sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Duncan Jones e seu "Contra o Tempo"


Em 2009, o filme de um cineasta iniciante fez muito barulho entre a crítica especializada, mas foi visto por pouquíssima gente no mundo todo. Trata-se de “Lunar”, um drama de ficção científica de baixíssimo orçamento estrelado por Sam Rockwell. Além da interessante abordagem existencialista e do questionamento sobre tecnologia e ética, o longa-metragem chamou a atenção por conta de seu idealizador, Duncan Jones, filho da lenda viva David Bowie.

Ao abordar uma questão filosófica de forma competente já em seu trabalho de estreia, o jovem diretor britânico chamou a atenção dos poderosos de Hollywood, como o cineasta Christopher Nolan (“O Cavaleiro das Trevas”), que o cogitou para a direção do novo filme do Superman, e o ator Jake Gyllenhaal, que lhe ofereceu o roteiro de “Contra o Tempo”, seu mais novo trabalho.
“Eu estava em Los Angeles apresentando ‘Lunar’ para a imprensa internacional e procurando pessoas com quem eu queria trabalhar e me encontrei com Jake, que falou ‘Por que você não dá uma olhada nisso? Acho que tem a sua cara’. Foi Jake quem viu as semelhanças entre ‘Contra o Tempo’ e ‘Lunar’”, explicou o diretor.

De fato, por ser uma ficção-científica que também aborda questões éticas, é possível fazer um paralelo entre os dois filmes. Em “Contra o Tempo”, Gyllenhaal interpreta Colter Stevens, um militar que é forçado a participar de um projeto secreto do exército americano cujo objetivo é impedir um ataque terrorista. Por meio de uma tecnologia especial, o sargento é enviado repetidas vezes à memória de um homem morto para descobrir quem é o responsável pelo atentado. O elenco é completado por Michelle Monaghan, Vera Farmiga e Jeffrey Wright.
Agora com um orçamento relativamente grande – cerca de US$ 30 milhões –, um astro conhecido do grande público e muitas cenas de ação, com direito a corre-corre e explosões, pode ficar a impressão que o jovem diretor rendeu-se à fórmula hollywoodiana, mas Jones, que cursou pós-graduação na Universidade de Vanderbilt, voltou a abordar um tema que lhe é caro. “Estudei filosofia sobre mente/corpo e como se poderia aplicar a ética em máquinas pensantes num potencial futuro, e minha abordagem ainda é maciçamente influenciada por esses anos”.

Mesmo que o filme não seja escrito por ele, como é o caso de “Contra o Tempo”, roteirizado por Ben Ripley. Ao focar-se apenas da direção dos atores e na condução da história, Jones pôde, inclusive, fazer pequenas alterações no texto, como a mudança de tom do filme, que ficou mais leve. “Originalmente, o roteiro era muito sério, como se fosse uma espécie de episódio de ‘24 Horas’ com ficção-científica”, brinca o diretor. “Quando você está trabalhando em seu próprio projeto, você se torna muito protetor da obra, como se ela fosse seu bebê, que você não quer modificar nada. Ao trabalhar no projeto de outra pessoa, você pode ser objetivo, verificar o que funciona e o que não funciona.”

Outra mudança importante foi a escolha da cidade onde se passa a história. Originalmente, seria em Nova York, mas os produtores acharam melhor mudar o cenário para Chicago por conta da questão do terrorismo. Pelo jeito, mesmo após uma década, o 11 de Setembro ainda é uma ferida aberta em Hollywood.

Mas a maior mudança pela qual passou Duncan Jones foi o tamanho da produção entre seu primeiro e seu segundo trabalho. Se em “Lunar” ele tinha a palavra final, já que se tratava de um filme de baixo orçamento, “Contra o Tempo” sempre foi vigiado por vários produtores durante o processo de filmagem. Não que isso tenha sido um problema para o diretor: antes de entrar no mundo do cinema, Jones havia trabalhado por muito tempo com publicidade, cuja relação entre clientes e produtores de audiovisual assemelha-se bastante. “Felizmente tive essa experiência na publicidade, onde cada filmagem realizada precisa ser explicada para o cliente sentir-se confortável. Tive apenas que mudar meu estado de espírito para algo diferente do que aconteceu em ‘Lunar’”.

Aparentemente, no entanto, Jones não conseguiu usar sua habilidade de negociação para conquistar a direção de “Superman – O Homem de Aço”, novo filme sobre o mais famoso super-herói das histórias em quadrinhos. Ele chegou a ingressar na seleta lista escolhida por Christopher Nolan, que produz o longa, e até teve uma reunião com o diretor de “A Origem”. “Foi assustador”, diverte-se, e confessa que gaguejou na hora de dizer “É muito bom conhecê-lo”. “Ele é um cara amável, muito inteligente. Conversamos sobre como foi fazer ‘Lunar’ e como foi fazer ‘Contra o Tempo’. Então ele me contou que foi parecido com o que aconteceu quando ele fez ‘Amnésia’ e ‘Insônia’ e falou sobre como é sair de pequenos filmes independentes para grandes produções.”
Como já se sabe, a direção do filme ficou a cargo de Zack Snyder (“300”, “Watchmen”), no entanto Jones garante que não ficou chateado por não ter sido escolhido. “Obviamente, teria sido fantástico ter tido essa chance. Mas acho que Snyder vai fazer algo visualmente espetacular”.

Se Jones não ficou com o filme do Superman, qual será seu novo trabalho? Apesar de não revelar o nome, ele já confirmou em diversas entrevistas que seu terceiro filme será outra ficção-científica, mais uma vez criada por ele, o que leva a crer que poderia ser, finalmente, “Mute” – uma história ambientada, segundo o próprio diretor, num mundo semelhante ao do clássico “Blade Runner”, de Ridley Scott. O cineasta já concluiu o roteiro, mas tem encontrado dificuldades para conseguir financiamento para o projeto. Tanto que “Mute” pode virar uma “grafic novel” antes de se tornar filme.

Mas Jones não pretende ficar apenas na ficção-científica. Após concluir seu ainda secreto terceiro filme, o filho de David Bowie deseja explorar novos gêneros. “Adorei o que Tarantino fez em ‘Bastardos Inglórios’. A ideia de caras em uma missão na Segunda Guerra Mundial... era como os tipos de filmes que eu amava. Adoraria fazer um filme de faroeste.”

Justin Timberlake e Mila Kunis, amiguinhos


“É como o comunismo: muito bom na teoria, mas não funciona na prática”. A comparação feita pela atriz Mila Kunis refere-se ao assunto proposto em seu mais novo filme, “Amizade Colorida” (Friends With Benefits), sobre um casal de amigos que tenta adicionar sexo sem estragar a relação. Justin Timberlake, seu companheiro de tela, concorda: “Não acho que isso seja um experimento de longa duração. Você quer ser promovido ou, em algum momento, será demitido”, brinca o ex-integrante do N’Sync.


O assunto, é claro, não é nenhuma novidade em Hollywood – “Sexo Sem Compromisso”, com Natalie Portman e Ashton Kutcher, esteve em cartaz recentemente –, mas a dupla tem reforçado durante as coletivas de imprensa que “Amizade Colorida” não é mais uma das milhares de histórias adocicadas que invadem os cinemas. “Nós sempre pensamos nele como uma comédia de amigos com um pouco de romance, em vez de uma comédia romântica estereotipada, afirma Mila. “É uma comédia adulta”, complementa Timberlake, “E acho isso raro, de certa forma. É um filme que conversa com minha geração. É sobre uma situação real, sobre a perspectiva de um homem e de uma mulher de idades semelhantes e suas visões do mundo”.

Os atores deixaram explícito o tom do filme na mais recente cerimônia do MTV Movie Awards, realizada em junho deste ano: durante a apresentação do premio de melhor performance masculina, Timberlake agarrou os seios de Mila, que não deixou por menos e apertou as partes íntimas do ator. A atitude dividiu opiniões, fazendo alguns rirem enquanto gerava controvérsia. Mila nem ligou: “Pensamos que seria hilariante e estávamos promovendo uma comédia para maiores”, explicou.

Mas a troca de carícias e o grau de intimidade e química entre os dois acabou gerando outro rumor: estariam eles namorando ou, assim como no filme, mantendo uma amizade colorida? As suspeitas aumentaram após fotos íntimas guardadas no celular roubado da atriz caírem na internet: nas imagens, Justin Timberlake aparece sem camisa e brincando com uma calcinha rosa, que seria de Mila. “É uma coisa lamentável que vem com as circunstâncias, mas não há qualquer verdade sobre isso”, defendeu-se, assim como defendeu o colega durante uma coletiva de imprensa em Moscou, quando uma jornalista perguntou em russo porque Timberlake está focando sua carreira no cinema e não mais na música.

Antes que o ator recebesse a tradução da frase, Mila, que é ucraniana e fala fluentemente o idioma de Lenin, retrucou: “Por que filme? Por que não? Que tipo de pergunta é essa? Por que você está aqui?”. Após compreender o acontecido, Timberlake brincou: “Ela é meu guarda-costas”. A amizade entre os dois reflete o bom momento que vivem em suas carreiras: Mila ganhou projeção mundial ao protagonizar uma cena de sexo com Natalie Portman em “Cisne Negro” (de Darren Aronofsky), enquanto Timberlake calou os mais ferrenhos críticos com sua interpretação de Sean Parker, criador do Napster, em “A Rede Social” (de David Fincher). Mas ambos percorreram caminhos bem diferentes até chegar a “Amizade Colorida”.

Mila vem realizando trabalhos em Hollywood há quase duas décadas em comerciais e séries televisivas e, aos 15 anos, foi selecionada para o elenco de “That '70s Show”, seriado também estrelado por Ashton Kutcher. Aos 16, tornou-se a voz de Meg Griffin, personagem do desenho animado “Family Guy”. No entanto, permaneceu por muito tempo ignorada pelo grande público. Por outro lado, Timberlake, aos 17 anos, já era um dos adolescentes mais conhecidos do mundo por integrar a “boy band” N’Sync, cujo álbum de estreia vendeu 11 milhões de cópias.

Após o declínio do grupo, Timberlake passou a investir no cinema e sua fama permitiu trabalhar ao lado de atores famosos como Morgan Freeman e Kevin Spacey em “Edison - Poder e Corrupção” (de David J. Burke), Bruce Willis em “Alpha Dog” (de Nick Cassavetes) e Jeff Bridges em “Um Caminho para Recomeçar” (de Michael Meredith). Já Mila, tirando sua rápida participação como a versão infantil da personagem interpretada por Angelina Jolie no telefilme “Gia - Fama e Destruição” (de Michael Cristofer), em 1998, participou de diversas produções sem expressão e notoriedade e só conquistou a atenção do público em 2008, ao lado de Mark Wahlberg na superprodução “Max Payne” (de John Moore), adaptação de um videogame. Dois anos depois, ela voltou a se destacar em “O Livro de Eli” (de Albert Hughes e Allen Hughes), protagonizado por Denzel Washington.

Se há alguma semelhança entre Timberlake e Mila, é o fato de terem namorado pessoas famosas. Ela, Macaulay Culkin. Ele, uma lista imensa que inclui Britney Spears e Cameron Diaz. Mas como já deixou bem claro, Mila não pretende ingressar no currículo do astro e espera que os dois continuem como colegas. “Eu não sou da escola de pensamento que acredita que os sexos opostos não podem ser amigos”. Com ou sem cor na amizade.

          “Amizade Colorida” é dirigida por Will Gluck e estreia no Brasil dia 30 de setembro.

O passado retorna em 3D


Considerado por muitos o novo processo evolutivo do cinema (como já havia acontecido décadas atrás com a inclusão do som e das cores), o 3D vinha sofrendo constantes ataques tanto por parte do público quanto da crítica. Diversos filmes que simulam as três dimensões começaram a apresentar bilheterias abaixo do esperado (em alguns casos, até inferior à cópia 2D) e as causas podem ser numeradas: saturação por parte dos espectadores, preço do ingresso mais elevado e, principalmente, a baixa qualidade de algumas conversões, feitas às pressas pelo estúdio apenas para arrecadar uns dólares a mais, como o exemplar caso de “Fúria de Titãs” (de 2010, dirigido por Louis Leterrier).

Mas o relançamento de “O Rei Leão”, animação de 1994 da Disney, deu novo fôlego ao 3D e apontou aos estúdios um novo caminho: a conversão de clássicos do cinema ao formato da estereoscopia. Isso porque o relançamento do desenho do leãozinho que conquistou o mundo 17 anos atrás custou 10 milhões de dólares e arrecadou US$ 30,2 milhões no final de semana em que voltou às salas de projeção nos Estados Unidos – o dobro do esperado pelo estúdio do Mickey Mouse. E o bom resultado foi além: com 10 dias em cartaz, “O Rei Leão 3D” já havia ultrapassado 60 milhões de dólares e manteve-se em primeiro lugar nas bilheterias pela segunda semana consecutiva, ficando à frente de quatro estreias de pesos pesados – “Moneyball” (com Brad Pitt), “Winter, O Golfinho” (com Morgan Freeman), “Sem Saída” (com Taylor Lautner, da “Saga Crepúsculo”) e “Os Especialistas” (com Robert De Niro, Clive Owen e Jason Statham).

“Qualquer dúvida que havia entre os estúdios para relançar ‘Titanic’ praticamente se evaporou no final de semana passado”, comemorou o cineasta James Cameron, hoje o maior porta-voz do 3D no cinema. Cameron está trabalhando com a 20th Century Fox e com a Paramount Pictures na conversão do filme de 1997, atualmente a segunda maior bilheteria da história, mas ele não está sozinho nessa empreitada. Os estúdios já acenderam o sinal verde e diversas produções já estão sendo cogitadas para um retorno no formato tridimensional, enquanto algumas obras já estão em estágio avançado de conversão, caso da saga “Star Wars”, de George Lucas, e “Top Gun”, de Tony Scott.

Um fator decisivo para esse novo fenômeno está na diminuição do custo de conversão dos filmes devido às constantes melhorias desenvolvidas nos softwares responsáveis pelo processo. Para se ter uma ideia, há um ano o custo de conversão de um longa-metragem de duas horas era próximo de 100 mil dólares por minuto; hoje, “Top Gun” está sendo convertido a um custo aproximado de US$ 25 mil por minuto.

Mas não é qualquer obra do vasto catálogo de Hollywood que deve ser simplesmente relançada em 3D. “Você precisa ser criterioso”, avisa Dave Hollis, diretor de distribuição da Disney. “Há uma lista de exigências a ser cumprida, é preciso verificar se há os ingredientes corretos: o filme foi um bom negócio na primeira vez que estreou? Passou o tempo necessário para uma geração que ficou de fora?”

É o caso de “O Rei Leão”, que saiu de cartaz há 17 anos, mas continuou próximo do público devido aos lançamentos em DVD, além de espetáculos frequentes em shows e peças teatrais. É, também, o caso de “Titanic”, que sempre esteve em evidência desde 1997. Além de possuir o maior número de Oscar (11 estatuetas, ao lado de “Ben-Hur” e “O Retorno do Rei”), o drama romântico estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet sustentava até o começo de 2010 o título de maior bilheteria da história do cinema – perdendo o posto para “Avatar”, também dirigido por James Cameron.

“Avatar”, aliás, exigiu o desenvolvimento de novas câmeras cinematográficas, específicas para a filmagem em 3D – uma façanha criada pela Cameron | Pace Group, empresa da qual o cineasta é co-presidente. Para a conversão de “Titanic” no novo formato, Cameron e os estúdios Fox e Paramount estão investindo US$ 18 milhões e um ano de atenção especial para que o trabalho fique o mais próximo da experiência de ter sido filmado em 3D, como ele gostaria. “Todos os meus objetivos, quando realizei o filme originalmente, serão alcançados com a conversão”, garante Cameron. “Eu queria levar o espectador a 1912. O 3D faz parecer mais real, mais visceral. O drama, o romance, o perigo, tudo isso será aumentado pelo 3D”. O relançamento de “Titanic” está marcado para abril de 2012, quando o naufrágio do navio completará um século.

Mas Cameron não acredita que as conversões em 3D devem limitar-se a lançamentos especiais ou comemorativos. “Todos aqueles títulos que estão em nossa biblioteca, as obras que amamos, seja ele ‘Tubarão’, ‘Star Wars’, o seu filme favorito pode e deve ser convertido”. Mas o diretor faz uma ressalva: “Mas é preciso fazer direito e os cineastas devem estar envolvidos”. Tony Scott está acompanhando de perto o trabalho realizado em “Top Gun”. George Lucas supervisiona há anos a conversão de sua saga em 3D, que voltará aos cinemas em fevereiro de 2012, começando por “Episódio I – A Ameaça Fantasma” (os demais títulos serão relançados nos anos seguintes).

Como se vê, os relançamentos de filmes convertidos em 3D podem até provocar discussões calorosas: é uma atitude oportunista dos estúdios? Falta de criatividade de Hollywood? Ou é a possibilidade dos mais velhos sentirem a nostalgia da infância ou adolescência, ao mesmo tempo em que os mais jovens têm a oportunidade de assistir a um clássico no cinema? Seja qual for a resposta, o fato é que os filmes em 3D são uma realidade. Mais real do que a sensação de tridimensionalidade proporcionada pelos óculos especiais.

Michael Jackson estava doente em “This Is It”


O diretor do documentário “This Is It”, que trabalhou intimamente com Michael Jackson em seus últimos dias de vida, fez revelações dramáticas sobre o estado de saúde do cantor para a Justiça americana. Kenny Ortega deu seu testemunho durante o julgamento do médico Conrad Murray, que é acusado de negligência e por ter supermedicado o astro até sua morte.


“Meu amigo não estava bem. Havia alguma coisa que o perturbava profundamente”, declarou Ortega à promotoria, na tarde de terça (27/9). Além de ter sido amigo pessoal do astro, Ortega acompanhou todos os preparativos para a última turnê de Jackson, cujos ensaios resultaram em “This Is It”, e foi a primeira testemunha chamada pela acusação.

Durante seu depoimento, O diretor afirmou que Michael chegou a ensaiar bem alguns dias antes de sua morte, mas sua saúde estava deteriorando visivelmente. “Ele não estava bem, parecia perdido e estava incoerente”.

O estado do cantor era tão assustador que Ortega chegou a enviar um email a Randy Phillips, promotor dos futuros shows, revelando sua preocupação. “Tudo em mim diz que ele deve ser avaliado psicologicamente”, informava a mensagem, que foi lida no tribunal. “Não há ninguém cuidando dele, assumindo essa responsabilidade. Hoje eu precisei alimentá-lo e o cobri com cobertores”.

Ortega revelou ainda que, cinco dias antes da tragédia, aconteceu uma reunião de urgência na casa de Jackson, com a presença a sua presença e a do médico. O diretor afirmou que chegou a receber uma bronca de Murray por suas constantes intervenções referentes ao estado físico e emocional do astro. “Ele disse que eu deveria parar de tentar ser médico e psicólogo amador e deixar a saúde de Michael com ele”.

Apesar das imagens de “This Is It” mostrarem um Michael Jackson cheio de energia e empolgado, ainda que muito magro, Kenny Ortega afirmou que o cantor faltou a vários ensaios e houve vezes em que ele precisou sair mais cedo por não se sentir bem.

Nos dias 23 e 24 de junho de 2009, Michael reapareceu revigorado nos ensaios. “Era um Michael diferente. Ele estava disposto e cheio de energia”, declarou. No dia 25 de junho, o cineasta recebeu uma ligação do produtor Paul Gongaware dizendo que o cantor havia sido levado para o hospital de ambulância. Momentos depois, o produtor retornou a ligação: “Nós o perdemos”, disse a Ortega.

Paul Gongaware, co-presidente da AEG Live (empresa que seria promotora da turnê), afirmou que o Dr. Conrad Murray foi contratado para cuidar da saúde de Michael Jackson por insistência do próprio astro. Gongaware revelou que o médico havia pedido inicialmente um salário de US$ 5 milhões por ano, porém as negociações abaixaram o valor para US$ 150 mil por mês.

Durante as declarações, os promotores de acusação divulgaram uma foto do corpo de Jackson no hospital e uma mensagem em áudio do cantor, cuja voz estava trêmula e arrastada. O Rei do Pop morreu devido a uma overdose de remédios no dia 25 de junho de 2009, enquanto se preparava para uma extensa turnê no Reino Unido com, no mínimo, 50 apresentações.

Murray é acusado de homicídio culposo por administrar uma dose fatal do anestésico Propofol, que teria causado a morte de Michael Jackson. Os advogados do médico afirmam que o cantor aplicou pessoalmente o remédio numa tentativa de diminuir a dor e o cansaço.

Paulette Dubost (1910 – 2011)

Faleceu no dia 21 de setembro a atriz francesa Paulette Dubost, que completaria 101 anos no dia 8 de outubro. A informação só foi confirmada por sua filha no dia 26/09.

Além de inúmeras participações em programas televisivos e peças teatrais, Paulette estrelou mais de 150 filmes, tendo sua despedida do cinema no curta-metragem de 2007 “Curriculum”, de Alexander Moix. O ponto alto de sua carreira aconteceu em 1939, sob a direção de Jean Renoir em “A Regra do Jogo” (La Du Jeu Règle), no qual interpretou a camareira Lisette, mas sua filmografia inclui obras de alguns dos maiores cineastas do cinema francês.

Filha de um engenheiro de gás e uma cantora, Paulette nasceu no dia 8 de outubro de 1910, em Paris, e iniciou cedo sua carreira nas artes: aos sete anos já se apresentava na Ópera da capital francesa e aos 17 ganhava destaque nos palcos e começava a chamar atenção dos produtores culturais.

Seu humor e sua inteligência logo foram parar nos cinemas e a estreia aconteceu em 1931 em “Le Bal”, de Wilhelm Thiele. Durante a década de 1930, Paulette estrelou diversas produções e esteve sob a direção de grandes nomes do cinema francês como Max Nosseck, em “Le Roi des Champs Elysées” (de 1934) – no qual atuou ao lado do astro Buster Keaton –, Jean de Limur, em “L'auberge du Petit-Dragon” (de 1934) e em “La Brigada en Jupons” (de 1936), e com Marcel Carné, em “Hotel do Norte” (Hôtel du Nord, de 1936).

Após a Segunda Guerra Mundial, Paulette passou a estrelar dezenas de produções, porém como coadjuvante, caso de “Quatro Num Jeep” (Die Vier im Jeep, de 1951), de Leopold Lindtberg, “As Festas do Coração” (La fête à Henriette, de 1959), de Julien Duvivier, “Le Déjeuner sur L'Herbe” (1959), de Jean Renoir e “Viva Maria!” (1965), de Louis Malle. Anos antes, a atriz havia chamado atenção por sua participação no segmento “Inveja” do filme “Os Sete Pecados Capitais” (Les Sept Péches Capitaux), filme dividido em capítulos e que contou com a direção de grandes cineastas como Jean-Luc Godard e Claude Chabrol.

Em 1980, atuou ao lado de Catherine Deneuve e Gérard Depardieu no longa “O Último Metrô” (Le Dernier Métro), dirigido por François Truffaut. Aos 80 anos, não possuía obviamente a alta produtividade da década de 1930 (quando chegou a estrelar mais de 10 filmes em 12 meses), mas manteve uma boa média de um trabalho por ano até 2000, quando a saúde começou a manifestar sinais de idade avançada.  


Paulette Dubost foi casada com André Ostertag de 1936 a 1944 e teve uma filha. Em 1992, ela publicou um livro de memórias com o curioso título “C'est Court La Vie” (“É Uma Vida Curta”, em tradução livre), mostrando que ainda queria muito mais.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

CONAN - O BÁRBARO - Crítica


Apesar do excesso de violência, novo “Conan” é inofensivo

Em 1982, Dino De Laurentiis contratou o cineasta John Milius para levar a história de Conan aos cinemas. A ideia do produtor italiano era que “Conan, o Bárbaro” tivesse um tom juvenil, porém Milius entregou uma obra violenta e sensual, que se tornou cult ao longo dos anos. Quase três décadas depois, o guerreiro cimério ganha outra adaptação cinematográfica homônima, mas agora o caminho se inverte. Há sangue, há seios à mostra, há cena de sexo e há mais sangue, mas o resultado é um filme esquecível e bobo.

E o maior defeito desta nova produção está justamente no que fez a fama do personagem criado por Robert E. Howard: o uso da violência. Ou melhor, o mau uso. Marcus Nispel aproveita a experiência adquirida nas refilmagens dos clássicos sangrentos “Sexta-Feira 13” e “O Massacre da Serra Elétrica” e não economiza nos litros de sangue e em cenas com membros ou cabeças decepadas. Mas há um problema: não há qualquer dramaticidade nos atos violentos, o que reduz sua importância ou simplesmente a banaliza.

Veja bem, não há qualquer implicação sobre o uso da violência como mero entretenimento: qualquer obra de QuentinTarantino é um exemplo disso. E é claro que não se espera um estudo sobre o assunto à la Michael Haneke num filme de Conan, mas quando um ato de brutalidade é filmado, ele deve causar impacto visual ou emocional.


Basta analisar a cena inicial, que mostra o nascimento do herói. Em pleno campo de batalha, uma mulher grávida é mortalmente ferida. Ela quer ver o filho antes de perecer, então seu marido (Ron Perlman) pega uma faca – ensanguentada, já que minutos antes foi utilizada em algum inimigo – e, com um golpe, realiza uma cesariana e extrai o bebê. É uma cena forte, ou ao menos deveria ser. No lugar de repulsa, é possível que arranque risos involuntários do público.

Esse é o tom do novo “Conan”, ignorar os personagens e partir logo para a espada na barriga. Talvez isso explique o porque do roteiro de Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer ser um “filme de origem” que não mostra a origem do protagonista. Do simbólico nascimento, a história avança alguns anos, mostrando o garoto com habilidades assassinas que presencia o massacre da comunidade e a morte do pai para, logo em seguida, fazer mais um grande salto no tempo e mostrar o protagonista já adulto e bárbaro assassino formado. A impressão que fica é que o importante sobre o herói está escondido justamente nestas elipses.

É engraçado pensar que os produtores acertaram no que seria mais difícil: quem substituiria Arnold Schwarzenegger no filme que o consagrou? A escolha por Jason Momoa é até óbvia após sua participação na minissérie televisiva “Game of Thrones”, já que seu Khal Drogo é uma versão genérica do bárbaro cimério. E o ator havaiano cumpre bem o papel, aliás dando a Conan uma personalidade mais próxima do imaginado por Howard: em vez do brucutu calado, um sujeito malandro e carismático.

Mas Momoa não é capaz de segurar o filme sozinho com uma história tão fraca, cujo prólogo lembra muito “O Senhor dos Anéis”. O guerreiro Khalar Zym (Stephen Lang, de “Avatar”) atravessa todo o continente Hiboriano massacrando aldeias e recuperando partes de uma máscara sagrada que, quando completa, lhe dará poderes místicos e permitirá ressuscitar sua esposa. Após chegar à idade adulta, Conan vê a oportunidade de vingar-se do vilão e de sua filha, a bruxa Marique (Rose McGowan, a garota com perna de metralhadora em “Planeta Terror”).

E é só isso. Uma história simples de vingança com cenas de ação mal elaboradas e uma edição repleta de cortes que não valoriza a estética dos combates. Para piorar, do segundo para o terceiro ato há a adição de um par romântico que quebra o clima, já que não há química entre Momoa e Rachel Nichols. Enfim, “Conan, o Bárbaro” “finge” ser transgressor. Entrega, de fato, os elementos que fizeram a mitologia criada por Howard: estão lá a brutalidade, a nudez e a magia. Mas é tudo tão frio quanto a espada do herói. 

 

Charly Braun - Entrevista


Além da Estrada, longa-metragem de estreia do diretor brasileiro Charly Braun, está estreando este final de semana no Brasil, após passagens com destaque no Festival do Rio em 2010 (onde levou o prêmio de Melhor Diretor) e no festival St. Petersburg International Kinoforum, na Rússia, este ano, em que conquistou o prêmio de Melhor Filme (júri popular). Leia a crítica do filme aqui.
Irmão da atriz Guilhermina Guinle, Charly Braun é formado em cinema pela Emerson College, de Boston, e passou um tempo em Hollywood para conhecer a indústria por dentro. Chamou a atenção em festivais com os curtas-metragens “Quero Ser Jack White” e “Do Mundo Não se Leva Nada” e dirigiu o making of de filmes nacionais como “O Cheiro do Ralo” e “Última Parada 174”.
Antes do surgimento do Youtube, realizou com o amigo espanhol, Matías Guisado o filme exclusivo para a internet “17 Life Fables” e teve o privilégio de contar com a participação da top model Naomi Campbell em seu longa-metragem de estreia.

O quanto de memórias pessoais estão impressas em “Além da Estrada”?
Muitas! De uma vida toda, misturadas na ficção.

Como foi a experiência de estrear em longas-metragens? Quais foram as maiores dificuldades?
O escopo de tudo é muito maior, portanto os desafios são todos maiores, mas no que se refere a contar uma história eu diria que a dificuldade não é muito maior do que com curtas. Contar uma história em 15 minutos é muito difícil também!

Quais foram os critérios para a escolha da dupla protagonista?
Procurei pessoas que trouxessem uma bagagem de vida interessante, que falassem línguas e tivessem um olhar curioso para o mundo.

Richard Linklater e seu “Antes do Amanhecer” é claramente uma referência, mas quais outras obras o influenciaram?
Vocês não são os primeiros a falar em Linklater, mas curiosamente nunca mais revi este filme desde o seu lançamento, há muitos anos atrás. Não houve nenhuma influência direta. Para falar a verdade foi tudo tão corrido até filmar que eu passei meses sem ver filme algum. Mas acho que as influências são todos os filmes de que gosto.

Como foi a participação da modelo Naomi Campbell no filme?
Absolutamente tranquila, ela foi muito gentil, falou durante uma hora para as câmeras, disse coisas muito interessantes, eu acabei usando apenas 2 minutos porque na trama não cabia mais.


domingo, 18 de setembro de 2011

Hollywood após 11 de Setembro


           Como Hollywood reagiu ao 11 de Setembro?

           É quase impossível ver as imagens dos aviões batendo contra as Torres Gêmeas do World Trade Center (WTC) em 11 de setembro de 2001, os prédios caindo e as pessoas nas ruas correndo desesperadamente, e não pensar num filme hollywoodiano. Vimos cenas semelhantes em centenas de produções anteriores, como Armaggedon, Independence Day e afins, nos quais a Casa Branca, a Estátua da Liberdade, as próprias torres do WTC eram destruídas seja por explosões, asteroides ou monstros. Mas aquilo tudo foi real e, pior, televisionado ao vivo. E foi mais terrível que qualquer roteiro que Hollywood pudesse conceber. Além das questões sobre quem seriam os responsáveis e de que forma o governo norte-americano responderia aos atentados, uma pergunta tomou conta de milhões de pessoas no mundo todo: como Hollywood reagiria ao 11 de Setembro de 2001?

  A resposta foi imediata. Em homenagem e respeito às vítimas dos ataques, nenhuma menção ao WTC seria feita pelos próximos meses. Desta forma, foi para o limbo o teaser trailer do primeiro filme do Homem-Aranha, que estava sendo exibido nas salas de cinemas: no vídeo, o herói pendurava numa teia gigante entre as Torres Gêmeas um helicóptero pilotado por assaltantes.


Da mesma forma, diversos filmes que estavam em produção sofreram modificações ou tiveram suas estreias adiadas por trazer algum conteúdo que pudesse remeter à recente tragédia. Assim, Efeito Colateral e Grande Problema chegaram aos cinemas muito depois do previsto por abordarem o terrorismo em sua história. Má Companhia e Homens de Preto II tiveram cenas refilmadas já que traziam o WTC como referência e até Gangues de Nova York precisou esperar alguns meses para estrear já que mostrava batalhas sangrentas no coração da Grande Maçã. Atitudes que, embora possam ser até questionáveis, são compreensivas, já que tratava-se de uma grande tragédia da história recente americana, mas houve também casos de exagero, como um grupo radical que exigia a mudança do título de As Duas Torres, segundo filme da trilogia de O Senhor dos Anéis. Apesar de o livro ter sido criado na década de 1940 e se referir ao mundo fantástico criado por J.R.R.Tolkien, alegava-se que o nome causaria constrangimentos às famílias das vítimas. 
Mas essas foram reações emergenciais, surgidas no calor da tragédia. As dúvidas pairavam sobre o que viria a seguir. A indústria se posicionaria de forma patriótica? Teria coragem de produzir filmes que tratassem do assunto diretamente ou faria abordagens subjetivas? Usaria os terroristas árabes/muçulmanos como inimigos ou criticaria a Casa Branca? Agora que se completa uma década do 11/09, já é possível verificar quais foram os caminhos adotados por Hollywood para abordar esse fato histórico. E percebe-se que Hollywood foi para todas as direções.
Quando se fala em filmes sobre os atentados terroristas de 2001, o grande público provavelmente remeterá às produções As Torres Gêmeas (World Trade Center) de Oliver Stone e com Nicolas Cage no elenco, ou então Vôo United 93 (United 93), de Paul Greengrass, sobre os últimos minutos do avião derrubado pelos próprios passageiros, que conseguiram impedir que a aeronave atingisse, imagina-se, a Casa Branca. Mas esses filmes chegaram aos cinemas apenas em 2006, cinco anos após a tragédia. Outra produção que ganhou destaque foi o documentário vencedor do Oscar 2009 O Equilibrista (Man on Wire), dirigido por James Marsh, sobre a travessia em cima de um cabo entre os dois prédios do WTC, realizada por Philippe Petit em 1974. Apesar de resgatar as imagens das Torres Gêmeas, O Equilibrista foi saudado pela nostalgia – o feito do francês aconteceu com os prédios recém-construídos – e não por uma caráter político.
Uma das primeiras produções de grande porte a abordar o tema de forma mais séria foi o filme 11 de Setembro (11'09''01), produzido por Alain Brigand em 2002 e que reúne 11 curtas-metragens com duração exata de 11 minutos, 9 segundos e 1 frame. Participaram do projeto cineastas consagrados e de diversas nacionalidades, como inglês Ken Loach (Ventos da Liberdade), o mexicano Alejandro González Iñarritú (Babel), o bósnio Danis Tanovic (Terra de Ninguém), a indiana Mira Nair (Casamento Indiano) e o americano Sean Penn (Na Natureza Selvagem). A obra chamou a atenção por trazer uma visão global da tragédia e pela liberdade com que os diretores puderam tratar do tema, o que resultou em trabalhos ousados (como o do segmento “Estados Unidos”, no qual a queda das torres traz esperança a um senhor de idade), ácidos (caso do episódio do egípcio Youssef Chahine, que culpa o governo norte-americano pela violência no Oriente Médio) e críticos (como o curta dirigido por Ken Loach, que lembra que 11 de setembro também foi a data do golpe de estado no Chile, em 1973, que contou com o apoio da Casa Branca).
Sempre polêmico e politizado, Spike Lee (Faça a Coisa Certa, Malcom X) foi o primeiro a mostrar numa grande produção de Hollywood o “Marco Zero”, o local de destroços onde antes estavam os prédios do WTC, no filme A Última Hora, de 2002. O vazio deixado pelas Torres Gêmeas, substituídas por canhões de luz, e a sensação de depressão e angústia causada pelo dos destroços amontoados servem como metáfora ao estado de espírito de Monty Brogan (Edward Norton), sujeito que precisa aproveitar as últimas horas antes de se apresentar à penitenciária para cumprir sete anos de prisão por tráfico de drogas.
Apesar de ser franco-canadense, As Invasões Bárbaras (2003) também merece ser citado, já que foi pioneiro em mostrar as imagens dos atentados. Dirigida por Denys Arcand, a produção, vencedora do Oscar 2004 de Melhor Filme Estrangeiro, é a continuação de O Declínio do Império Americano, de 1986. Apesar dos títulos, ambos os filmes não são, num primeiro plano, politizados, já que trazem em seu núcleo membros da classe média discutindo sobre sexo. Mas é óbvio que os filmes permitem releituras nas entrelinhas e fazem um paralelo entre a ascensão e queda do império romano e a situação dos Estados Unidos. Se na primeira produção o diretor dava indícios de que a América estava em decadência, Arcand sugere que o 11/09 corresponde às “invasões bárbaras” que ruíram Roma.
Mas foi a partir de 2004 que as produções norte-americanas começaram a refletir as consequências políticas e sociais dos atentados terroristas e a obra que chamou mais atenção naquele ano foi Fahrenheit 11 de Setembro (Fahrenheit 9/11), documentário do sempre polêmico Michael Moore. Um ano antes ele já havia sido aplaudido e vaiado em seu discurso no Oscar 2003 ao levar o prêmio por Tiros em Columbine – a Guerra do Iraque havia começado dias depois do evento. O filme não cumpriu seu objetivo principal (impedir a reeleição de Bush), mas dividiu a opinião do público, fez perguntas que a imprensa americana ignorou e ainda levou a Palma de Ouro – Quentin Tarantino, presidente do júri, jurou que a premiação foi por motivos artísticos, não políticos.
Crash – No Limite (Crash) também estreou em 2004 e levou o Oscar de Melhor Filme no ano seguinte. Na obra, Paul Haggis expôs os preconceitos raciais e a xenofobia que passou a dominar grande parte da população contra povos de origem árabe. Numa cena, um senhor iraniano é chamado de “Osama” por um vendedor de armas e vândalos arrombaram e destruíram sua loja, e deixarem pichações racistas. “Vejam o que escreveram, pensam que somos árabes. Desde quando persa é árabe?”, se pergunta sua mulher, inconformada. Em outro momento, o político interpretado por Brendan Fraser quase surta ao saber que iria premiar um iraquiano chamado Saddam.
A questão xenófoba também foi explorada por Wim Wenders em Medo e Obsessão (Land of Plenty), sobre um veterano de guerra (John Diehl) que fica paranoico e acredita que há terroristas infiltrados na população. É o estado de medo que passou a tomar conta da sociedade – um sentimento que também foi alimentado por Bush com sua campanha midiática sobre a “Guerra ao Terror”. M. Night Shyamalan realizou uma bela alegoria sobre essa sensação em A Vila (The Village), sobre um povoado que vive com medo de supostos monstros que rodeiam a floresta. Mas nem tudo foi levado tão a sério: Trey Parker e Matt Stone, criadores do infame desenho South Park, realizaram a paródia Team America - Detonando o Mundo (Team America: World Police), uma tiração de sarro sobre a obsessão americana de ser polícia do mundo. No filme, os personagens – interpretados por marionetes – são agentes que acabam causando mais destruição que os próprios terroristas que eles caçam.
De certa forma, esses filmes de 2004 representam muito do que virá a acontecer nos anos seguintes: produções que tratam do assunto de forma direta serão elogiados por grande parte da crítica, mas ignorados pelo público americano, que buscará filmes escapistas. Com a moral destruída junto com as torres, a Casa Branca promoveu uma nova onda de orgulho e patriotismo e as ruas de Nova York ficaram forradas de bandeiras dos Estados Unidos. Falar mal do próprio governo estava fora de cogitação pelos próximos anos e longas-metragens que tocaram no assunto não obtiveram retorno nas bilheterias – mesmo que fossem estrelados por nomes fortes na indústria.
Foi o destino de filmes como Syriana - A Indústria do Petróleo (Syriana), que deu o Oscar de Melhor Ator coadjuvante a George Clooney; No Vale das Sombras (In the Valley of Elah), com Charlize Theron e Tommy Lee Jones; Reine Sobre Mim (Reign Over Me), com Adam Sandler e Don Cheadle; Leões e Cordeiros (Lions for Lambs), com Tom Cruise e Meryl Streep; Rede de Mentiras (Body of Lies), com Leonardo DiCaprio e Russell Crowe; e Zona Verde (Green Zone), com Matt Damon e direção de Paul Greengrass, dupla que havia feito sucesso anteriormente com os filmes do agente desmemoriado Jason Bourne. Esses são apenas alguns nomes de uma lista enorme de filmes cujo conteúdo o público preferiu passar longe.
O que muitos diretores fizeram foi analisar e se inspirar nas consequências pós-11/09 de forma sutil. Em 2005, o rei do entretenimento hollywoodiano Steven Spielberg realiza o remake de Guerra dos Mundos (War of the Worlds) e, diferente do que foi visto em filmes-catástrofes anteriores (como Independence Day, que também trazia aliens ameaçadores), aqui não há espaço para heroísmo. Quando as naves começam a atirar nas pessoas, a reação causa uma incômoda lembrança da correria dos cidadãos pelas ruas de Nova York no momento da queda das torres do WTC. Em vez de lutar, o personagem interpretado por Tom Cruise se esconde com sua família, afinal não entende de onde vem a ameaça. Spielberg lembra que o fim do mundo não é legal e a ameaça não será derrotada com o presidente dos EUA pilotando um caça.
Cloverfield – Monstro, dirigido por Matt Reeves e produzido por J. J. Abrams também resgata o pânico das pessoas pelas ruas de NY. A metáfora, aqui, é ainda mais óbvia, com a cabeça da Estátua da Liberdade sendo decepada e as pessoas filmando tudo com os celulares. Ainda que de forma vazia, Lanterna Verde (Green Lantern) também usa a cena da correria numa metrópole quando o vilão Parallax vem à Terra. Esse tipo de exorcismo não é nenhuma novidade, já que Godzilla aterroriza os japoneses há décadas.
O medo, aliás, serviu de tema em diversas produções e é impossível não associar o fenômeno ao ambiente norte-americano pós-11/09. Em Batman Begins, de Christopher Nolan, a palavra aparece mais de 30 vezes nas falas dos personagens, e é a arma de Ra’s al Ghul para destruir Gotham e a inspiração para Bruce Wayne tornar-se um vigilante. É possível, inclusive, encontrar metáforas nada sutis, como o pó branco utilizado pelo Espantalho para aterrorizar as vítimas (após 11 de Setembro, diversas pessoas morreram ao receber envelopes contaminados com a bactéria causadora do antraz) e a cena final, na qual o objetivo de Ra’s al Ghul é arremessar o trem contra a Torre Wayne. O Coringa, na sequência O Cavaleiro das Trevas, age como um terrorista, causando diversas explosões pela cidade e criando o pânico na população.
O medo também foi tema de V de Vingança (V for Vendetta), adaptação da HQ escrita por Alan Moore dirigida por James McTeigue e produzida pelos irmãos Wachowski (Matrix). O filme, que teve a história atualizada e levemente modificada, mostra um herói terrorista lutando contra um governo fascista que utilizou o medo coletivo para restringir os direitos civis. O assunto também foi discutido em filmes mais politizados, como Boa Noite e Boa Sorte, dirigido pelo astro George Clooney. Ao relembrar a luta do jornalista Ed Murrow contra a “política do medo” adotada pelo senador Joseph McCarthy, no início da Guerra Fria, Clooney faz uma analogia sobre a conduta de Bush em sua “Guerra ao Terror”. É claro que o medo não foi assunto exclusivo de Hollywood e um ótimo exemplo é Caché, de Michael Haneke. O premiado cineasta austríaco faz um estudo sobre a sensação de medo ao acompanhar um casal burguês que passa a receber fitas caseiras com imagens de sua própria casa. Trata-se de uma história sobre a tensão racial/social existente na França, mas é impossível não pensar no 11 de Setembro ao vermos o casal assistir pela televisão a ameaça – assim como fez o mundo todo naquele fatídico dia.
É claro que Hollywood também aproveitaria a questão para atualizar seu estoque de vilões, já ocupado por nazistas, comunistas, vietcongues, extraterrestres e monstros. A bola da vez seriam os terroristas fundamentalistas, que poderiam ser executados sem muito constrangimento. Em O Reino (The Kingdom) a equipe do FBI liderada por Jammie Foxx e Jennifer Garner vai à Arábia Saudita investigar a morte de um membro e acaba sendo “forçada” a adotar o “olho por olho”, provocando uma chacina contra os vilões. O próprio diretor Peter Berg comentou que, durante as sessões-teste, o público vibrou com as cenas das mortes dos terroristas, mas garante que não tinha a intenção de saciar a vontade de vingança do povo americano. Fica difícil acreditar, já que uma das cenas é um close de um tiro na cabeça de um dos vilões.
O diretor Jeffrey Nachmanoff até tenta mostrar as motivações e o lado humano dos terroristas em O Traidor (Traitor), só que, quando o filme acaba, o espectador percebe que o único muçulmano confiável é um norte-americano interpretado por Don Cheadle. Rede de Mentiras (Body of Lies), de Ridley Scott, também faz uma suposta crítica ao governo Bush ao mostrar, já no início do filme, agentes da CIA torturando um prisioneiro. No entanto, apesar de cruel, a cena é rápida, não dura mais do que alguns segundos e é sem gritos, já que o prisioneiro está amordaçado. Por outro lado, quando o personagem de DiCaprio é submetido à tortura pelos terroristas, vemos cada martelada desferida, seus dedos quebrados e o sangue escorrendo. Ouvimos seus gritos e sentimos a barbárie da tortura – e o espectador fica aliviado quando a cavalaria chega.
São filmes que, ainda que não intencionalmente, acabam refletindo a visão da Casa Branca e sua “Guerra ao Terror”. Até mesmo Oliver Stone caiu na armadilha com seu Torres Gêmeas (World Trade Center). No lugar de um longa-metragem político, o nova-iorquino Stone entregou um filme extremamente piegas sobre a história real dos bombeiros que ficaram sob os escombros do WTC. O cineasta que ganhou uma medalha de honra por lutar no Vietnã e com três filmes sobre o assunto no currículo estranhamente dá voz ao personagem interpretado por Michael Shannon, um ex-militar que acreditava estar numa missão divina e decide ir ao Marco Zero ajudar no resgate das vítimas – num dado momento, ele diz “Alguém tem que pagar por isso”. Vale lembrar que, em 2004, Stone havia realizado “Alexandre”, biografia sobre o rei macedônico que saiu do Ocidente e, em nome da liberdade, conquistou nações entre as quais são hoje, ironicamente, o Afeganistão e o Iraque. Em 2008, Stone ainda produziu W., sobre George W. Bush, porém o tom foi bem menos ácido do que a história do retratado permitia.
Essa questão sobre o posicionamento político de Hollywood à esquerda ou à direita ganhou notoriedade no Oscar 2010 devido à curiosa disputa entre Avatar, de James Cameron, e Guerra ao Terror, de Katheryn Bigelow. Houve quem reduzisse a questão a uma batalha entre homem e mulher no prêmio de melhor direção, outros brincaram com a situação “ex-marido contra ex-esposa”, mas muitos encontraram uma disputa ideológica. Avatar teria um viés esquerdista e seria uma metáfora sobre a Guerra do Iraque, enquanto “Guerra ao Terror” traria uma capa direitista, com os soldados americanos como vítimas dos cruéis terroristas. Há, no entanto, quem enxergue o contrário: Cameron representaria justamente a máquina hollywoodiana, com seu orçamento astronômico (e maior renda da história), enquanto o filme de Katheryn era feito nos moldes independentes, inclusive na postura de colocar os jovens soldados como meras engrenagens da política belicista. Seja qual for a interpretação, o fato é que Guerra ao Terror deu um banho em Avatar.
O jeito é esperar a estreia do novo filme de Katheryn, sobre a caçada a Bin Laden. O roteiro já vinha sendo escrito pelo jornalista Mark Boal muito antes da operação bem-sucedida dos Seals (o grupo de elite militar que eliminou o terrorista), mas recebeu uma atualização após a morte do ex-líder da Al-Qaeda. A captura do responsável pelo 11/09 é considerada uma das maiores realizações do presidente Barack Obama e o filme de Katheryn tem estreia marcada para 12 de outubro de 2012 – um mês antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos.