quinta-feira, 18 de agosto de 2011

LANTERNA VERDE - Crítica


Lanterna Verde peca por adotar tom infantil



Após as boas surpresas com X-Men – Primeira Classe e com Capitão América – O Primeiro Vingador, chega aos cinemas brasileiros o decepcionante Lanterna Verde, filme que resgata todos os defeitos das adaptações cinematográficas de super-herói realizadas antes dos anos 2000: história infantil e rasa, protagonista sem carisma, foco nos efeitos especiais e sem qualquer preocupação com o desenvolvimento dos personagens ou realismo.

Lanterna Verde, na verdade, sempre foi uma tragédia anunciada: as notícias sobre o atraso na pós-produção do filme devido ao excesso do uso de computação gráfica – que, inclusive, necessitou de mais injeção de dinheiro para a conclusão dos efeitos – já haviam acendido um sinal de alerta em quem acompanha o herói da DC Comics.


A escolha de Ryan Reynolds como Hal Jordan também não ajudou muito: além de já ter participado de outros dois filmes sobre personagens de HQ que incomodaram os fãs (Blade Trinity e X-Men Origens: Wolverine), Reynolds ainda não havia entregado uma atuação de grande destaque para o grande público, enquanto as outras adaptações de sucesso traziam como protagonistas atores respeitados e carismáticos, como Robert Downey Jr. (Homem de Ferro), Christian Bale (Batman), Hugh Jackman (Wolverine), Tobey Maguire (Homem-Aranha) e Edward Norton (Hulk), por exemplo.


Nem mesmo a escolha de Martin Campbell – que já havia trabalhado com outros dois personagens consagrados pela cultura pop (Zorro e James Bond) –para a direção salvou o resultado final, em grande parte por culpa do roteiro fraco, que passou por muitas mãos (Greg Berlanti, Michael Green, Marc Guggenheim e Michael Goldenberg). Campbell ficou preso a uma história boba e rasa, cujo foco está nos efeitos especiais e não nos personagens. Causa até estranheza pensar que Lanterna Verde saiu da mesma casa que produziu os dois últimos filmes de Batman – produções cujas características são exatamente opostas ao apresentado aqui.

Se há um ponto em comum entre os recentes longas-metragens do homem-morcego e do Lanterna Verde, é a importância que a história dá ao sentimento do medo. De acordo com o filme, há dois poderes no universo que se equivalem: a força de vontade (que gera uma luz verde) e o medo (que produz uma luz amarela). A Tropa dos Lanternas Verdes é um grupo de guerreiros intergalácticos que utiliza o poder da força de vontade para manter a paz no universo. Mas o reaparecimento de um antigo inimigo provoca a morte de um integrante da Tropa e sua automática substituição por outro candidato no planeta mais próximo – e o anel do poder escolhe Hal Jordan (Reynolds), um piloto de caças irresponsável, porém de bom coração.


Se a sinopse parece infantil, é porque é isso mesmo. O roteiro não se preocupa em aprofundar a personalidade de Jordan, deixando questionável a sabedoria do tal anel do poder (Hal Jordan é o melhor ser humano que há na Terra? Não é à toa que o mundo está desse jeito, então...). Nada contra ter um protagonista inconsequente e irresponsável, até porque é justamente a sua jornada que irá transformá-lo – uma premissa, inclusive, visivelmente semelhante à de Peter Parker/Homem-Aranha e seu “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Mas o roteiro não faz um desenvolvimento plausível e Reynolds não consegue preencher esse vazio com qualquer carisma – basta compará-lo com Robert Downey Jr. e seu também irresponsável Tony Stark.


Assim como acontece em Batman Begins, o medo é o que movimenta as engrenagens da história. O sentimento é citado várias vezes, já que o protagonista possui um trauma no passado que se reflete em seu presente. No entanto, a questão é abordada de forma extremamente superficial, sem qualquer profundidade psicológica. Basta comparar com os filmes de Nolan, em que o medo é estudado tanto na forma individual (é o motivo pelo qual Bruce Wayne transforma-se em vigilante, inclusive usando sua fobia como símbolo) como coletiva (os planos do Coringa e seus “estudos sociais”). Também vale lembrar que Batman Begins estreou em 2005, quando a sensação de medo tinha um contexto bastante relevante, afinal os Estados Unidos ainda viviam sobre o clima de temor pós-11 de Setembro e com as campanhas midiáticas de Bush sobre sua “Guerra ao Terror”.

Em Lanterna Verde, o medo não é aprofundado de nenhuma forma, Reynolds não consegue ir além de levantar a sobrancelha quando se mostra preocupado e qualquer clima de tensão vai embora com as piadas que aparecem (e funcionam), principalmente as do colega de Jordan, Tom Kalmaku (Taika Waititi).

Então se o foco do filme não está nos personagens é porque a preocupação está em outro lugar e a pressa em transformar Hal Jordan em Lanterna Verde tem a visível finalidade de explorar os poderes do anel. Até aí não teria problema, se fossem usados com alguma coerência. Um exemplo? Numa cena, um helicóptero está caindo em direção ao par romântico de Jordan, a bela Carol Ferris (Blake Lively). Para protegê-la, ele poderia ter feito diversas coisas práticas, como retirá-la do lugar, ter erguido uma parede em sua frente, ou simplesmente pegar a aeronave com mãos gigantes, mas ele faz o mais difícil: transforma o helicóptero numa espécie de carro e cria um imenso autódromo ao redor dos convidados da festa, fazendo o veículo andar até perder a força. Por quê?



É inegável, no entanto, que os efeitos digitais são competentes, inclusive na interpretação dos personagens alienígenas – caso de Mark Strong, ótimo como Sinestro, um Lanterna Verde impulsivo e arrogante. As cenas no planeta Oa, sede da Tropa dos Lanternas, deve servir de colírio aos fãs da HQ devido à enorme quantidade de personagens e referências escondidas pela tela. Mas não há nada que justifique o uso do 3D.

Outro grande equívoco da produção foi a opção por dois vilões: Parallax, uma entidade cósmica que se alimenta de medo, e o humano Hector Hammond (Peter Sarsgaard), um cientista que passa a ter poderes e fica maligno após entrar em contato com o corpo de um Lanterna Verde morto. Ao dividir a atenção entre esses dois inimigos, em vez de aumentar, o roteiro diminui o tom de ameaça – aliás, o personagem de Sarsgaard parece até mais perigoso do que o próprio Parallax, o grande vilão da história.

As bilheterias norte-americanas e em diversos países ficaram abaixo do esperado, refletindo a qualidade do filme e, apesar de seu final deixar uma ponta promissora, uma continuação não está garantida – coisa raríssima hoje em dia em Hollywood, o que atesta o descontentamento da própria Warner com o resultado final.


Após o sucesso de público e de crítica de Batman – O Cavaleiro das Trevas, Lanterna Verde é um grande retrocesso para o estúdio. Quem sabe numa próxima vez os produtores tenham mais força de vontade e menos medo de ousar num filme de super-herói. 

Um comentário:

  1. Opa, boa crítica.
    Também fiz um crítica no meu humilde blog:

    http://cinelogin.wordpress.com/2011/08/21/lanterna-verde-critica/

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