
Para divulgar o filme, Carvana, Tarcísio Meira, Gregório Duvivier e Herson Capri participaram de uma coletiva de imprensa para falar sobre a produção, os personagens, o cinema brasileiro e a vida de ator.
Afinal, a arte de interpretar e as dificuldades dos profissionais que não estão no mainstream são alguns dos tópicos do longa. Na trama, Tarcísio Meira vive um ator aposentado que vive de pequenos golpes enquanto seu filho (Duvivier), também ator, aceita o convite de uma grande empresa para fingir ser um guru indiano durante uma semana em troca de uma boa grana.

O assunto é caro a Carvana, como ele deixou claro já em sua estreia na direção, com Vai Trabalhar, Vagabundo, de 1974. "Não Se Preocupe..." é seu oitavo filme como diretor, e o cineasta não nega o orgulho que tem de sua filmografia.

E Tarcísio Meira volta aos cinemas depois de 21 anos (seu último filme foi Boca de Ouro, dirigido por Walter Avancini em 1990) para estrelar o novo malandro de Carvana. Ramon Velasco foi um ator de sucesso no passado, mas que agora apronta pequenos golpes enquanto seu filho faz pequenas apresentações de stand-up Brasil afora.

Mas a vida dos profissionais da atuação nem sempre é iluminada pelos holofotes da TV e o jovem ator Gregório Duvivier tem consciência disso. “Foi bom poder falar dessas pessoas que escolhem outro caminho, que não estão no mainstream, afinal há tanta gente talentosa por aí que o grande público não conhece. Acho bonito isso, esses atores que não têm problema com o anonimato, que não buscam a fama, mas o contato com o público, que é a natureza desta profissão.”

O personagem criado por Duvivier é o hilário Bob Savanandra, um guru indiano cujo sotaque é, ironicamente, hispânico. “Me perguntei: ‘de quem a gente lembra quando pensa em esotérico trambiqueiro?’ Walter Mercado. Então foi nele que me inspirei”, contou o ator, que despontou em 2009 após sua participação no cultuado longa-metragem Apenas o Fim.

“Os dois têm em comum a questão de não ser industrial e sim autoral. ‘Não Se Preocupe...’ é uma comédia rasgada, mas vira um policial, é algo que torna o filme diferente do que se espera. Tem também aquela cena bonita e triste do ator desempregado falando sobre acabar na fila do INSS. É comédia, mas com veia autoral. Tem a cara do Carvana.”
E como o cineasta que traz dezenas de filmes no currículo vê a atual fase do cinema brasileiro? “Vejo bem. Digo isso porque tenho quase 60 anos de cinema e já passei por tantas situações que posso dizer que hoje está bem”, garante Carvana. O diretor lembra que a produção nacional evoluiu muito na questão técnica, com notável melhora na captação de áudio, projeção nas telas, conforto das salas e até maior exigência do público.
“Não há mais espaço para a velha frase ‘Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça’. Essa fase romântica foi bonita, participei dela e tenho muito orgulho, mas não dá mais. A pessoa até pode sair filmando com uma câmera, mas ele sabe que, no mercado competitivo que se tornou o cinema brasileiro, terá dificuldade de exibir seu trabalho.”
Para o cineasta, é justamente a distribuição o calcanhar de Aquiles do cinema nacional. Ele lembra que é preciso criar mais circuitos exibidores e alternativos para que a produção brasileira possa, de fato, chegar ao público.

Carvana já está com seu próximo projeto engatilhado: a sequência de A Casa da Mãe Joana, produção de 2008 que trazia Paulo Betti, José Wilker, Pedro Cardoso e Antônio Pedro como os malandros que não gostam de trabalhar. Ele brincou com a ideia que teve para continuar a história: “Farei uma incursão no espiritismo, que está em moda”, disse, quase sem parar de rir.
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