Padilha inicia o filme com uma longa tomada aérea da imensidão das favelas nos morros cariocas. Enquanto o helicóptero passeia pelo complexo de barracos que se formaram ao longo dos anos, percebemos que a tomada é uma metáfora visual sobre o tamanho da pobreza e desigualdade social que assola nosso país. Isso fica evidente quando a câmera vai se afastando do subúrbio e dos morros e alcança os enormes prédios da classe média, passando pelos cartões postais que insistem em carimbar o Rio de Janeiro como a “Cidade Maravilhosa”.
Entrecortado por depoimentos de algumas reféns, de policiais que participaram da operação, e de psicólogos e especialistas na área criminal, o documentário procura entender quem era Sandro Nascimento, como foi sua infância, sua adolescência e, finalmente, o que o levou a tomar uma atitude desesperada de sequestrar um ônibus e virar notícia nacional. E uma das mais chocantes revelações é o fato de Sandro ter sido um dos garotos sobreviventes da Chacina da Candelária.
Numa investigação mais profunda, é revelado, também, que Sandro viu sua mãe ser degolada na sua frente. Sem família, foi parar nas ruas. Com diversas passagens pelas vergonhosas instituições socioeducativas, vamos descobrindo o tratamento desumano do qual milhares de jovens passam em todas as regiões do Brasil. Não há dúvidas de que a história de Sandro era uma tragédia anunciada.
Apesar de causar risos quando uma das reféns conta que, durante o sequestro, ela atendeu o celular e avisou ao patrão que chegaria um pouquinho atrasada, pois estava em um assalto, vemos como a situação da violência virou rotina e faz parte do nosso dia-a-dia, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Triste, porém, é ver como a polícia carioca estava despreparada para atuar numa situação que exigia, acima de tudo, calma e comunicação.

A conclusão da história, e do filme, causa apreensão, angústia, desapontamento, revolta... é difícil classificar qual sentimento bate mais forte quando descobrimos que uma das balas que matou a refém saiu da arma do policial que tentou atirar em Sandro. Mas isso não é tudo. O sequestrador foi morto dentro do carro do Bope, por estrangulamento. Vemos, então que o ciclo se fechou: Sandro escapou da Candelária, mas morreu nas mãos da Polícia, anos mais tarde. Ao vivo, na tevê.
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