domingo, 2 de outubro de 2011

CONTRA O TEMPO - Crítica


Depois de uma espetacular estreia em 2009 com “Lunar”, a expectativa sobre o segundo filme de Duncan Jones era grande, mas o resultado é decepcionante. Com um orçamento bem maior do que o primeiro filme (US$ 32 milhões) e um bom elenco em mãos (Jake Gyllenhaal, Vera Farmiga, Jeffrey Wright, Michelle Monaghan), o jovem diretor erra no tom e acaba transformando uma promissora ficção científica num fraco longa-metragem de ação.

Gyllenhall interpreta um piloto de helicóptero do exército americano que acorda durante uma viagem de trem e descobre estar no corpo de outra pessoa. Ele não reconhece seu próprio rosto no espelho e a bela mulher à sua frente (Michelle) insiste em chamá-lo por um nome que não é o seu. Minutos depois, uma bomba no veículo explode e, em vez de morrer, ele vai parar numa espécie de cápsula, onde descobre estar participando de um projeto militar chamado “Código Fonte” (“Source Code”, título original do filme), que permite à mente humana “voltar” no tempo e viver os oito minutos finais de alguém que já morreu.

O protagonista descobre que o trem no qual ele estava foi explodido na mesma manhã e sua missão é desvendar qual passageiro do trem é o terrorista, nem que para isso ele precise repetir sua viagem metafísica por várias e várias vezes. E é aqui que “Contra o Tempo” escorrega feio por uma série de razões. A primeira é, obviamente, pela ideia batida da história do personagem que vive repetidas situações por inúmeras vezes – de “Feitiço do Tempo” a “Déjà Vu”, o tema já foi explorado e com resultados variados.

Histórias sobre viagem no tempo e/ou realidades alternativas exigem um cuidado milimétrico para não deixar furos, e o roteiro de Ben Ripley (“A Experiência 3” e 4) não escapa das armadilhas – basta o espectador começar a fazer perguntas, do tipo “e o que acontece com o homem que tem o corpo tomado por Gyllenhall?

Mas, talvez, o maior pecado de “Contra o Tempo” esteja justamente no que deveria ser seu maior trunfo: a ideia da repetição das situações. Jones até consegue impedir o marasmo ao reprisar as mesmas cenas com detalhes diferentes, mas o clima de tensão vira fumaça, afinal se o protagonista não consegue concluir seu objetivo uma vez, basta ele voltar novamente, e novamente, e novamente. Desta forma, por que o espectador precisa se preocupar com a história ou com o que pode acontecer com os personagens, se há a garantia de retorno? (diferente, por exemplo, do que acontece em “A Origem”, o que denota a diferença de qualidade de texto de Christopher Nolan).

Se há um ponto positivo, está nas atuações, com destaque ao trabalho de Vera Farmiga, que consegue transmitir emoções sinceras mesmo contracenando com uma tela de computador. Jeffrey Wright também funciona como o cientista militar meio louco/ meio gênio e Gyllenhaal é eficiente como sempre.

A decepção, mesmo, fica com o trabalho de Jones. “Contra o Tempo” mais parece um exorcismo ao fantasma do 11 de Setembro, com sua proposta de evitar novos ataques terroristas – o personagem de Wright comenta que o experimento é a nova arma na Guerra ao Terror, ainda que as questões éticas escorram pelo ralo (com consequências, vale lembrar, já discutidas bem antes, em “Minority Report”).

Jones poderia ter aprofundado seu filme na questão existencialista ou na opressão do sistema (justamente como aconteceu em “Lunar”), mas o filho do cantor David Bowie investiu num romance sem sentido (tudo bem que Michelle Monaghan é linda, mas peraí...) e num fraco filme de ação, com a típica correria desesperada onde cada minuto importa para evitar um ataque terrorista. Aliás, Jack Bauer já fez isso por sete anos.

2 comentários:

  1. Ficção Científica muito interessante essa.
    Eu gostei.

    João Linno
    http://www.cinemosaico.com

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  2. Discordo. Acho um filme bem escrito e bem conduzido. Funciona como ficção científica inteligente ao deixar seu tema ecoando após a sessão, além de, como menciona Roger Ebert, ter uma certa poesia na forma com que observa sua história. Jones soube usar um maior financiamento para fazer um filme mais comercial, mas sem se perder no caminho. Jeffrey Wright, a meu ver, é a única coisa que destoa na produção.

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