
Pois é justamente com esse olhar que o diretor estreante Toniko Melo conduziu VIPs, inspirado no livro Histórias Reais de um Mentiroso, de Mariana Caltabiano (que também irá lançar em breve um documentário homônimo). A grande sacada do roteiro de Bráulio Mantovani e Thiago Dottori foi pegar a história e as peripécias de Marcelo como fio condutor para uma ficção – e não uma cinebiografia –, o que permitiu ao filme tentar buscar respostas psicológicas a um personagem tão complexo.
“Como eu sou?”, pergunta o protagonista à sua mãe (Gisele Fróes). Em palavras, não há respostas, mas a sua imagem fragmentada no espelho representa essa busca por uma identidade própria, mesmo que, para isso, seja preciso forjar personalidades ou se passar por outras pessoas. É inevitável a comparação entre VIPs e Prenda-me se For Capaz (de Steven Spielberg), mas as produções seguem caminhos diferentes. Enquanto Leonardo DiCaprio interpreta um falsário (Frank Abagnale Jr.) que visa ganhar dinheiro com seus golpes, o Marcelo de Wagner Moura é alguém que realmente acredita nas fantasias que cria (ainda que essa escolha dos produtores redima os erros e crimes do Marcelo da vida real).

Apesar de divertir, e muito, a discussão de VIPs sobre a procura por uma identidade toca num assunto sério em sua subcamada: a busca pela existência e por um reconhecimento social. A mãe de Marcelo passa o dia assistindo à programas televisivos sobre celebridades, principalmente o de Amaury Jr. Por diversas vezes, ela cobra do filho para que ele não seja um “Zé Ninguém”, o que, pela lógica, significa ser alguém do mundo da TV – um meio de comunicação de reafirmação, onde é possível mostrar a todos que você existe.
*Texto publicado no site www.arteview.com.br
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