domingo, 2 de outubro de 2011

Dexter, sangue e Jesus Cristo


“Dexter” sempre causou muita polêmica desde que estreou na televisão americana, em 2006. Para quem nunca ouviu nada sobre a série, nem é preciso explicar muito: basta dizer que o protagonista (Michael C. Hall) é um serial killer que mata friamente suas vítimas – outros assassinos seriais, o que talvez lhe garanta o adjetivo de “herói”. Pois a sexta temporada, que estreia nos Estados Unidos no domingo (02/10), deve gerar ainda mais controvérsia, com a adição de um novo ingrediente: religião.

“Esta temporada é sobre Dexter tentando descobrir se deve ensinar a fé ao seu filho Harrison”, instiga a produtora executiva Sara Colleton. “Mas, para fazer isso, ele mesmo precisa descobrir o que é a fé”. Nos dois últimos anos, Dexter passou por maus bocados, já que ficou viúvo e, em seguida, sofreu uma desilusão amorosa. A sexta temporada se passa um ano após o último episódio da quinta temporada, e o período de luto já ficou no passado. “Veremos Dexter mais forte do que nunca”, garante Scott Buck, também produtor do seriado.

Mas não é só o comportamento do serial killer “bonzinho” que passará por grandes mudanças esse ano. Novos personagens entram na série, sendo três deles potenciais vilões: O “Irmão Sam” (Mos Def, deRebobine, Por Favor”), um ex-presidiário que tem como missão na vida ajudar outros presos; Geller (Edward James Olmos, de “Blade Runner”), um renomado professor de teologia; e o fanático religioso Travis (Colin Hanks, da série “The Good Guys”), restaurador do departamento de antiguidades do museu de Miami.

Colin Hanks nem se dá ao trabalho de fazer segredo sobre seu papel na história. “Sou o vilão”. É curioso pensar no ator, que vinha de uma série de comédia cancelada (“The Good Guys”), caminhar por uma trilha sempre rejeitada pelo seu pai, o astro Tom Hanks. E esta não é a primeira vez que interpreta um religioso: num dos episódios de “Mad Men”, ele foi um padre. Mas Hanks logo deixa claro a diferença entre os personagens: “O padre Gill era um homem muito, muito bom. Já Travis é o seu oposto”.

Travis terá a orientação do misterioso professor Geller, interpretado pelo veterano Edward James Olmos, cujo último trabalho foi o seriado “Battlestar Galactica”. Olmos diz não acreditar que os fãs de “Dexter” sejam religiosos, mas, se forem, ele espera que o público saiba lidar com o assunto. “Toda vez que se mistura o bem e o mal, você é levado a uma jornada incrivelmente difícil”. O ator, que não conhecia a série e decidiu assistir a todas as temporadas para entrar no clima, ficou espantado com o que viu. “Este é o trabalho mais sombrio da minha vida. Acho que nunca houve algo tão ‘dark’ na televisão”.

Em contrapartida a tantos personagens sombrios, chega também à sexta temporada a babá Jamie Batista (Aimee Garcia), que deve deixar mais leve a difícil missão de Dexter em ser um pai solteiro. A jovem é a irmã mais nova do sargento Angel Batista (David Zayas), estuda Psicologia Infantil e passa a morar na casa do perito em respingos de sangue para cuidar do bebê, agora com dois anos de idade. “Jamie é despreocupada e divertida, é o tipo de energia positiva que Dexter quer ter ao redor de Harrison”, explica Aimee. “A química entre eles provoca uma dinâmica interessante. Ela meio que representa a ‘vida’, enquanto ele a ‘morte’, como uma espécie de Yin Yang”.

E seria essa garota o novo amor do “serial killer do bem”? A atriz vê esperanças nessa possibilidade. “Eles estão em quartos próximos e ela é, de certa forma, uma espécie de mãe de seu filho, já que é ela quem troca suas fraldas e o alimenta. Harrison é tudo para Dexter, logo quem cuida dele tem um bom lugar em seu coração.” Não é o que pensa o próprio Dexter, ou melhor, Michael C. Hall, que dá sua opinião de forma tão objetiva e técnica quanto o sociopata que interpreta: “Acho que ele está desconectado de qualquer apetite consciente para uma conexão romântica neste momento”. A resposta racional de Hall contrasta com o excesso de emoções vividas pelo americano no ano passado: além de ganhar o Globo de Ouro como melhor ator de série dramática (depois de outras três indicações anteriores), ele foi diagnosticado com câncer linfático. O tratamento, felizmente, foi rápido e Hall já está recuperado.

E ele começa a rascunhar uma carreira no cinema, inclusive em gêneros diferentes dos quais o público está acostumado a enxergá-lo. Em 2009, ele participou da ficção científica “Gamer”, de Mark Neveldine e Brian Taylor; Hal também integra o elenco de “Peep World”, comédia ainda sem previsão de lançamento dirigida por Barry W. Blaustein. Mesmo em se tratando de futuros trabalhos na televisão, Hall não esconde sua vontade de explorar novos horizontes. “Quero fazer algo que não exija que eu fique rodeado por cadáveres”, ele brinca, se referindo não apenas a “Dexter”, mas também à série anterior em que trabalhou por cinco temporadas, “A Sete Palmos” (Six Feet Under), na qual interpretava um agente funerário.

Mas se o próprio Hall já está pensando em trabalhos futuros, isso significa que “Dexter” está chegando ao fim? “Eu realmente não sei, mas certamente está chegando o momento de começarmos a pensar sobre como o jogo vai acabar”, cogita o ator. Já o produtor executivo Scott Buck nega imediatamente: “Para ser honesto, ainda não entramos nessa discussão. Quero dizer, chegaremos a ela, mas ainda não estamos trabalhando num final”. A também produtora Sara Colleton faz coro: “Quando sentirmos que não temos mais território inexplorado para levar ‘Dexter’, paramos com a série”.

Veteranos do elenco também já começam a se perguntar o destino do programa, como o ator porto-riquenho David Zayas, que interpreta o sargento Batista, colega de Dexter. “Enquanto eles continuarem reinventando o seriado a cada ano, quem sabe por quanto tempo ainda pode durar? Só sei que tenho me divertido muito e sempre quero saber como vai ser o próximo episódio”. O divertido C.S. Lee, responsável pelo alívio cômico da série com seu personagem Vince Masuka, é mais irônico. Lee torce para que Dexter não tenha seus segredos homicidas revelados, mas não deseja necessariamente um final feliz para o serial killer. “Poderia ser algo totalmente imprevisível, fora do comum, tipo ele estar andando na rua e uma estátua cair na sua cabeça ou ser atropelado por um ônibus”, diverte-se o ator de descendência coreana.

Seja como for, e quando for, o final da série, parece que é um bom momento para Dexter começar a rezar.

CONTRA O TEMPO - Crítica


Depois de uma espetacular estreia em 2009 com “Lunar”, a expectativa sobre o segundo filme de Duncan Jones era grande, mas o resultado é decepcionante. Com um orçamento bem maior do que o primeiro filme (US$ 32 milhões) e um bom elenco em mãos (Jake Gyllenhaal, Vera Farmiga, Jeffrey Wright, Michelle Monaghan), o jovem diretor erra no tom e acaba transformando uma promissora ficção científica num fraco longa-metragem de ação.

Gyllenhall interpreta um piloto de helicóptero do exército americano que acorda durante uma viagem de trem e descobre estar no corpo de outra pessoa. Ele não reconhece seu próprio rosto no espelho e a bela mulher à sua frente (Michelle) insiste em chamá-lo por um nome que não é o seu. Minutos depois, uma bomba no veículo explode e, em vez de morrer, ele vai parar numa espécie de cápsula, onde descobre estar participando de um projeto militar chamado “Código Fonte” (“Source Code”, título original do filme), que permite à mente humana “voltar” no tempo e viver os oito minutos finais de alguém que já morreu.

O protagonista descobre que o trem no qual ele estava foi explodido na mesma manhã e sua missão é desvendar qual passageiro do trem é o terrorista, nem que para isso ele precise repetir sua viagem metafísica por várias e várias vezes. E é aqui que “Contra o Tempo” escorrega feio por uma série de razões. A primeira é, obviamente, pela ideia batida da história do personagem que vive repetidas situações por inúmeras vezes – de “Feitiço do Tempo” a “Déjà Vu”, o tema já foi explorado e com resultados variados.

Histórias sobre viagem no tempo e/ou realidades alternativas exigem um cuidado milimétrico para não deixar furos, e o roteiro de Ben Ripley (“A Experiência 3” e 4) não escapa das armadilhas – basta o espectador começar a fazer perguntas, do tipo “e o que acontece com o homem que tem o corpo tomado por Gyllenhall?

Mas, talvez, o maior pecado de “Contra o Tempo” esteja justamente no que deveria ser seu maior trunfo: a ideia da repetição das situações. Jones até consegue impedir o marasmo ao reprisar as mesmas cenas com detalhes diferentes, mas o clima de tensão vira fumaça, afinal se o protagonista não consegue concluir seu objetivo uma vez, basta ele voltar novamente, e novamente, e novamente. Desta forma, por que o espectador precisa se preocupar com a história ou com o que pode acontecer com os personagens, se há a garantia de retorno? (diferente, por exemplo, do que acontece em “A Origem”, o que denota a diferença de qualidade de texto de Christopher Nolan).

Se há um ponto positivo, está nas atuações, com destaque ao trabalho de Vera Farmiga, que consegue transmitir emoções sinceras mesmo contracenando com uma tela de computador. Jeffrey Wright também funciona como o cientista militar meio louco/ meio gênio e Gyllenhaal é eficiente como sempre.

A decepção, mesmo, fica com o trabalho de Jones. “Contra o Tempo” mais parece um exorcismo ao fantasma do 11 de Setembro, com sua proposta de evitar novos ataques terroristas – o personagem de Wright comenta que o experimento é a nova arma na Guerra ao Terror, ainda que as questões éticas escorram pelo ralo (com consequências, vale lembrar, já discutidas bem antes, em “Minority Report”).

Jones poderia ter aprofundado seu filme na questão existencialista ou na opressão do sistema (justamente como aconteceu em “Lunar”), mas o filho do cantor David Bowie investiu num romance sem sentido (tudo bem que Michelle Monaghan é linda, mas peraí...) e num fraco filme de ação, com a típica correria desesperada onde cada minuto importa para evitar um ataque terrorista. Aliás, Jack Bauer já fez isso por sete anos.