interferência de produtores que não entendem nada do universo HQ. Resultado? Homem de Ferro traduz perfeitamente o espírito das histórias em papel.     

A começar por Robert Downey Jr., perfeito no papel de Tony Stark, gênio milionário que, após sofrer um sequestro e ser ferido pelas próprias armas que vende, decide criar uma armadura para combater o crime. A principal característica do personagem na HQ, sua rebeldia e seu vício em álcool e mulheres, foi mantida no filme e representada naturalmente por Downey Jr, já que sua vida pessoal nunca foi politicamente correta, conturbada por problemas com drogas.  

O elenco se completa com a vencedora do Oscar Gwyneth Paltrow no papel de Pepper Potts, assistente (e possível amor) de Stark, o também vencedor do Oscar, Terrence Howard, interpretando o amigo Jim Rhodes – que nos gibis acaba se transformando no herói Máquina de Combate –e, por fim, Jeff Bridges (o eterno O Grande Lebowski) como o sócio de Tony, Obadiah Stane, que acaba copiando o modelo da armadura do herói e se transforma no vilão Monge de Ferro.

Por ser a primeira obra feita pela Marvel Studios (a segunda produção foi O Incrível Hulk), muitas referências dos quadrinhos foram colocadas ao longo do filme, para deleite dos fãs: é possível enxergar na mesa de Tony Stark, jogado entre as bagunças, o escudo do Capitão América, e perceber que o radar da armadura do herói rastreia a nave dos X-Men, só pra citar algumas dicas. E para concluir, a Marvel também acertou em cheio na trilha sonora: além da clássica Back in Black, do AC/DC, é óbvio que Iron Man, do Black Sabbath foi incluída.

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA - CRÍTICA


“Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos tudo para não viver inteiramente como animais”. A frase é dita pela Mulher do Médico, no livro Ensaio Sobre a Cegueira, que chegou aos cinemas em 2008 pelas mãos de Fernando Meirelles.

Considerado “infilmável” pelo próprio José Saramago, autor da obra premiada com o Nobel, o livro sempre foi objeto de desejo de Meirelles, diretor de Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel (filmes também baseados em literatura). Porém, ao seguir um roteiro fiel, e utilizar alguns truques criativos, como o excesso da cor branca – créditos do diretor de fotografia César Charlone – e os desenquadramentos, Fernando Meirelles conseguiu superar as barreiras da adaptação e entregou uma pequena obra-prima.

Filmado em São Paulo, Montevidéu e Montreal, a produção de 25 milhões de dólares é considerada pequena para os portes hollywoodianos (mas astronômica para os padrões brasileiros). No entanto, Meirelles conseguiu reunir um elenco estelar: Julianne Moore, Danny Glover, Gael García Bernal, Mark Ruffalo e Alice Braga.


A história é um alerta para a fraqueza humana: uma cidade é contagiada por uma cegueira inexplicável, fazendo as pessoas enxergarem apenas branco (diferentemente de uma cegueira normal, onde tudo fica preto). Na tentativa de conter a epidemia, as autoridades trancafiam os cegos em um manicômio. Através dos olhos da personagem de Julianne Moore, única pessoa a enxergar, somos apresentados à decadência da sociedade. Grupos autoritários se formam, e as pessoas vão abandonando sua humanidade, ao ignorar conceitos básicos de higiene ou respeito às outras pessoas, situação que alcança o clímax nas tão polêmicas cenas dos estupros coletivos. 

PULP FICTION - CRÍTICA



Quentin Tarantino apareceu para o mundo em 1994 quando apresentou sua obra-prima, Pulp Fiction. Numa época na qual os estúdios gastavam milhões em efeitos especiais ou explosões e apelavam para heróis bonzinhos e politicamente corretos, o jovem diretor nos mostrou a vida de mafiosos, lutadores e assaltantes pela ótica mais indigesta possível: a violência crua e banal. Mas com diálogos inteligentes e uma narrativa não-linear, a violência se tornou cult, e o filme foi um sucesso.

Tarantino se tornou respeitado e famoso no circuito independente com seu filme anterior, o também ótimo Cães de Aluguel, e isso explica como conseguiu juntar num só filme Bruce Willis, Uma Thurman, John Travolta, Samuel L. Jackson e Tim Roth, estrelas suficiente para se fazer três filmes.

 Willis, que estava no auge da carreira, faz um boxeador que vê a chance de mudar de vida ao trapacear uma de suas lutas. Mas acaba se envolvendo com o chefão do crime Marcellus Wallace. Já Samuel L. Jackson, seu companheiro de Duro de Matar e Corpo Fechado, mata friamente seus inimigos como o assassino Jules Winfield. Mas não sem antes recitar uma passagem fictícia da bíblia.

Porém, quem realmente rouba a cena é John Travolta, que a cada filme se afundava mais na carreira, mas voltou com tudo com seu personagem Vicent Vega, um gângster viciado em heroína que se apaixona pela mulher de seu chefe, a bela Mia Wallace (Uma Thurman). A cena da dança dos dois é clássica e com certeza você já a viu pelo menos uma vez na vida.

O filme não segue uma linha narrativa normal (começo-meio-fim), o que pode confundir o público numa primeira olhada. Com diálogos rápidos e inteligentes, humor negro e violência explícita, Pulp Fiction ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original e foi indicado para Melhor Filme, Melhor Ator (John Travolta) e Melhor Ator Coadjuvante (Samuel L. Jackson). 

JEDICON


Sabres de luz vermelhos e azuis se digladiando, com seu inesquecível som próprio; naves espaciais cruzando todo o universo na velocidade da luz; um vilão de armadura negra e reluzente, apavorando os heróis com sua respiração ofegante e mecânica. Star Wars, ou melhor, Guerra nas Estrelas, não é apenas uma série de filmes de fantasia, lutas de espadas e batalhas aéreas.

Com seus seis filmes, a saga criada por George Lucas virou referência no cinema e na cultura pop ao abordar os principais elementos da cultura humana, como a luta do bem contra o mal, as consequências da exploração do poder, misticismo e religião, e os difíceis relacionamentos pessoais.


       Mesmo com mais de 30 anos de lançamento do primeiro filme, a mitologia ainda faz parte do consciente coletivo e está presente em nosso cotidiano: recentemente, sobre o caso de acusação de corrupção por parte de Paulinho, da Força Sindical, a revista Veja usou como manchete a frase: “O lado sombrio da Força”.
  
Desta forma, fica fácil entender porque a cada ano o Jedicon, uma convenção de fãs de Guerra nas Estrelas, cresce e ganha importância, como presenciei no dia 11 de outubro de 2009. Centenas de admiradores do universo de George Lucas se reuniram fantasiados de seus personagens preferidos e assistiram a palestras e pequenas esquetes teatrais. Mas não são apenas os fãs quem aproveitam esses encontros: lojas especializadas em brinquedos para adultos apresentam produtos que valem ouro, como uma miniatura da Millenium Falcon (a nave de Han Solo) a R$ 550, ou os capacetes de Stormtroopers (guardas do império) a R$ 700. Um esculturista colocou à venda um Mestre Yoda moldado em massa a meros R$ 1000. Mas nenhum brinquedo superou o mestre do mal, Darth Vader, de 30 centímetros de altura, mas com valor estratosférico: R$ 1.558, preço de outro mundo, de uma galáxia muito, muito distante.