Atriz francesa apresentou-se em São Paulo e Rio para divulgar “Postiche”
“Quatrocentas toalhas brancas? Essa deve ter sido a Sharon Stone, não eu”, comentou em tom de ironia a atriz francesa Catherine Deneuve ao negar a postura de diva do cinema. “Diva, em primeiro lugar, é um termo para ópera. Para as atrizes de cinema é algo meio pejorativo, parece alguém cheio de caprichos”.
É curioso notar que a frase foi dita entre um e outro cigarro durante uma coletiva de imprensa em São Paulo – cidade em que é proibido fumar em locais fechados. É claro que Deneuve não foi importunada em momento algum – vantagens de ser diva.
Ícone do cinema mundial, a atriz está no país para divulgar o filme Potiche – Esposa Troféu, exibido na abertura do Festival Varilux de Cinema Francês 2011, que acontece simultaneamente em 22 duas cidades brasileiras.
No Rio de Janeiro, Deneuve voltou a conversar com os jornalistas e comentou seu incômodo com a repercussão da história do cigarro: “Se soubesse, não teria fumado. Estou aqui para falar de Potiche e não para parecer uma fumante compulsiva. Sou absolutamente contra o politicamente correto. Fiz uma viagem longuíssima para falar do filme e o que vai ficar é ‘ih, ela fumou’. Francamente!".
Pois é o sexo que traz novamente Catherine Deneuve aos cinemas, desta vez de uma forma mais política. Potiche se passa na década de 1970, momento das revoluções socioculturais, como o feminismo. A atriz vive uma dona de casa submissa casada com um machista dono de uma fábrica de guarda-chuvas. Num dado momento, o homem fica doente e ela toma as rédeas da fábrica e da vida.
“O que me seduziu em Potiche foi o lado alegre dessa história e também por voltar a trabalhar com (François) Ozon após ter filmado com ele Oito Mulheres. Deneuve não nega que já viveu uma situação semelhante à da personagem e lamenta que muitas das relações sejam verticais. “Todos em sua vida tiveram a oportunidade de ser um objeto, estar ao lado de alguém sem poder expressar suas ideias, opiniões. Homens, inclusive – existem muitos homens-objeto por aí, que só servem de decoração para suas mulheres”.
Estrela do cinema que é, Catherine Deneuve foi questionada sobre a indústria do entretenimento e da exploração da vida particular das celebridades e não negou seu inconformismo: “Parece que estamos vivendo a realidade imaginada por George Orwell no romance 1984”, declarou, mas deixou claro que não há a necessidade de um comportamento agressivo por parte do artista: “Sempre achei que há coisas da nossa vida que não dizem respeito a ninguém. Não é porque fazemos filmes que podem nos perguntar qualquer coisa. E, bom, se acho uma pergunta inadequada, não respondo”.
Por isso mesmo ela defende o diretor Lars Von Trier, que envolveu-se numa polêmica no Festival de Cannes deste ano ao afirmar que sentia-se nazista e compreendia o ponto de vista de Hitler. “Ele é sempre extremamente provocador, mas é preciso relativizar as coisas. Foi uma piada de mau gosto, mas ainda bem que o filme (Melancolia) permaneceu na competição e rendeu à Kirsten Dunst o prêmio de melhor atriz”. Deneuve já havia trabalhado com o cineasta dinamarquês em 2000, com o filme Dançando no Escuro.
E é por sua grandiosa carreira que ela pode falar com propriedade sobre o exagerado culto à beleza e à juventude que reina no cinema norte-americano. “Hollywood é Hollywood, cada cultura tem suas fantasias e seus excessos. Pessoalmente, eu lamento. Acredito que a gente envelhece melhor na Europa e nos países latinos”.
Pois aos 67 anos, a idade realmente lhe fez bem e Deneuve acredita que sua beleza vai além do lugar em que mora: “Minha mãe é uma mulher bonita até hoje, então acho que a genética ajuda. Mas também me protejo do sol, tomo bastante água e como legumes cozidos. Só não deixo minha vida se restringir a isso”, garante a musa que, de fato, não se nega o prazer de seu cigarro.
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