terça-feira, 31 de maio de 2011

X-MEN: PRIMEIRA CLASSE - CRÍTICA

Novo filme sobre os mutantes volta no tempo, conta a origem do grupo e dá novo fôlego à franquia


Lançado no ano 2000, o filme X-Men marcou o retorno bem sucedido de personagens de histórias em quadrinhos (HQs) no cinema depois de resultados esquecíveis na década de 1980. Ao escolher um tom realista e sóbrio, o diretor Bryan Singer substituiu a fantasia de super-heróis por um filme de ficção científica e ditou o caminho a ser seguido pelas produções posteriores. No entanto, depois de uma ótima sequência, a franquia deu sinais de desgaste, primeiro com o terceiro capítulo, X-Men: O Confronto Final, dirigido por Brett Ratner após Singer abandonar o barco para comandar Superman – O Retorno. Depois foi a vez de X-Men Origens: Wolverine, uma produção cujos problemas nos bastidores entre diretor e o estúdio resultaram num produto que não agradou nem a crítica nem os fieis seguidores, e mostrou que a franquia necessitava urgentemente de uma revitalização. 
Assim como aconteceu com Batman, Homem-Aranha e até com 007, o caminho escolhido pelos estúdios para manter os mutantes vivos no cinema foi recomeçar tudo, contando a origem da equipe de super-heróis liderada por Charles Xavier, e o resultado é X-Men: Primeira Classe. Apesar da insegurança criada nos últimos meses por conta de sua problemática divulgação, com cartazes e pôsteres de qualidade questionável, esta nova produção surpreende e vai deixar os fãs mais tranquilos. Bryan Singer voltou como produtor e roteirista e a direção ficou a cargo de Matthew Vaughn, que já havia feito outra ótima adaptação de uma HQ: Kick-Ass - Quebrando Tudo.

A história agora se passa em 1963, quando Xavier (James McAvoy, de O Procurado) ainda é um jovem interessado em garotas e que acaba de concluir sua tese sobre mutação genética. Ele conhece Erik Lehnsherr (Michael Fassbender, de Bastardos Inglórios), rapaz sobrevivente do horror do holocausto cujo objetivo é caçar os nazistas que escaparam das punições e estão livres pelo mundo. Um dos grandes acertos de Vaughn foi deixar a dupla de atores compor seus personagens sem se prender às atuações de Patrick Stewart e Ian McKellen dos filmes anteriores, mostrando personalidades ainda em formação. Com isso, é divertido ver Charles usando um xaveco batido para conquistar moças e entrando na mente de pessoas sem permissão.

Mas é em Magneto que o roteiro volta seu foco, mostrando alguém que tenta fazer o certo por meio de ações violentas e poderosas, como se ele fosse um amálgama de Batman e Superman. Charles e Erik tornam-se amigos, mas com visões diferentes sobre o mundo, em lados opostos de um tabuleiro de xadrez. A dupla decide montar uma equipe de mutantes para combater Sebastian Shaw (Kevin Bacon), líder do Clube do Inferno, um grupo responsável pela “Crise dos Mísseis” em Cuba, quando o planeta quase virou cinzas durante a Guerra Fria.

O diretor Matthew Vaughn soube utilizar os efeitos a favor da história e dos personagens, e os fãs ficarão contentes: há um belo entrosamento na primeira equipe dos X-Men, com destaque para Jennifer Lawrence (indicada ao Oscar por Inverno da Alma), a futura inimiga Mística. Completam o time Fera (Nicholas Hoult), Destrutor (Lucas Till), Banshee (Caleb Landry Jones), Darwin (Edi Gathegi) e Angel (Zoe Kravitz). Do lado oposto, Bacon não decepciona como o principal vilão e January Jones vai arrancar suspiros do público masculino cada vez que aparecer seminua como Emma Frost. O Clube do Inferno ainda conta com Azazel (Jason Flemyng) e Maré Selvagem (Alex Gonzalez). E, como já foi divulgado, há uma participação especial de Wolverine.

X-Men: Primeira Classe continua a abordar o tema central do universo mutante, o preconceito e a intolerância. Professor Xavier e Magneto são a versão Martin Luther King e Malcolm X de nosso mundo e, não à toa, o filme abre e fecha com uma moeda. Os anos 60 e a injeção de diferentes personagens deram fôlego à série, que deve render uma nova trilogia (ao estilo Star Wars). Mas, curioso mesmo, é ver num filme tipicamente hollywoodiano os exércitos americano e soviético serem representados de forma idêntica e patética.
  


*Texto publicado no site Plugou.com.br

segunda-feira, 30 de maio de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

SE BEBER, NÃO CASE - PARTE II - CRÍTICA

 Las Vegas dá lugar à exótica Bangcoc em sequência similar ao filme anterior 

Algumas piadas são tão boas que continuam engraçadas mesmo quando contadas mais de uma vez. Nesse caso, a graça não está na surpresa, mas justamente porque você já sabe o que vai acontecer. É essa a aposta dos produtores de Se Beber, Não Case! – Parte II, sequência do filme que fez enorme sucesso de público e de crítica em 2009 ao mostrar três marmanjos tentando se recuperar de uma enorme ressaca após uma noite de bebedeira que deixaria Charlie Sheen com inveja.

Desta vez, Las Vegas é substituída por Bangcoc, capital da Tailândia, já que o dentista Stu (Ed Helms) decidiu se casar no país de origem de sua futura esposa Lauren (Jamie Chung). É claro que a simples despedida de solteiro sai do controle e dá espaço para novas situações constrangedoras, como uma tatuagem no rosto, dedos decepados, sexo não convencional e o sequestro de um monge.

Num momento em que o politicamente correto torna-se cada vez mais frequente não apenas no cinema, mas no dia a dia, o diretor Todd Phillips junta-se a Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos) e a Sacha Baron Cohen (Borat, Bruno) na produção de comédias escrachadas para o público adulto, com piadas polêmicas e escatalógicas – os irmãos Farrelly (Eu, Eu Mesmo e Irente) talvez não se enquadrem aqui porque buscam um público mais amplo).

“Quando um macaco belisca um pênis, isso é engraçado em qualquer língua”, diz Alan (Zach Galifianakis) numa cena. É mesmo. Phillips parece ter uma queda por animais: na produção anterior, um tigre é sedado; em Um Parto de Viagem, Robert Downey Jr. cospe na cara de um cachorro; aqui, o pequeno primata é traficante e viciado em cigarros. É muito ofensivo? Pois prepare-se para nus frontais de travestis e o cineasta Nick Cassavetes (Alpha Dog) tatuando uma criança (o papel seria de Mel Gibson, mas o astro foi substituído após suas recentes polêmicas envolvendo violência doméstica e racismo).

O longa é mais uma produção a trazer o novo modelo do herói cinematográfico americano: no lugar de valentões atléticos, os protagonistas são sujeitos deslocados, inteligentes porém com problemas de relacionamento (vide os recentes A Rede Social, Kick-Ass, Zumbilândia ou Juno. É o homem em xeque diante da própria masculinidade e seu papel na sociedade. Stu (Helms) é infeliz em sua vidinha normal e libera seu “dark side” nestas eventuais bebedeiras; Alan (Galifianakis) é extremamente infantilizado (beirando à deficiência mental) e tenta se espelhar no amigo Phil (Bradley Cooper) que, apesar de ser o bonitão da turma, envolve-se justamente com homens desajustados, o que reflete  sua própria personalidade. 
       Tirando a cena do quarto de hotel imundo e quente, que ironicamente remete à Apocalypse Now, esta “Parte II” não traz nenhuma novidade, seguindo uma estrutura tão parecida com a primeira parte que, se os personagens não fizessem citações a alguns acontecimentos do filme anterior, o longa poderia ser chamado de refilmagem, não de  sequência. Caso aconteça um terceiro filme, como o diretor já confirmou ter interesse em realizar dependendo do sucesso deste, o título pode sofrer daquele mesmo mal que acontece quando alguém vem nos contar uma piada que já conhecemos há algum tempo: ele pode ficar sem-graça.

*Texto publicado no site Pipoca Moderna.com.br

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PRIMEIRA FOTO DE BANE, UM DOS VILÕES DE BATMAN 3


Foi divulgada a primeira foto do vilão Bane, interpretado por Tom Hardy ("A Origem"). A foto apareceu por meio da campanha viral de The Dark Knight Rises: cada twitt com a hashtag #thefirerises ajudou a compor a imagem misteriosa. Veja no site oficial: www.thedarkknightrises.com/image

2012 parece tão distante...

CINEMA MUDO: OLD BOY

"Ria e o mundo rirá com você; chore, e chorará sozinho"

sexta-feira, 13 de maio de 2011

ENTREVISTA: REVISTA ZOOM MAGAZINE

            Tive o prazer de ser entrevistado pela revista Zoom Magazine por conta do meu livro, "12 de Setembro – O cinema hollywoodiano após os atentados terroristas que mudaram o mundo". A entrevista, feita pelo jornalista e crítico de cinema Eduardo Torelli, foi publicada na edição 124, página 56. 


Após conversar com tantos especialistas em cinema na preparação de seu livro, a que conclusão você chegou? O cinema americano realmente deu uma guinada à direita após o 11 de Setembro?
É difícil responder. Afinal, existe “lugar”, “instituição” ou “máquina de propaganda” (seja qual for a melhor definição) mais esquizofrênica que Hollywood? Confesso que minha primeira reação seria discordar. Durante minha pesquisa, percebi que muitos filmes passaram a abordar, em suas entrelinhas, alguns fenômenos que aconteciam em nossa realidade – como a indústria do medo criada por Bush. Quando vemos filmes como “Boa Noite e Boa Sorte”, os dois “Batman” de Christopher Nolan ou “A Vila”, vejo claramente produções com “toques” de esquerda, críticos à sensação de medo vivida pelos norte-americanos após o 11 de Setembro. Bush, a partir de 2004, passou a ser questionado pela nação, por conta do desastre econômico causado por sua política e pelo conflito, somado a um colapso no sistema  financeiro ( a “bolha” estourou no final de 2008). Dessa forma, foi fácil para Hollywood aceitar filmes “de esquerda” (provavelmente, “esquerda” não seja a denominação correta; melhor seria dizer “de oposição”). A quantidade de filmes que criticam o Governo Bush é enorme: “Team America”, “Borat”, “Munique”, “Cruzada”, “No Vale das Sombras”, “Syriana”, “V de Vingança”... Só para citar as produções abordadas no livro. A princípio, eu estava “quase” firme em minha posição de dizer: “não acho que Hollywood tenha dado uma guinada à direita após o 11/09; acho até que ficou mais de esquerda!” Mas aí veio o Oscar 2010 – e a casa caiu.

Como assim?
Ora, como explicar a estrondosa vitória de “Guerra ao Terror” sobre “Avatar”? Veja, nem estou dizendo que “Avatar” deveria ganhar o Oscar. Mas dentro do jogo hollywoodiano, “Avatar” teria tudo para levar as estatuetas: cinema-clichê, história heroica, sucesso de bilheteria e revolução tecnológica – que, para o bem ou para o mal, vai ajudar Hollywood a faturar mais alguns milhões nos próximos anos. Mas, então, por que “Avatar” teria levado uma surra de “Guerra ao Terror”? Ao menos na categoria Melhor Diretor, seria mais compreensível se a estatueta tivesse ido para James Cameron, por conta do desenvolvimento de novas tecnologias cinematográficas; se não ele, talvez para Quentin Tarantino – que nunca levou o prêmio. Mas foi para Katheryn Bigelow, de “Guerra ao Terror”. Alguns articulistas apontaram que a disputa entre os dois filmes foi puramente ideológica: enquanto “Avatar” seria claramente um libelo antiamericano,  “Guerra ao Terror” oferecia a visão estadunidense, trazendo, como heróis, os soldados americanos. Como compreender isso? Depois de alguns anos produzindo filmes relativamente interessantes, com alto teor crítico à doutrina Bush – e por extensão, ao pensamento “de direita” –, Hollywood parece, de fato, ter voltado a flertar com essa tendência política.

Que filmes e seriados encamparam abertamente a visão “direitista” pós-11 de Setembro?
É preciso entender que Hollywood sempre flertou com a ideia do “inimigo externo”: índios, nazistas, soviéticos, latinos... Todos tiveram sua “fase de ouro”. Com os terroristas fundamentalistas islâmicos não seria diferente. É o que se nota em bobeiras como “O Reino”, ou em “O Traidor”; e mesmo no ótimo “Rede de Mentiras”. O que é mais interessante é que essas produções apresentam uma pseudocrítica à “Guerra ao Terror”, embora reforcem a Doutrina Bush justamente ao estabelecer como vilões aqueles que o “presidente cowboy” demonizava. É óbvio: uma ação terrorista é um crime, um pecado, e jamais deve ser defendida. Mas esses filmes – assim como o de Bigelow – mostram apenas a visão americana sobre a guerra e colocam os soldados ianques como vítimas. Pouquíssimos filmes mostram as consequências da política externa estadunidense, sua influência econômica em países produtores de petróleo ou portadores de recursos naturais etc., como acontece, por exemplo, em “Syriana”. Também há o caso de “24 Horas”. Veja bem, sou fã da série, adoro a complexidade do personagem Jack Bauer, mas é impossível negar sua visão bushiniana sobre a “Guerra ao Terror”. A primeira temporada foi filmada antes do 11/09 e abordava um terrorismo mais “brando”, sobre as tentativas de assassinato a um senador. Já a partir da segunda temporada – após os atentados da Al-Qaida – todas as histórias envolviam a paranoia do medo, da destruição em massa, das bombas nucleares e das armas biológicas... e Jack Bauer torturava e matava sob a justificativa de agir por um “bem maior”. Mas quando digo que Hollywood é esquizofrênica, este julgamento deve ser estendido às séries: se “24 Horas” pode ser visto como uma “propaganda de direita”, também foi uma série que colocou, como presidente dos EUA, um negro, anos antes da Era Obama. Também mostrou uma mulher na Casa Branca. E instituiu um presidente como vilão em uma das temporadas.

É mesmo possível passar recados políticos através de filmes assumidamente fantasiosos, como os da série Batman?
Sim, penso que sim. Ainda que nem sempre o público capte essa mensagem de imediato. Tenho certeza que pouquíssimas pessoas fizeram a ligação entre “Batman Begins” e o estado de medo vivido pelos norte-americanos. O Coringa de “O Cavaleiro das Trevas” é um verdadeiro terrorista: explode um hospital, a delegacia, os prédios que matam a mocinha e dão origem ao Duas-Caras... Enquanto isso, Batman quebra pernas, tortura criminosos, joga-os de prédios para obter informações... Analogias perfeitas para a situação de Guantánamo, Abu Ghraib e o Ato Patriota. Gosto de pensar que, se cientistas e pesquisadores afirmam que filmes violentos incitam os jovens a serem violentos, “Avatar” poderia influenciar milhões de crianças e adolescentes a se tornarem ecologicamente responsáveis. Ora, o nazismo fez do cinema um veículo de propaganda. Os EUA também, justificando a II Guerra Mundial por meio de filmes – há até um desenho do Pato Donald que denuncia a crueldade nazista! No entanto, se semiólogos, filósofos e psicólogos de diversas escolas científicas não entram em acordo sobre a verdadeira influência cultural e o poder dos meios midiáticos, a minha é apenas “outra” opinião. Nesse âmbito, o caso que acho mais interessante é o do filme “A Vila”, de M. Night Shyamalan. É uma metáfora quase explícita à Doutrina Bush: um vilarejo controlado por meia dúzia de líderes através do medo. A população, no filme, teme criaturas que não existem – assim como, na América do período, os eleitores temiam novos atentados.

Hollywood toma posições políticas por acreditar em ideologias ou apenas para lucrar com as ideologias que fazem a cabeça do povo?
Como disse, acho que Hollywood é esquizofrênica. Afinal, é construída por pessoas, algumas “de esquerda” e outras “de direita”. É óbvio que o intuito é ganhar dinheiro, mas acho que muitos produtores, diretores e atores também estão interessados em passar mensagens políticas. “Munique” jamais foi feito para ganhar dinheiro: é um filme de Steven Spielberg, mas é sombrio, triste e com uma posição política muito definida (“violência não combate a violência”). Não foi feito para ganhar dinheiro, não é “divertido” e nem teve divulgação (o diretor fez questão de não participar da campanha de marketing). “Boa Noite e Boa Sorte” foi feito em preto e branco e é totalmente “democrata”. O que se deve entender é que Hollywood é uma indústria e, como tal, tem a finalidade de ganhar milhões. É normal, portanto, que a produção de filmes “sopre” para o lado que está ventando, apesar do comprometimento de certos indivíduos em posições-chave com doutrinas liberais ou conservadoras. 

GANDALF PREFERE O 3D


       O diretor Peter Jackson publicou uma foto do ator Ian McKellen caracterizado como Gandalf durante uma pausa nas gravações de “O Hobbit”, adaptação do livro homônimo de J.R.R. Tolkien.

       A história se passa algumas décadas antes dos eventos da trilogia “O Senhor dos Anéis”, quando o hobbit Bilbo Bolseiro (desta vez, interpretado por Martin Freeeman) passa a integrar o grupo de anões que decide ir à Montanha Solitária recuperar o tesouro roubado pelo dragão Smaug.

É nessa aventura que Bilbo encontra Gollum (Andy Serkis) e, meio na trapaça, adquire o Anel do Poder.

       Além das muitas caras novas, por conta do grupo de anões, grande parte do elenco da trilogia comandada por Peter Jackson deve retornar, caso de Elijah Wood (Frodo), Orlando Bloom (Legolas), Cate Blanchett (Galadriel) e Hugo Weaving (Lorde Elrond).  Ian Holm, o Bilbo Bolseiro das produções anteriores, também deve fazer uma participação especial.

       Como a própria foto já mostra, o filme está sendo rodado em 3D e será dividido em duas partes, com estreia apenas em dezembro de 2012 e dezembro de 2013. 

quarta-feira, 11 de maio de 2011

AVES DE VERÃO - CRÍTICA


Veterano do mundo dos documentários, o cineasta Paul Riniker faz uma bela estreia na ficção com o filme “Aves de Verão” (Sommervögel), produção vencedora do prêmio de público do principal festival da Suíça deste ano e que poderá ser vista no 2º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, realizado no CineSESC e no Centro Cultural Banco do Brasil (em São Paulo) entre os dias 13 e 22 de maio.

Na primeira cena do longa, Greta, uma mulher de 33 anos com deficiência mental, olha insistentemente para o interior de um inseto. É o convite do diretor para repetirmos o ato – no caso, olharmos para nós mesmos. A história se passa num camping restrito, formado por famílias que procuram viver uma vida sossegada, quase como uma sociedade alternativa. Após passar um tempo na prisão por ter matado um homem, Res (Roeland Wiesnekker) chega ao acampamento e consegue emprego como zelador. Seu passado obscuro e seu jeito rústico (era integrante de um motoclube) causam estranheza nos moradores, mas chama a atenção de Greta (a belíssima Sabine Timoteo).
 
De personalidade agressiva, Res tenta afastar a mulher, que se apaixona por ele e quer, a todo custo, uma aproximação do zelador. Com o tempo, forma-se uma relação de amizade entre os dois que passa a incomodar tanto os moradores do local quanto a família da deficiente. Apesar de ser sua primeira ficção, Rinike já trabalha com cinema há 30 anos e mostra segurança tanto na escolha das tomadas quanto na direção dos atores. Roeland Wiesnekker transmite carisma no papel de um homem que já teve uma vida conturbada, mas que, agora, procura sossego e redenção, e Sabine Timoteo não faz feio na sempre difícil missão de interpretar alguém com deficiência mental. A moça procura fugir do clichê e consegue arrancar risadas com algumas situações.

Mas é o tom do filme sua maior qualidade. Rinike trata com delicadeza o romance do casal, permitindo que cada personagem evolua e cresça em cena, só para, então, mostrar a possibilidade de uma união. O diretor não se preocupa em acelerar o tempo e deixa que as nuances falem pelo filme, como a transformação do trailer de Res ou a metáfora sobre seu hobby: consertar coisas. No fundo, “Aves de Verão” se trata de preconceito, seja ele contra deficientes mentais, ex-presidiários ou homossexuais. E mostra que, mais difícil do que enfrentar os julgamentos dos outros, é superar o próprio preconceito.
 *Texto publicado no site CinemaNaRede.com

quinta-feira, 5 de maio de 2011

VELOZES E FURIOSOS 5 - CRÍTICA

          Em 2001, o filme “Velozes e Furiosos” trazia a estrela em ascensão Vin Diesel como anti-herói, muita ação com cenas de corridas e o glamour dos carros “tunados”. Apesar do sucesso nas bilheterias, a franquia foi irregular – a sequência imediata não tinha o principal protagonista e o terceiro capítulo se passava no Japão, ignorando os filmes anteriores (exceto pela participação especial de Diesel). Quando a série parecia estar definhando, os produtores resolveram resgatar o elenco original para a quarta parte, o que ressuscitou o título e garantiu o quinto filme, “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio” (Fast Five), que estreia este mês de maio nos cinemas nacionais.

A preocupação dos produtores em agradar aos fãs e manter a milionária franquia viva foi tão grande que eles trouxeram para esta sequência personagens de todos os filmes anteriores. Além do trio original, composto por Vin Diesel, Paul Walker e Jordana Brewster, voltam Tyrese Gibson, Sung Kang, Chris “Ludacris” Bridges, Matt Schulze, Gal Gadot, Tego Calderón e Don Omar, além de três novidades: o português Joaquim de Almeida, a espanhola Elsa Pataky e Dwayne “The Rock” Johnson.
 
Com tantos personagens em cena, a solução do roteirista Chris Thompson e do diretor Justin Lin (ambos à frente da série desde o terceiro capítulo) pode, curiosamente, incomodar alguns fãs: este é o filme com menos cenas de perseguições automobilísticas de toda a franquia. O que não quer dizer necessariamente que não haja ação.
 
O longa-metragem se “passa” quase que inteiramente na cidade do Rio de Janeiro (a grande maioria das cenas, na verdade, foram filmadas em Porto Rico). Após ser resgatado de um ônibus que transportava prisioneiros pela irmã Mia (Brewster) e pelo ex-policial Brian O’Conner (Walker), o ladrão Dominic Toretto (Diesel) e sua turma decidem se esconder no Brasil, em alguma favela carioca (é curioso pensar que os filmes hollywoodianos sempre mostraram o Rio como rota de fuga de criminosos, mas dando a ideia de que a cidade era um paraíso tropical. Desde o filme “Cidade de Deus”, no entanto, as favelas transformaram-se em ótimos esconderijos – “O Incrível Hulk”, de 2009, também levou Bruce Banner a refugiar-se na periferia da cidade).

A falta de grana leva Dom a aceitar um trabalho de roubo de carros de luxo durante um trem em movimento. Algo dá errado e ele descobre que acabou tomando posse de algo que pertence ao mais poderoso criminoso de colarinho branco do Rio de Janeiro, Hernan Reis (Almeida). O personagem de Diesel descobre que, se conseguir roubar a fortuna do chefão do crime, irá conquistar sua liberdade. E é aqui que “Velozes 5” muda o tom radicalmente em comparação com as produções anteriores, trocando as famosas corridas de carros imponentes por uma trama de assalto a um cofre com um estilo muito, mas muito semelhante a “Onze Homens e um Segredo” (2001).  

A forma como o Rio de Janeiro foi retratado – uma cidade dominada por uma polícia completamente corrupta – não deve incomodar os brasileiros depois do sucesso de “Tropa de Elite” e, tirando um ou outro erro bobo (como a cena do grupo de elite do exército estadunidense subindo tranquilamente o morro dominado por traficantes ou a deseducativa aula sobre a colonização do Brasil), “Velozes 5” não mostra o país exótico de outras produções hollywoodianas, com macacos pelas ruas e topless na praia. Já é um avanço.

A entrada de Dwayne Johnson injetou novo combustível à franquia e, aqui, faz jus ao apelido “The Rock”, utilizado na época de lutador profissional. Com um porte físico enorme, Dwayne interpreta o agente federal Luke Hobbs, encarregado de prender e levar Dominic de volta aos Estados Unidos. Protagonista e antagonista rivalizam em massa muscular e é curioso assistir aos dois atores, que já foram chamados de “herdeiros” do espaço deixado por Arnold Schwarzenegger, enfrentarem-se na porrada.

A quantidade de atores em cena exigiu a mudança de foco dos carros para os personagens, e as atuações não correspondem – e o roteiro não colabora, com diálogos bem fraquinhos. Mas é a falta de verossimilhança que poderia ser considerada o pior defeito de “Velozes 5”. Cada cena de ação vem acompanhada de uma situação impossível, quase surreal, e os personagens mais parecem super-heróis dotados de superpoderes: eles saltam de um carro em queda livre, pulam de barraco em barraco sem se ferir, jamais são atingidos pelas munições...

Para se ter uma ideia, a conclusão do roubo orquestrado por Dom e O’Conner destrói metade do Rio de Janeiro. São tantos despropósitos que as cenas poderiam causar risos involuntários, mas o público (e a crítica) dos EUA nem ligou e injetou cerca de US$ 83 milhões só no final de semana de estreia, garantindo um sexto filme para a franquia (como a cena pós-crédito deixa claro).

Uma dica, então, para aproveitar bem “Velozes e Furiosos 5”: desligue o cérebro, ignore os sotaques equivocados e não ligue para o que aprendeu nas aulas de História do Brasil e sobre as Leis da Física. Desta forma, você pode até se divertir ao assistir a um racha ao som de “Vai, popuzada”.

  Texto publicado no site PipocaModerna.com.br


CAMINHO DA LIBERDADE - CRÍTICA


Peter Weir escolhe a dedo seus projetos, mesmo que essa atitude resulte em intervalos longos entre um trabalho e outro – seu último filme foi “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo”, em 2003. O cuidado que o cineasta dispensa à suas produções, no entanto, costuma gerar obras marcantes e, consequentemente, indicações à premiação para melhor direção no Oscar, caso de “A Testemunha” (1985), “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) e “O Show de Truman” (1998), além da dezena de indicações pela aventura do capitão de um navio de guerra, interpretado por Russel Crowe, em batalha contra o exército napoleônico e contra a fúria do mar.

O diretor volta a colocar o homem enfrentando a natureza no filme “Caminho da Liberdade”, sobre um grupo de fugitivos de uma das “gulags” – as prisões com trabalhos forçados da antiga União Soviética. Para recuperar a liberdade e fugir das péssimas condições em que estão submetidos, sete prisioneiros caminharam por cerca de quatro mil quilômetros, indo da Sibéria, cruzando a Mongólia e a China até a Índia. Durante o longo e sacrificante percurso, foi preciso lutar contra a fome, a sede, o cansaço, e os dois extremos climáticos: as tempestades de neve e o calor dos desertos. A história é inspirada no livro “The Long Walk: The True Story of a Trek to Freedon”, do polonês Slavomir Rawicz.
 
“Caminho da Liberdade” não se trata, no entanto, de uma aventura – pelo contrário. Peter Weir criou um filme de contemplação, no qual os destaques vão para as paisagens: não à toa, o longa-metragem é uma produção da National Geografic. Mas isso não significa que os personagens fiquem em segundo plano, principalmente porque o elenco é de primeira: Jim Sturgees (que deve ganhar o grande público em breve, quando estrear “One Day”, romance com Anne Hathaway), Ed Harris (“Pollock”), Colin Farrell (“Por Um Fio”), Mark Strong (“Kick-Ass”) e Saoirse Ronan (a garotinha de “Um Olhar do Paraíso”, hoje já nem tão garotinha assim).

Weir gasta alguns minutos iniciais do filme para deixar claro que a corajosa decisão de cruzar o continente asiático foi menos uma atitude heroica e mais uma questão de sobrevivência, mesmo. Na prisão siberiana do regime de Stálin, as condições eram desumanas, equivalentes aos campos de concentração nazistas. Presos políticos e criminosos violentos dividiam o mesmo espaço, passando fome e frio. Um dos prisioneiros, liderados pelo personagem de Sturgees, reúne um grupo e escapa em meio a uma nevasca. Daí para frente, Weir permite que, pouco a pouco, cada ator explore de forma intensa seus personagens, que serão colocados em situações extremas. Ao mesmo tempo, o diretor usa as belíssimas imagens das gigantescas paisagens para estabelecer o lugar do homem no mundo.

A produção poderia ser uns minutinhos mais curta já que o longo trajeto perde um pouco de sua força no terceiro ato e, em parte, isso é culpa de Colin Farrell, que rouba a cena desde a primeira vez em que aparece. Seu personagem, o assassino russo Valka, é extremamente interessante e complexo: se, aparentemente, ele se mostra frio e individualista, vamos acompanhando sua transformação pessoal ao longo da viagem, e o ator irlandês entrega com força sua interpretação (aliás, Farrell sempre vai bem quando retrata sujeitos atormentados). Quando seu personagem sai de cena, no meio do caminho, o trajeto parece ficar um pouco mais cansativo tanto do lado de lá quando do de cá.


 *Texto publicado no site www.Plugou.com.br