segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os Vingadores - Crítica


“Os Vingadores” tinha grandes chances de dar errado e, se tivesse sido feito há 15 anos, seria provavelmente um desastre narrativo e visual ou uma comédia escrachada. Um grupo de heróis composto por um soldado que veste uma bandeira dos EUA, um milionário arrogante, um deus nórdico, um arqueiro e uma supergostosa enfrentando alienígenas em plena luz do dia tem elementos suficientes para cair na galhofa. A esperada megaprodução da Marvel, no entanto, destrói qualquer expectativa negativa e coloca-se entre as melhores adaptações cinematográficas de uma história em quadrinhos.

O responsável pelo ato heroico é Joss Whedon. Fã assumido de HQ (e cultuado pela comunidade nerd por suas telesséries, “Buffy: A Caça-Vampiros” e “Firefly”), Whedon transformou em filme a experiência de folhear as aventuras protagonizadas pela superequipe da Marvel. O que não é exatamente uma surpresa afinal o próprio escritor já colaborou para a publicação da editora, em “Os Surpreendentes X-Men”. Temia-se, na verdade, sua habilidade como diretor – ele só havia dirigido um longa-metragem anteriormente, “Serenity” (2005) –, principalmente porque tratava-se de uma megaprodução de US$ 220 milhões e que reunia alguns dos maiores super-heróis da Marvel na mesma tela. 

“Os Vingadores”, no entanto, consegue preservar a mitologia que existe há décadas, mantém a personalidade de seus personagens e deve agradar tanto o leitor regular quanto aquele sujeito que só conheceu o Homem de Ferro pelo filme de 2008. Whedon cumpriu a cartilha básica das histórias em quadrinhos da editora americana: “todo herói Marvel, antes de se juntar a outro herói, deve lutar contra ele”. O cineasta mantém a tradição e a repete com cuidado: todos os combates entre os personagens são coerentes e têm um sentido – diferente do que acontecia em “X-Men Origens: Wolverine” (2009), por exemplo, onde as lutas eram vazios exibicionismos visuais e pirotécnicos.

A trama, na teoria, é econômica: Loki (Tom Hiddleston) planeja vingar-se dos acontecimentos vistos em “Thor” (2011) e realiza uma aliança com uma raça alienígena para destruir a Terra. Para impedir a catástrofe, o líder da agência secreta S.H.I.E.L.D. Nick Fury (Samuel L. Jackson) convoca os super-humanos para formar um time e enfrentar a ameaça. E é só. Mas é uma simplicidade recheada com uma boa interação entre os integrantes. Cada personagem tem seu ponto de vista defendido e uma motivação que, se não chega a ser complexa e profunda, também não o transforma em mero enfeite. As discussões entre eles funcionam e é interessante ver como a equipe é formada vagarosamente, aproveitando cada conflito para solidificar a personalidade de cada um. 

Como já não era nenhuma surpresa, Robert Downey Jr. rouba a cena e ilumina o cinema cada vez que aparece, principalmente quando interage com Chris Evans e Mark Ruffalo. Os dois, por sinal, também merecem destaque. Evans, que já havia surpreendido pela performance e carisma em “Capitão América – O Primeiro Vingador” (2011), não se deixa ser engolido pelo magnetismo de Downey Jr. e, na hora certa, convence como o líder natural do grupo. E Ruffalo consegue transformar em natural sua interpretação como Bruce Banner/Hulk e é possível que o público nem perceba que o personagem foi feito por outro ator no filme de 2008 (Edward Norton).

Scarlett Johansson (Viúva Negra) e Jeremy Renner (Gavião Arqueiro) também ganham seu espaço, ainda que sejam coadjuvantes. E Tom Hiddleston mais uma vez dá profundidade a Loki – apesar de sua motivação forçada – e o personagem ganha uma nova habilidade para fazer jus à fama de “deus da trapaça”. 

No entanto o grande herói, mesmo, foi Whedon, que não apenas soube orquestrar as estrelas que tinha disponíveis, mas também realizou uma direção segura, e até brincou com as linguagens e estéticas cinematográficas e dos quadrinhos. Vai ter fã chorando de emoção com o delicioso plano-sequência durante a épica batalha final: por meio de recursos digitais, o diretor visita com sua câmera em movimentos impossíveis cada herói em ação. 

A segurança de Whedon lhe garantiu inclusive outras brincadeiras visuais, como quando a câmera tenta encontrar e focar em Thor, enquanto ele enfrenta os alienígenas. Ou mesmo na cena em que Stark e Banner, dois gênios de personalidade opostas, conversam com uma tela transparente dividindo seus rostos, como se estivessem olhando num espelho. O tranquilo Whedon diretor permitiu até que o Whedon roteirista arriscasse, com sucesso, transformar Hulk num alívio cômico – algo que não aconteceu nos filmes de 2003 e de 2008. Em vez de assustar, Hulk vai causar risos. Não, gargalhadas.  

“Os Vingadores” chega para confirmar uma tendência: ser nerd é legal. Durante uma cena, há uma divertida piada sobre colecionar cards de super-heróis. Noutra época, a brincadeira poderia até ridicularizar o ato nerd, mas no filme ele ganha uma importância fundamental (e exagerada se for levado à sério) para a história. É curioso pensar que filmes de super-heróis já foram piada em Hollywood – a ponto de uma produtora realizar o lendário filme de 1994 do Quarteto Fantástico nas coxas só para não perder os direitos sobre o título. 

Desde “X-Men”, em 2000, tudo mudou: a indústria, que passou a investir no “gênero”, e o público, que passou a aceitá-lo. É claro que para cada “Homem de Ferro” (2008) vinha um “Lanterna Verde” (2011), mas a adaptação aconteceu de forma rápida: para “X-Men”, Brian Singer deu uma cara mais de ficção-científica do que de HQ, os uniformes tinham que ser preto, pós-Matrix, e com tom mais realista – havia até uma piada sobre Wolverine e os colantes amarelos. Uma década depois, “X-Men: Primeira Classe” tornou-se o melhor filme da franquia e os uniformes eram justamente amarelos. E o público aceitou numa boa.

 O filme da superequipe da Marvel pousa nos cinemas como um triunfo bilateral: um ótimo filme e que deverá bater alguns recordes de bilheteria. “Os Vingadores” faz jus ao título: trata-se da vingança dos nerds.


domingo, 22 de abril de 2012

"American Pie - O Reencontro e o último pedaço de torta


Eles estão de volta. O elenco original de “American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível” (1999) voltou a se reunir para mostrar que é possível envelhecer sem perder a ternura. Já que a virgindade eles perderam no primeiro filme. De fato, a concepção de “American Pie” era uma homenagem assumida às comédias sexuais adolescentes que marcaram a geração anterior, com filmes como “Porky’s” (1985). “A Primeira Transa de Jonathan” (1985) e “A Última Festa de Solteiro” (1985). Tudo o que o grupo de amigos queria era perder a virgindade antes da formatura da escola.

Treze anos depois, eles ainda pensam em sexo, mesmo casados e com filhos. “Nosso foco foi recapturar a magia do primeiro filme”, declarou o diretor Jon Hurwitz em entrevista coletiva para divulgar o lançamento. Ele e o colega Hayden Schlossberg são os responsáveis por “American Pie – O Reencontro”, produção responsável por resgatar a saga sexual de Jim Levenstein (Jason Biggs) e seus amigos, que nos últimos anos tinha sido rebaixada a uma série de lançamentos direto em DVD, sem o elenco ou humor do filme original.
Como mostrado nas duas continuações “oficiais” do cinema, o jovem destruidor de tortas foi para a faculdade e casou-se com a amiga Michelle (Alyson Hannigan), e, agora, também é pai de um menino de dois anos. O que o rapaz não imaginava é que ter uma esposa não é necessariamente garantia de sexo frequente. “Como em todos os filmes ‘American Pie’, Jim encontra-se mais uma vez frustrado sexualmente. E quando ele está frustrado sexualmente, acaba tomando algumas decisões erradas. E quando toma essas decisões, nós fazemos um filme”, explicou o próprio intérprete de Jim, Jason Biggs.

O casal protagonista caiu na rotina sexual e o convite para um reencontro festivo com a turma de 1999 da escola East Great Falls, no subúrbio de sua cidade natal, poderá ajudá-los a reacender a chama da paixão. Mais importante, porém, é o sentimento nostálgico de rever todos os personagens agora na casa dos 30 anos.

“Geralmente, nessa idade, você começa a se perguntar o que aconteceu com certas pessoas de sua escola e analisa onde você está na vida e onde imaginou que estaria”, sugeriu Schlossberg. “Algumas pessoas alcançaram o sucesso, outras estão casadas, outras têm filhos, outros ainda estão solteiros. Queríamos realmente explorar todas essas diferentes histórias”, explicou o codiretor, deixando claro que a proposta do filme era atrair os espectadores que cresceram junto com a franquia.

Tata-se do próprio caso da dupla de diretores, amigos desde o tempo do colégio e que assistiram ao primeiro longa ainda na faculdade. Os dois viraram cineastas e escreveram o roteiro dos filmes “Harold & Kumar”, que no Brasil ganharam o título de “Madrugada Muito Louca” (2004). Após dirigir “Madrugada Muito Louca 2” (2008), eles preparavam a pré-produção de “Um Natal Muito Louco” (2011) quando receberam o convite para comandar o retorno da franquia “American Pie”. Aceitaram, é claro, apesar de conscientes do desafio de oferecer mais uma fatia de uma torta que já não é tão fresca.

A dupla confessa ter pedido orientação a Paul Weitz, diretor do primeiro longa e produtor desta nova produção. “Ele conversou conosco e sua maior sugestão foi para que fizéssemos nosso próprio filme”, disse Schlossberg. Mas aí, eles se defrontaram com novo problema. Como reunir todo o elenco de novo?

A primeira grande missão da dupla foi convencer todos os atores do longa de 1999 a topar o retorno – não apenas os protagonistas, mas também aqueles que só tinham três minutos de cena, mas que caíram nas graças do público. Um caso, pelo menos, era favas contada: John Cho, figurante dos filmes originais que estourou justamente como o Harold dos filmes “Madrugada Muito Louca”. Alguns também poderiam ser facilmente convencidos, como Tara Reid, que não fez mais nada exceto uma desnecessária cirurgia plástica, ou Mena Suvari, que parecia despontar para o sucesso (em 1999 ela ainda estrelou “Beleza Americana”), mas o mais longe que alcançou foi um papel na extinta série “A Sete Palmos”.

Com outros atores, porém, poderia haver problema de agenda, como Alyson Hannigan, que tem um papel fixo na série “How I Met Your Mother”, e havia o perigo de Jason Biggs e Seann William Scott acharem que não tinham mais nada a ver com aqueles personagens. Vale lembrar que Chris Klein já tinha feito pulado o terceiro filme por achar, na época, que deveria diversificar. Após reuniões, almoços e bate-papos, os diretores conseguiram juntar o cast, inclusive Klein. “Quando eles viram que nosso objetivo era trazer de volta tudo o que funcionou no primeiro filme, todos embarcaram”, comemorou Hurwitz.

O caso mais emblemático foi o de Seann William Scott, que ameaçou fazer sucesso em filmes que tinham The Rock ou Bruce Willis, mas entrou numa espiral autodestrutiva quando não chegou em lugar algum. Após assinar contrato para participar do novo “American Pie”, ele se internou voluntariamente numa clínica de reabilitação. Klein também veio a público confessar que tinha virado alcoólatra. Dramas reais que também renderiam um filme interessante, ainda que não uma comédia.

Scott, porém, nunca deixou de ser lembrado pelo papel de Stifler. Seu personagem passou de coadjuvante no primeiro longa a praticamente um protagonista nas sequências e virou a grande marca da franquia: três das quatro produções lançadas direto em vídeo trazem a história de seu irmão caçula e primo, numa tentativa de copiar o sucesso do machista, ignorante e irresponsável sujeito. E o próprio ator não nega seu amor eterno ao personagem e ao filme. “Eu ficaria feliz em fazer isso enquanto puder, porque me divirto muito. Eu nunca vou ganhar um Oscar mesmo, então posso me divertir com meus amigos”, disse na entrevista coletiva.

Mostrando bom-humor, ele ainda refletiu: “Bem, Melissa McCarthy (“Missão Madrinha de Casamento”) cagou numa pia e foi indicada ao Oscar e neste filme eu cago num isopor de gelo…”, brincou, meio que dando um recado aos membros da Academia.
É inegável, no entanto, que o maior beneficiado pelo retorno de “American Pie” é seu verdadeiro protagonista, Jason Biggs. Após a comédia adolescente, ele arriscou uma carreira sólida e até trabalhou com Woody Allen (“Igual a Tudo na Vida”), mas também acabou enveredando por fracassos (“Menina dos Olhos”…).

Hoje, aos 33 anos, ele olha com mais carinho sua própria trajetória e não lamenta ter brilhado apenas com um único personagem. “Cheguei a um momento de minha vida no qual aceitei que ‘American Pie’ foi um grande presente”, refletiu o ator. “É claro que quero fazer outros papéis, mas se tiver que fazer esses filmes para o resto da vida eu serei um cara de sorte. Amo esse personagem”, confessou.

Apesar da carreira irregular, o ator tem seus fãs, a começar pelos diretores. “Ele é um dos artistas cômicos mais subestimados de Hollywood”, afirmou Hurwitz. “Trabalhamos com muitas pessoas talentosas e ele está no topo”.
Um dos motivos por sua admiração, explicou o diretor, é a coragem de Biggs ao encarar cenas constrangedoras, como “fazer amor” com uma torta ou masturbar-se utilizando uma supercola. Sua nova missão para “O Reencontro” subiu mais um nível na escala da vergonha alheia e agora ele topou um nu frontal, numa cena hilária na qual expõe seu pênis. Vale lembrar que o órgão genital de Jim é praticamente um personagem da franquia, mas nunca chegou a, digamos, dar as caras.

E já que era para mostrar, Biggs sugeriu que fosse “bem feito”. “Lembro-me de dizer aos diretores: ‘Mantenha a imagem por mais tempo para que as pessoas saibam que é o meu pênis. Caso contrário, pra que fazer isso?’”, brincou o ator. Era, por sinal, o primeiro dia de filmagem do longa e Biggs aproveitou a situação para lembrar os velhos tempos ao lado da colega Alyson Hannigan, que interpreta sua esposa. “Foi algo do tipo: ‘Bem-vinda de volta à franquia, Alyson! E aqui está meu pênis!”.


 O público já pode conferir se o talento de Biggs é realmente grande com a estreia de “American Pie – O Reencontro”, em cartaz nos cinemas brasileiros.