“Dexter”
sempre causou muita polêmica desde que estreou na televisão americana, em 2006.
Para quem nunca ouviu nada sobre a série, nem é preciso explicar muito: basta
dizer que o protagonista (Michael C. Hall) é um serial killer que mata
friamente suas vítimas – outros assassinos seriais, o que talvez lhe garanta o
adjetivo de “herói”. Pois a sexta temporada, que estreia nos Estados Unidos no
domingo (02/10), deve gerar ainda mais controvérsia, com a adição de um novo
ingrediente: religião.
“Esta
temporada é sobre Dexter tentando descobrir se deve ensinar a fé ao seu filho
Harrison”, instiga a produtora executiva Sara Colleton. “Mas, para fazer isso,
ele mesmo precisa descobrir o que é a fé”. Nos dois últimos anos, Dexter passou
por maus bocados, já que ficou viúvo e, em seguida, sofreu uma desilusão
amorosa. A sexta temporada se passa um ano após o último episódio da quinta
temporada, e o período de luto já ficou no passado. “Veremos Dexter mais forte
do que nunca”, garante Scott Buck, também produtor do seriado.
Mas
não é só o comportamento do serial killer “bonzinho” que passará por grandes
mudanças esse ano. Novos personagens entram na série, sendo três deles
potenciais vilões: O “Irmão Sam” (Mos Def, de “Rebobine, Por Favor”), um
ex-presidiário que tem como missão na vida ajudar outros presos; Geller
(Edward James Olmos, de “Blade Runner”), um renomado professor de teologia; e o
fanático religioso Travis (Colin Hanks, da série “The Good Guys”), restaurador
do departamento de antiguidades do museu de Miami.
Colin
Hanks nem se dá ao trabalho de fazer segredo sobre seu papel na história. “Sou
o vilão”. É curioso pensar no ator, que vinha de uma série de comédia cancelada
(“The Good Guys”), caminhar por uma trilha sempre rejeitada pelo seu pai, o
astro Tom Hanks. E esta não é a primeira vez que interpreta um religioso: num
dos episódios de “Mad Men”, ele foi um padre. Mas Hanks logo deixa claro a
diferença entre os personagens: “O padre Gill era um homem muito, muito bom. Já
Travis é o seu oposto”.
Travis
terá a orientação do misterioso professor Geller, interpretado pelo veterano Edward
James Olmos, cujo último trabalho foi o seriado “Battlestar Galactica”. Olmos
diz não acreditar que os fãs de “Dexter” sejam religiosos, mas, se forem, ele
espera que o público saiba lidar com o assunto. “Toda vez que se mistura o bem
e o mal, você é levado a uma jornada incrivelmente difícil”. O ator, que não
conhecia a série e decidiu assistir a todas as temporadas para entrar no clima,
ficou espantado com o que viu. “Este é o trabalho mais sombrio da minha vida.
Acho que nunca houve algo tão ‘dark’ na televisão”.
Em
contrapartida a tantos personagens sombrios, chega também à sexta temporada a
babá Jamie Batista (Aimee Garcia), que deve deixar mais leve a difícil missão
de Dexter em ser um pai solteiro. A jovem é a irmã mais nova do sargento Angel
Batista (David Zayas), estuda Psicologia Infantil e passa a morar na casa do
perito em respingos de sangue para cuidar do bebê, agora com dois anos de
idade. “Jamie é despreocupada e divertida, é o tipo de energia positiva
que Dexter quer ter ao redor de Harrison”, explica Aimee. “A química entre eles
provoca uma dinâmica interessante. Ela meio que representa a ‘vida’,
enquanto ele a ‘morte’, como uma espécie de Yin Yang”.
E
seria essa garota o novo amor do “serial killer do bem”? A atriz vê esperanças
nessa possibilidade. “Eles estão em quartos próximos e ela é, de certa forma, uma
espécie de mãe de seu filho, já que é ela quem troca suas fraldas e o alimenta. Harrison
é tudo para Dexter, logo quem cuida dele tem um bom lugar em seu coração.” Não
é o que pensa o próprio Dexter, ou melhor, Michael C. Hall, que dá sua opinião
de forma tão objetiva e técnica quanto o sociopata que interpreta: “Acho que
ele está desconectado de qualquer apetite consciente para uma conexão romântica
neste momento”. A resposta racional de Hall contrasta com o excesso de
emoções vividas pelo americano no ano passado: além de ganhar o Globo de Ouro
como melhor ator de série dramática (depois de outras três indicações
anteriores), ele foi diagnosticado com câncer linfático. O tratamento, felizmente,
foi rápido e Hall já está recuperado.
E
ele começa a rascunhar uma carreira no cinema, inclusive em gêneros diferentes
dos quais o público está acostumado a enxergá-lo. Em 2009, ele participou da
ficção científica “Gamer”, de Mark Neveldine e Brian Taylor; Hal
também integra o elenco de “Peep World”, comédia ainda sem previsão de
lançamento dirigida por Barry W. Blaustein. Mesmo em se tratando de futuros
trabalhos na televisão, Hall não esconde sua vontade de explorar novos
horizontes. “Quero fazer algo que não exija que eu fique rodeado por cadáveres”,
ele brinca, se referindo não apenas a “Dexter”, mas também à série anterior em
que trabalhou por cinco temporadas, “A Sete Palmos” (Six Feet Under), na qual
interpretava um agente funerário.
Mas
se o próprio Hall já está pensando em trabalhos futuros, isso significa que
“Dexter” está chegando ao fim? “Eu realmente não sei, mas certamente está chegando
o momento de começarmos a pensar sobre como o jogo vai acabar”, cogita o
ator. Já o
produtor executivo Scott Buck nega imediatamente: “Para ser honesto, ainda não
entramos nessa discussão. Quero dizer, chegaremos a ela, mas ainda não estamos
trabalhando num final”. A também produtora Sara Colleton faz coro: “Quando
sentirmos que não temos mais território inexplorado para levar ‘Dexter’,
paramos com a série”.
Veteranos
do elenco também já começam a se perguntar o destino do programa, como o ator
porto-riquenho David Zayas, que interpreta o sargento Batista, colega de
Dexter. “Enquanto eles continuarem reinventando o seriado a cada ano, quem sabe
por quanto tempo ainda pode durar? Só sei que tenho me divertido muito e sempre
quero saber como vai ser o próximo episódio”. O
divertido C.S. Lee, responsável pelo alívio cômico da série com seu personagem Vince
Masuka, é mais irônico. Lee torce para que Dexter não tenha seus segredos
homicidas revelados, mas não deseja necessariamente um final feliz para o
serial killer. “Poderia ser algo totalmente imprevisível, fora do comum, tipo
ele estar andando na rua e uma estátua cair na sua cabeça ou ser atropelado por
um ônibus”, diverte-se o ator de descendência coreana.
Seja
como for, e quando for, o final da série, parece que é um bom momento para
Dexter começar a rezar.
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