sábado, 30 de abril de 2011

REENCONTRANDO A FELICIDADE - CRÍTICA


A dor da perda de um filho tem presença constante no cinema, seja em produções memoráveis, como o desesperador “Anticristo” (de Lars von Trier) e o belo “O Quarto do Filho” (do italiano Nanni Moretti), ou em filmes esquecíveis, caso de “Provocação” (de Tod Williams) e do recente drama nacional “As Mães de Chico Xavier”. Não é à toa: pode parecer senso comum, mas o sentimento de tristeza pela morte de um descendente é inconsolável e pode ser observado, inclusive, na natureza, entre os animais: é nossa missão instintiva perpetuar a espécie.

É com muita competência que trata desse assunto o filme “Rabbit Hole” (toca do coelho, em referência ao livro “Alice no País das Maravilhas”), de John Cameron Mitchell (“Shortbus”), que recebeu o inapropriado título nacional deReencontrando a Felicidade”. Inapropriado porque, mais do que a própria felicidade, Becca e Howie Corbett buscam voltar ao eixo de suas vidas após o filho de quatro anos morrer atropelado em frente à sua residência, num bairro suburbano e chique.
 Becca, personagem que rendeu a Nicole Kidman uma indicação ao Oscar 2011, tenta se recuperar do trauma apagando da memória toda e qualquer lembrança do garoto, seja doando as roupas da criança ou oferecendo a casa à venda. Seu marido, por outro lado, acredita que é preciso seguir em frente sem se esquecer do rebento, por isso assiste diariamente aos vídeos caseiros nos quais o menino aparece e se recusa a retirar a cadeira infantil no banco de trás do carro.

Não há qualquer química entre Kidman e Aaron Eckhart, mas aqui isso é uma qualidade, não um defeito, já que, durante os oito meses de luto, criou-se uma densa barreira entre os dois. Eckhart, sempre competente, compõem um homem que tenta se mostrar forte, mas são pelos detalhes que vemos que ainda não se recuperou do trauma. Nicole Kidman despe-se da maquiagem de musa do cinema para enriquecer sua personagem (ainda que suas intervenções cirúrgicas incomodem), uma mãe que assume que não consegue aceitar a morte do filho e não encontra paz nem em casa nem em sua família – momentos que traz ótimas participações de Dianne Wiest e Tammy Blanchard.

O diretor John Cameron Mitchell foge dos clichês dramáticos ao oferecer surpresas na narrativa, jogando pistas falsas ao espectador o tempo todo. Para cada elemento novo que entra na trama – baseada numa peça teatral do roteirista David Lindsay-Abaire –, descobrimos uma nova interpretação dos fatos e sentimentos, o que permite, inclusive, alguns risos durante a projeção. Mas é a questão da culpa a força do filme, ainda que apareça de forma sutil. Num acidente, de quem é a culpa? Do esquilo, que saiu correndo? Do cachorro, que perseguiu o esquilo? Da criança, que correu atrás do cachorro? Do pai, que esqueceu de prender o cão? Da mãe, que não viu a criança ir para a rua? De Deus? Do motorista, que dirigia velozmente? Mas, se o carro estivesse mais rápido ou mais devagar, teria atropelado a criança?

“Reencontrando a Felicidade” não se trata de “destino”, mas de tentar entender que, para cada coisa que aconteceu, milhares de outras deixaram de acontecer, como sugere o livro “Universos Paralelos”, lido por um dos personagens. Só que não temos a mesma sorte de “Alice”, que pôde entrar na toca do coelho, viver outras realidades e voltar em segurança para casa. Na vida, é preciso levantar a cabeça e seguir em frente.

*Texto publicado no site www.CinemaNaRede.com.br 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

BRÓDER - CRÍTICA


A câmera persegue desesperadamente três garotos que correm por entre as vielas e corredores estreitos do Capão Redondo. No entanto, aqui, eles não estão fugindo da polícia ou de traficantes. Trata-se de uma brincadeira, uma disputa para ver quem chega primeiro ao local combinado. É com essa visão carinhosa da periferia como extensão da casa e um lugar acolhedor que trata “Bróder”, ótima estreia de Jeferson De na direção de um longa-metragem.

Após passar por diversos festivais, a produção chega ao circuito comercial e dá novo fôlego ao cinema nacional ao mostrar a periferia com os olhos de alguém de dentro, fugindo um pouco do óbvio e dos temas batidos que foram se acumulando nos últimos anos.

Na história, três amigos de infância se reencontram depois de um período de distanciamento: Pibe (Sílvio Guindane) decidiu sair do Capão Redondo e se tornou corretor de imóveis, mas passa por problemas financeiros; Jaiminho (Jonathan Haagensen) virou jogador de futebol na Espanha e promessa de futuro craque da seleção brasileira; Macu (Caio Blat) continuou no bairro e está prestes a entrar no mundo do crime ao aceitar que sua casa seja o cativeiro para uma criança que será sequestrada.

Os três decidem aproveitar a festa de aniversário de Macu para reforçar a amizade e passar o dia juntos passeando pelo bairro no qual cresceram, mas a coisa complica quando os traficantes da área decidem aproveitar a passagem de Jaiminho para sequestrá-lo. É nessa hora que Macu precisará decidir qual atitude tomar: proteger o amigo ao custo de comprar uma dívida com os criminosos ou usar a situação como prova de sua coragem para entrar no grupo dos traficantes.
 
“Bróder” é cheio de acertos, a começar pela escolha do Capão Redondo como locação. O bairro da Zona Sul da capital paulista não é apenas um ambiente para a história, mas um personagem do filme, além de servir como microuniverso do Brasil das contradições e das facetas multiculturais. As situações mostram que Jeferson De tem muito mais dor de cabeça do que Spike Lee na hora de fazer críticas sociais e raciais. E a família de Macu mais uma vez mostra o homem da casa como um elemento fraco, simbolizando a ausência do Estado – uma metáfora frequente no cinema nacional.

Mas a interessante história (elaborada por Jeferson De em parceria com Newton Cannito), o olhar diferenciado e os belos planos e enquadramentos não seriam suficientes para sustentar o filme se não houvesse uma perfeita química entre os atores, e o elenco não decepciona. Além da sempre competente Cássia Kiss, que interpreta a sofrida Dona Sônia, mãe de Macu, e Aílton Graça, no papel do padrasto inseguro e alcoólatra, Bróder funciona por conta de sua trinca de protagonistas.

 A sintonia entre os três é evidente e os atores nos fazem acreditar que são realmente amigos de infância. Guindane traz em seu semblante as incertezas de alguém que ainda está descobrindo na pele as dificuldades da vida adulta – e sem dinheiro. Haagensen é o jovem que acabou de ficar rico, mas que não esquece suas origens. Ele troca a comida de restaurantes chiques pela feijoada da madrinha, e sua felicidade em estar no bairro natal é expressa pelo carisma e sorriso de Haagensen.

Inevitavelmente, é Caio Blat quem mais chama a atenção e mais uma vez ele entrega uma interpretação memorável (como já havia feito em “Batismo de Sangue”, por exemplo). O ator desaparece sob a pele de Macu, seja no linguajar carregado de gírias, seja na malemolência do andar ou no semblante fechado e agressivo. Macu é mais um desses milhões de jovens que são tragados pela violência, não por status, nem porque ele é naturalmente mau, mas simplesmente porque suas opções tornam-se a cada dia mais raras e porque o crime faz parte de seu cotidiano.

Como o próprio diretor brinca, Bróder é sobre a família do Zé Pequeno (personagem do filme “Cidade de Deus”), é sobre como esses garotos se tornam “Zé Pequenos” diariamente. Aliás, há outro paralelo entre o filme de Jeferson De e de Fernando Meirelles: é em Bróder que conhecemos o verdadeiro “Trio Ternura”. 

   CURISOSIDADE: Caio Blat incorporou com tanta eficácia o personagem Macu que ele chegou a ser expulso de um restaurante, durante a pausa das filmagens. O segurança do estabelecimento achou que ele queria roubar o local.


*Texto publicado no site www.Plugou.com.br

quarta-feira, 20 de abril de 2011

RICKY - CRÍTICA


Adaptação da novela inglesa “Moth”, de Rose Tremain, “Ricky” finalmente chega aos cinemas brasileiros (a produção é de 2009). Escrito e dirigido por François Ozon (“O Amor em Cinco Tempos”, “Swimming Pool”), “Ricky” conta a história de uma desestruturada família suburbana na França que vive uma situação fantástica quando o bebê que dá nome ao filme desenvolve asas e passa a voar pela casa.

O diretor francês é experiente em retratar personagens femininas (como se pode ver em “Angel” ou “Oito Mulheres”) e esse cuidado fica evidente ao apresentar Katie (Alexandra Lamy), mãe solteira que precisa segurar as pontas para criar Lisa (Mélusine Mayance), sua filha de sete anos. Carente e depressiva, a mulher trabalha numa fábrica e não parece ter muitos planos para seu futuro, enquanto a garotinha amadurece precocemente ao sentir que não pertence a uma família “normal”.

Ozon cria um clima de extremo naturalismo no primeiro ato, seja na falta de maquiagem e sensualidade de Katie, ou nas questões sociais implícitas, como o ambiente fabril, o bairro periférico onde mora a protagonista e até mesmo a imigração, quando a mulher conhece o espanhol Paco (Sergi López), um colega de trabalho. Não há romantismo nem glamour no casal, que transa no banheiro da fábrica cinco minutos após se conhecer.
 
Esse clima de naturalismo vai aos poucos cedendo lugar à fantasia quando duas asas crescem nas costas do bebê Ricky, filho do casal. O clima surreal de um neném voador serve como válvula de escape para o drama dentro da casa: para a pequena Lisa, Paco não parece poder substituir o pai, que a abandonou anos atrás. Sua mãe também não tem lhe dado a devida atenção depois que passou a namorar o espanhol e ter outro filho. Já Katie, além dos problemas financeiros, volta a ser mãe solteira após acusar Paco de maltratar o bebê.

Essa alternância de tensão familiar e momentos de comicidade com o desenvolvimento dos cotos e primeiros voos de Ricky pontuam a proposta de Ozon em brincar com as sensações do telespectador: na fase pré-penugem, as asas da criança lembravam a de um frango – que, minutos antes, Lisa saboreou no almoço –, o que causa uma certa repulsa. Já os passeios aéreos do bebê são dúbios: podem ser considerados tão engraçados quanto tensos. Basta se perguntar: a cena no parque é triste ou traz alívio?
  
O realismo fantástico de “Ricky” não procura dar explicações, como mostra o misterioso prólogo, mas ficam evidentes algumas pistas dadas por Ozon, principalmente quando a pequena Lisa está em cena. Só faltou um pouco de cuidado com os efeitos especiais, mas nada que estrague este interessante filme.

*Texto publicado no site www.CinemaNaRede.com

sábado, 16 de abril de 2011

HOMENS E DEUSES - CRÍTICA


Em 1996, sete monges trapistas franceses que viviam num mosteiro na cidade de Tibhirine, na Argélia, foram sequestrados e, dias depois, assassinados. O acontecimento causou incômodo na comunidade internacional, criando um desgaste entre o país africano e a França, já que a morte dos religiosos nunca foi completamente esclarecida (sabe-se que o rapto foi feito por um grupo islâmico jihadista, porém as condições das execuções ainda trazem dúvidas, inclusive com teorias sobre a morte dos frades ser responsabilidade do exército argelino, num ataque acidental).

 A história dos monges finalmente chega aos cinemas pelas mãos de Xavier Beauvois no filme “Homens e Deuses” (“Des hommes et des dieux”), selecionado como candidato oficial da França ao Oscar 2011, mas que, infelizmente, nem chegou a concorrer à estatueta. Escrito pelo próprio Beauvois em parceria com Etienne Comar, o longa não está interessado em mostrar a morte dos frades, mas suas vidas e a decisão de continuar naquele local mesmo com o risco que corriam.

 No mundo pós-11 de Setembro, em que a discussão sobre tolerância religiosa e radicalismo está em pauta, “Homens e Deuses” trata de assuntos completamente atuais, como o uso ou não da burca (em abril, entrou em vigor na França a proibição do véu que cobre o rosto das mulheres). É possível encontrar também, em suas camadas, uma discussão sobre relações econômicas, políticas e sociais entre os países de Primeiro e de Terceiro Mundo.

Liderados por Christian (Lambert Wilson, o Merovingian, de “Matrix Reloaded”), o grupo de monges convivem em harmonia com a comunidade muçulmana que mora ao redor do mosteiro – e que na verdade surgiu justamente por conta dele. Abandonados pelo estado, os moradores buscam entre os trapistas a ajuda para suprir suas necessidades básicas, como alimentação, vestuário, tratamentos médicos e medicamentos. E a vida dentro do mosteiro também se mostra harmônica: estudos religiosos (inclusive do Corão), plantação própria e rituais diários, como os cânticos católicos.

O clima de paz acaba quando trabalhadores estrangeiros são degolados há alguns quilômetros dali por um grupo radical islâmico que começa a dominar e aterrorizar a região. A invasão ao mosteiro anuncia-se inevitável e o governo argelino oferece proteção militar – prontamente recusada por Christian, por se tratar de um local de paz, onde a entrada de armas é proibida. A partir deste momento, Xavier Beauvois nos apresenta cada monge com suas dúvidas e medos sobre o destino que os espera, diferente de mostrar um grupo de idealistas corajosos e confiantes (e aqui vale um aplauso para cada um dos atores que integra o grupo: Michael Lonsdale, Olivier Rabourdin, Philippe Laudenbach, Jacques Herlin, Loïc Pichon, Xavier Maly, Jean-Marie Frin e Farid Larbi). Eles precisam decidir se vão embora, abandonando a população local e entrando em contradição com os próprios dogmas ou se ficam para cumprir sua missão religiosa de ajudar e proteger o próximo, ainda que essa decisão possa custar-lhes a vida. O diretor pinta personagens reais, que não são e não pretendem ser mártires; são velhos, cansados e que não querem morrer pelas facas de loucos. Enfim, humanos.

Mas Beauvois vai mais fundo e insere outras questões como as consequências geopolíticas dos anos 80 e 90. Os frades são franceses – um país que colonizou, explorou e abandonou a Argélia. O diretor também não tem dúvidas em mostrar que o radicalismo islâmico é ignorante – a cena em que os jihadistas invadem o mosteiro procurando pelo papa e os momentos em que Christian cita o Corão representam a diferença entre um grupo e outro –, mas uma pergunta fica no ar: até onde foi eficaz o assistencialismo social dos monges? E qual é a função religiosa do grupo? É curioso observar que, apesar de estar presente no cotidiano da comunidade, o grupo sempre aparece estudando sozinho os ensinamentos católicos, afastado da comunidade que o rodeia.

É perceptível, também, a equivalência na qual são colocados o exército argelino e o grupo jihadista: ambos sempre aparecem na tela por meio de um corte seco e barulhento, causando susto e quebrando o ritmo de paz. Beauvois também deixa claro que o militar que caça terroristas é tão radical quanto seus inimigos religiosos. 

Mas, se ainda resta alguma dúvida sobre a qualidade cinematográfica de “Homens e Deuses”, a homenagem à pintura “A Última Ceia”, de Leonardo daVinci, dá conta do recado. Apoiada pela música “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky, a cena é um daqueles raros momentos em que o cinema se comunica com o espectador. Tanto os personagens quanto quem assiste ao filme sabe o destino que os espera. Resta apenas aproveitar os minutos finais, com um nó na garganta, um sorriso contido no canto da boca e uma lágrima presa aos olhos.


*Texto publicado no site www.ArteView.com

quinta-feira, 14 de abril de 2011

NANA CAYMMI EM RIO SONATA - CRÍTICA


Depois do documentário "Música é Perfume" (2005), sobre Maria Bethânia, o cineasta suíço Georges Gachot volta sua lente para outra musa da música popular brasileira, Nana Caymmi. Filha de Dorival Caymmi, Nana é o exemplo perfeito de uma cantora que alcançou respeito e admiração em todo o cenário musical nacional, porém nunca foi, efetivamente, uma artista da grande massa. É irônico que sua bela e poderosa voz já foi ouvida por diversas vezes e por todo o país, principalmente quando algumas de suas músicas foram temas das novelas globais, no entanto ela andaria como anônima pelas ruas, diferente de suas colegas cantoras.

Nana Caymmi em Rio Soneto” tem a função de resgatar a importância da artista, em tom de reverência, mesmo. Diferente de produções que tentam humanizar uma personalidade, o documentário de Gachot faz um resgate de sua trajetória e busca por meio de depoimentos de artistas consagrados (como o ex-marido Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Donato, Erasmo Carlos e Bethânia) situar Nana em condição de diva – ainda que haja momentos de simplicidade, como nas cenas de jogo de baralho ou quando ela brinca com a própria idade.

O grande problema do filme está justamente nos depoimentos que, ao longo de 84 minutos, parecem se repetir. A experiência só não se torna cansativa porque o longa é recheado de canções de Nana, seja em estúdio ou em apresentações ao vivo, desde as imagens de arquivo do Festival da Música Brasileira, de 1967, ao lado de Gil, e a performance com o mestre Tom Jobim em 1971, até aparições mais recentes, como na grandiosa interpretação da música “Atrás da Porta”, de Chico Buarque e Francis Hime.  


        As belas imagens do Rio de Janeiro servem como cenário para as canções tristes de Nana e como metáfora sobre a própria cantora. Diferente da ensolarada Cidade Maravilhosa, o Rio do filme é cinzento, chuvoso e encoberto de neblina, escondendo seus principais cartões postais. Num mesmo paralelo, Nana sempre fugiu de movimentos e modismos musicais, buscando uma coerência na carreira – o que, talvez, tenha lhe custado um reconhecimento popular maior.


*Texto publicado no site www.CinemanaRede.com

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O FEITIÇO DO RIO - REPORTAGEM

 A cidade carioca volta a ser cenário de diversos filmes estrangeiros; o problema é a manutenção dos estereótipos e clichês sobre o brasileiro



Rio”, dirigida por Carlos Saldanha (da cinessérie “A Era do Gelo”) é só mais uma grande produção dessa recente safra hollywoodiana a transformar o Rio de Janeiro em cenário cinematográfico. Além da animação sobre a ararinha azul enviada à Cidade Maravilhosa para dar continuidade à própria espécie, o quinto filme da franquia “Velozes e Furiosos” também terá o Pão de Açúcar e o Corcovado como paisagem. “Amanhecer” – a primeira parte do capítulo final da “Saga Crepúsculo” – teve cenas rodadas no município de Paraty e no bairro da Lapa, na capital fluminense, e o próximo trabalho de Samuel L. Jackson, o thriller “The Samaritan”, também terá filmagens no Rio de Janeiro. E notícias sobre o interesse de Woody Allen em filmar na praia de Copacabana e a possibilidade de o Rio entrar na “franquia das cidades do amor” (“Nova York, Eu Te Amo” e “Paris, Eu Te Amo”) volta e meia aparecem como quase certo na mídia.



 “Estamos passando ao mundo a imagem de que o Rio é uma cidade de cinema, seja no sentido figurado, seja no literal”, explicou ao Valor Econômico o presidente da RioFilme Sérgio Sá Leitão. De fato, Hollywood está de olho no Rio de Janeiro não é de hoje, já que, em 2009, a estátua do Cristo Redentor foi destruída pelo apocalíptico “2012”, do também apocalíptico Roland Emmerich (“O Dia Depois de Amanhã”, “Godzilla”, “Independence Day”). Em 2009, “O Incrível Hulk” teve filmagens na favela Tavares Bastos, que simulou a Rocinha. Na história, Bruce Banner vem ao Brasil atrás de ervas medicinais que o ajudariam a encontrar sua cura e decide morar na favela para se esconder do exército estadunidense. O diretor Louis Leterrier, em entrevista ao Omelete, conta sua surpresa ao fazer o reconhecimento da locação: “Achei que fosse me deparar com lixo por todos os lados, fezes, sei lá. Mas é muito limpo. Eles têm TV a cabo! É uma loucura e servia aos nossos propósitos de ter um lugar em que ele (o personagem de Edward Norton) pudesse sumir”.


Leve um macaco para casa
Leterrier precisou convencer a Marvel Studios de que seria seguro filmar no Brasil, até porque a imagem de nosso país lá fora nem sempre foi veiculada de forma benéfica, caso do polêmico filme “Turistas” (2006), no qual jovens estrangeiros são assassinados por uma gangue especializada em roubar órgãos humanos. Sobre o lançamento da animação “Rio”, que traz uma visão completamente positiva da cidade (ainda que toque em assuntos como o tráfico de animais e corrupção), o presidente da Rio Film Commission Steve Solot comenta a virada da imagem do Rio de Janeiro no cinema. “O filme marcará uma nova visão global da cidade, o que facilmente ofuscará impressões negativas do passado. E ainda fará mais: tocará todas as gerações, inspirando-as a descobrir a cidade por si mesmos.” É claro que nem todos ficaram tocados por filmar na Cidade Maravilhosa. Perguntado sobre o que achou de filmar “Os Mercenários” no Brasil, o astro Sylvester Stallone respondeu: “Você pode explodir as coisas por lá, fazer churrasco de toda uma vila e no fim do dia eles vêm te agradecer e te dar um macaco para levar para casa”. O comentário rendeu pesadas críticas no Twitter e fez o eterno Rambo se retratar oficialmente. A favela de Tavares Bastos e a cidade fluminense de Mangaratiba serviram de locação para um fictício país latinoamericano no filme de Stalone.

O fato de o Rio de Janeiro voltar a ser desejado pelo cinema internacional pode ser explicado por diversas formas. Nos últimos dez anos, o Brasil ganhou importância política e econômica, ao integrar o “Bric” – o bloco de nações emergentes, formado ao lado de Rússia, Índia e China. Não à toa, foi escolhido o país sede da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio. A descoberta do pré-sal coloca o país entre os grandes produtores de petróleo e o episódio diplomático sobre a crise nuclear no Irã, intermediada pelo Brasil e pela Turquia, peitou as grandes potências mundiais. Em março, o presidente Barack Obama foi ao Rio de Janeiro, visitou o Cristo Redentor, fez embaixadinhas, assistiu uma roda de capoeira, visitou uma favela, ganhou uma camisa do Flamengo e discursou no Theatro Municipal sobre a importância de uma parceria de igual para igual com o Brasil nas questões econômicas e políticas.

Paralelamente, o cinema nacional também deu preferência à capital fluminense e, desde a retomada, três filmes de grande sucesso internacional se passavam no Rio: “Central do Brasil”, de Walter Salles, ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim em 1998 e levou a atriz Fernanda Montenegro ao tapete vermelho do Oscar. Fernando Meirelles dividiu opiniões com “Cidade de Deus”, hoje presente nas listas de melhores filmes no mundo todo. E “Tropa de Elite”, de José Padilha, também foi o grande vencedor do Urso de Ouro, na 58ª edição da Berlinale.


O Feitiço do Rio
Em 2002, o desenho “Os Simpsons” causou uma enorme polêmica no episódio em que a família amarela vem ao Rio de Janeiro ajudar uma criança carente. Macacos atacando as pessoas na rua, sequestro relâmpago, apresentadoras televisivas infantis hipersexys, libertinagem entre os moradores e erros geográficos causaram revoltas no governo brasileiro (na época, Fernando Henrique Cardoso), que exigiu um pedido de desculpas. O episódio, de fato, ironiza os problemas brasileiros e até inventa situações absurdas, mas também critica ferozmente a ignorância estadunidense – como é típico do desenho. Seu título, “Feitiço de Lisa” (“Blame it on Lisa”) faz referência ao filme “Feitiço do Rio” (“Blame it on Rio”), de 1984, estrelado por Michael Caine e pela Demi Moore em início de carreira.
 
Dirigido pela lenda Stanley Donen (de “Cantando na Chuva”), a produção é uma refilmagem do francês “Un moment D'Egarement” (1977) e traz uma série de clichês e estereótipos, distorcendo a realidade carioca: as mulheres fazem topless na praia, as pessoas caminham na areia com seus macacos de estimação, outros carregam um tucano no ombro, as mulheres estão sempre dispostas a fazer sexo e o casamento tem rituais umbandistas. É o que também acontece em “Orquídea Selvagem” (1990), no qual Mickey Rourke, Jacqueline Bisset e Carré Otis encontram muita lambada, sexo e um Rio de Janeiro com fortes características baianas. Ambos os filmes são estudados no documentário “Olhar Estrangeiro”, dirigido por Lúcia Murat (“Quase Dois Irmãos”) a partir do livro “O Brasil dos Gringos”, de Tunico Amâncio. Lúcia entrevista (e põem na parede) alguns dos produtores e atores que participaram desse tipo de filmes, como o próprio Michael Caine e os roteiristas de “Feitiço do Rio” Charlie Peters e Larry Gelbart, e o diretor de “Orquídea Selvagem” Zalman King.

 A lista de produções estrangeiras que se passam no Rio de Janeiro é enorme, indo desde “Alô Amigos”, de 1942 (quando surgiu o personagem Zé Carioca), passando por clássicos como “Interlúdio”, de Alfred Hitchcock" (1946) e “Orfeu Negro”, de Marcel Camus (1959), até produções esquecidas (e esquecíveis), como “Si Tu Vas à Rio Tu Meurs” (“No Rio Vale Tudo”, 1987), de Philippe Clair, ou “Brenda Starr” (1989), de Robert Ellis Miller. Até o agente secreto James Bond “passeou” pelo Bondinho e fez parecer que a cidade carioca, as Cataratas do Iguaçu e a Amazônia são vizinhas no vergonhoso “007 Contra o Foguete da Morte” (1979). Além de outras 40 produções nas quais os bandidos fogem para o Brasil, de preferência para o Rio.

O clichê como crítica do clichê
Mas o Rio irreal pode estar com os dias contados, já que a própria indústria cinematográfica está de olho no potencial econômico das bilheterias brasileiras (e latinoamericanas) e o Brasil deixou de ser o distante país exótico do Terceiro Mundo e passou a ser um dos protagonistas da nova ordem mundial. Isso já pode ser observado num blockbuster como “O Incrível Hulk”, no qual a ambientação na favela é mais realista e menos romântica, ou na própria animação “Rio”, que, dirigida por um brasileiro, traz também os conterrâneos Sérgio Mendes, Bebel Gilberto e Carlinhos Brown para a trilha sonora – substituindo, assim, a infame chance de ouvirmos alguma lambada ou cha cha cha (ainda que a produção peque por manter alguns clichês, como animais inexistentes na fauna brasileira).

Já na produção franco-brasileira “Rio Sex Comedy”, o diretor Jonathan Nossiter (do documentário “Mondovino”) utiliza-se de todos os clichês já usados anteriormente para criticar justamente a distorcida visão estrangeira sobre o Rio de Janeiro e seu cotidiano. Desta forma, índios andando pelas ruas, muito sexo, a diferença entre ricos e pobres, tudo passa pela comédia politicamente incorreta de Nossiter, um norte-americano criado na Europa e com cidadania e família brasileira.  

Em 2011, a escola de samba Salgueiro apresentou o tema “O Rio no Cinema”, relembrando a importância histórica da cidade na cinematografia nacional e mesclando símbolos clássicos de Hollywood e da antiga capital brasileira, como o Homem-Aranha lutando contra o mosquito da dengue e o King Kong subindo no relógio da Central do Brasil. No último carro alegórico, o tão sonhado Oscar brasileiro tocando pandeiro e usando chapéu de sambista. Se o Rio de Janeiro e o Brasil estão na moda, não seria estranho se o cinema nacional finalmente conquistar, nos próximos anos, a estatueta dourada.

COBERTURA: LÊ PRA MIM?


“LÊ PRA MIM?” ACONTECE AOS FINAIS DE SEMANA
 Projeto traz celebridades para ler livros para crianças; evento acontece no Museu da Língua Portuguesa


Leitura com muita diversão. Essa é a proposta do projeto “Lê Pra Mim?”, que teve início no dia 02 e continuará nos próximos finais de semana de abril no Museu da Língua Portuguesa. Criado pela atriz e produtora de teatro Sônia de Paula, o evento traz grandes nomes da literatura e da dramaturgia para fazer pequenas leituras de histórias para as crianças.

“Este projeto é uma sementinha que estamos plantando nesta geração para incentivá-los à leitura”, explicou Sônia, a idealizadora do “Lê Pra Mim?” – que já passou pelo Rio de Janeiro e pela Bahia. Para abrir as apresentações em São Paulo, estiveram presentes o escritor de livros infanto-juvenis Pedro Bandeira, a atriz Etty Fraser e a jornalista Marília Gabriela.

Com seu humor característico, Pedro Bandeira interpretou uma das aventuras do folclórico personagem Pedro Malasartes, fazendo as crianças rirem a cada verso citado. “Estou muito entusiasmado com o projeto, afinal quem não gosta de ouvir histórias? A criança pode estar assistindo à TV, estar na internet ou jogando videogame, mas se o pai ou a mãe disser que tem uma história para contar, elas param na hora para ouvir”, comentou o autor, com exclusividade para o ArteView.

A atriz Etty Fraser concluiu as apresentações na parte da manhã lendo uma obra do próprio Pedro Bandeira, o livro “O Velhinho Entalado na Chaminé”. Na parte da tarde, a entrevistadora Marília Gabriela leu para as crianças o livro “Barrinho, O Menino de Barro”, de Mabel Velloso. A atual apresentadora do programa “Roda Viva”, que diz ter ganhado muitos livros na infância, explica sua participação no projeto: “Acho importante tentar manter na era digital, na era da internet, o interesse em ainda buscar as próprias imagens, em perceber os sons das palavras e tudo o que elas significam, e ainda ter o colinho da mãe, do pai ou de algum parente para ouvir uma história”.

 Antes das rápidas leituras, as crianças também aprendem conceitos básicos de reciclagem e coleta seletiva do lixo e, ao término do evento, todos levam para casa um livro de presente. Para os próximos finais de semana, está prevista a participação de celebridades como Adriana Lessa, Gabriela Duarte, Marisa Orth e Eliana. A entrada é gratuita e as senhas são distribuídas com uma hora de antecedência.


“Lê Pra Mim?”
Sábados e domingos do mês de abril, às 11h e às 16h.
Museu da Língua Portuguesa

*Texto publicado no site www.ArteView.com.br

quarta-feira, 6 de abril de 2011

CONTRACORRENTE - CRÍTICA


É bastante raro uma produção peruana chegar ao circuito comercial brasileiro – geralmente só acontece quando o filme conquista prêmios internacionais, como foi com “La Teta Assustada”, de Claudia Llosa. Desta forma, vale a pena conferir o longa-metragem “Contracorrente”, que finalmente chega por aqui, até porque a obra tem uma premissa que homenageia o clássico livro de Jorge AmadoDona Flor e Seus Dois Maridos”, de 1966, posteriormente adaptado para o cinema por Bruno Barreto.

Num vilarejo do litoral peruano, o pescador Miguel (Cristian Mercado) está prestes a se tornar pai, porém mantém um relacionamento amoroso secreto com Santiago (Manolo Cardona), um fotógrafo forasteiro que passou a viver no local. Um incidente, no entanto, causa a morte do fotógrafo e seu espírito ficará preso à vila até que seu corpo seja velado como dita as tradições religiosas da comunidade. 

Filme de estreia de Javier Fuentes-León, autor também do roteiro, “Contracorrente” discute com muita sensibilidade e naturalidade as dificuldades da aceitação pessoal e coletiva sobre a homossexualidade. Apaixonado por sua esposa e respeitado entre os colegas, Miguel não vê a si próprio como bissexual, apesar de ser claro o amor e desejo que sente por Santiago. Como apenas o pescador enxerga o espírito de seu amado, ele finalmente sente-se confortável em andar de mãos dadas em público e é perceptível que este é um dos momentos mais felizes de sua vida. Vale ressaltar, aqui, a belíssima interpretação de Cristian Mercado e Manolo Cardona.

A possível descoberta sobre o relacionamento homossexual de Miguel e as consequências que este fato podem causar na comunidade vão de encontro com o título da antiga novela brasileira “Direito de Amar”, assistida pelos moradores. Um direito que está em discussão em todo o mundo, inclusive entre os governos sulamericanos. Enquanto países como a Argentina já legalizaram a união civil homossexual, o Brasil não conseguem sequer criminalizar a homofobia. “Contracorrente” pode contribuir para o debate.
                                                 




CURIOSIDADE
Ciente das semelhanças de seu filme com a obra de Jorge Amado, o diretor Javier Fuentes-León fez uma homenagem dando o nome de Dona Flor à tia do protagonista. 




*Texto publicado no site www.ArteView.com.br

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O CINEMA E O LIXO - REPORTAGEM

O candidato ao Oscar “Lixo Extraordinário” é mais um filme a tocar num assunto emergente: o lixo

Vencedor de prêmios em importantes festivais internacionais e indicado ao Oscar 2011 de Melhor Documentário, "Lixo Extraordinário" (dirigido por João Jardim, Lucy Walker e Karen Harley) é mais uma produção a abordar um problema para qual a sociedade costuma fechar os olhos: para onde vai o lixo depois que você o coloca na rua para ser recolhido? E, mais importante: quem são e como vivem as pessoas que buscam a sobrevivência nos lixões e aterros sanitários? O assunto tem aparecido com bastante frequência no cinema.
 
Talvez a referência mais óbvia seja o documentário “Estamira” (2004), de Marcos Prado. Filmado no mesmo lixão de Gramacho, no Rio de Janeiro – onde foi realizado “Lixo Extraordinário” –, o filme acompanha por dois anos a rotina de uma senhora esquizofrênica de 63 anos que vive da coleta de materiais em meio às montanhas de lixo. Repleto de cenas poéticas, o documentário mostra uma mulher de personalidade forte e que alterna alucinações e questionamentos sobre os problemas da sociedade, com inteligentes críticas ao sistema político e educacional, por exemplo.

Crítico, mesmo, é o clássico curta-metragem “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado (de “O Homem que Copiava” e “Meu Tio Matou um Cara”). Produzido em 1989, o filme conta, com muita ironia e inteligência, a história de um tomate, desde sua plantação até chegar a um lixão de Porto Alegre. A acidez do texto ao criticar as relações humanas revela a triste história de pessoas que aguardam com ansiedade a oportunidade de procurar alimentos em meio ao lixo recusado pelos porcos. Apesar de ter sido feito há mais de duas décadas, (infelizmente) continua sendo um filme atual e urgente, e é muito assistido nas escolas de todo país.
 
Com muita crueza, “Boca de Lixo” (1992) também mostra a vida de pessoas que tentam sobreviver em meio a um lixão em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Mas, aqui, Eduardo Coutinho (“Jogo de Cena”, “Edifício Master”) não busca imagens poéticas ou metafóricas: sua câmera é documental, incisiva e incômoda. “Que é que vocês ganham com isso? Pra ficar botando esse negócio na nossa cara?”, reclama um dos garotos filmados no lixão.

Documentários sobre o tema não são exclusividade brasileira. Há produções estrangeiras que também estão discutindo o problema, como o curioso “Garbage Warrior” (“O Guerreiro do Lixo”), de 2008. O filme apresenta o projeto do arquiteto Michael Reynolds, que propõe construir casas com pneus velhos, latas de alumínio, garrafas plásticas e diversos outros materiais rejeitados pela sociedade. De acordo com Reynolds, dois problemas seriam resolvidos ao mesmo tempo: a questão da habitação, com a criação de moradias em escala mundial por um preço extremamente barato e, de quebra, seriam reutilizados milhões de quilos de “lixo”.
 
Já o documentário “Plastic Planet” (“Planeta Plástico”) toca num assunto que envolve interesses bilionários: a indústria do plástico. Produto derivado do petróleo, o material está presente no cotidiano de todos nós, desde o café da manhã até a hora de dormir. No entanto, o plástico leva meio milênio para se dissolver e ainda libera substâncias químicas cancerígenas. O alemão Werner Boot, diretor do filme e neto de um industrial do setor, viaja o mundo para conversar com especialistas e tentar fazer um alerta sobre a ameaça de um produto tão corriqueiro.

Mas não são apenas os documentários que abordam a urgência do problema do lixo. Quem não se emocionou com o romântico robozinho Wall-E (2008), abandonado num planeta Terra transformado em um imenso lixão? A animação da Pixar, premiada com o Oscar, não esconde sua mensagem ecológica e anticonsumista. O Brasil também tem filmes sobre o assunto, como o infantil “A Casa Verde” (2010). Dirigido por Paulo Nascimento, o longa-metragem traz uma garotinha lutando contra um homem malvado que impede a reciclagem, por ganhar dinheiro com o lixo. E o projeto All the Invisible Children” (“Crianças Invisíveis”), de 2005, contou com a participação de Kátia Lund, co-diretora de “Cidade de Deus”. Kátia dirigiu o curta “Bilú e João”, sobre duas crianças de rua que recolhem lixo para sobreviver. Os cineastas Spike Lee, Ridley Scott, Stefano Veneruso, Mehdi Charef, Emir Kusturica e Jordan Scott também participaram do filme.

Como se vê, há diversos filmes que procuram mostrar que o caminho do lixo vai muito além da nossa porta, enquanto pensamos que fizemos nossa parte ao simplesmente amarrar bem firme as sacolas plásticas. Diretores em todo o mundo tentam apontar os problemas gerados por nossa sociedade consumista, que adquire e descarta produtos numa velocidade incessante. Segundo Annie Leonard, ativista política e criadora do vídeo “A História das Coisas” (“The Story of Stuff”, disponível no Youtube), 99% de tudo o que compramos vão para o lixo em seis meses. Ou seja, é preciso mudar de atitude.

O cinema tem feito sua parte, produzindo filmes que tocam no assunto, apontam soluções e colaboram para a reciclagem de velhos pensamentos e hábitos.