Apesar
do excesso de violência, novo “Conan” é inofensivo
Em
1982, Dino De Laurentiis contratou o cineasta John Milius para levar a história
de Conan aos cinemas. A ideia do produtor italiano era que “Conan, o Bárbaro” tivesse
um tom juvenil, porém Milius entregou uma obra violenta e sensual, que se
tornou cult ao longo dos anos. Quase três
décadas depois, o guerreiro cimério ganha outra adaptação cinematográfica
homônima, mas agora o caminho se inverte. Há sangue, há seios à mostra, há cena
de sexo e há mais sangue, mas o resultado é um filme esquecível e bobo.
E o
maior defeito desta nova produção está justamente no que fez a fama do
personagem criado por Robert E. Howard: o uso da violência. Ou melhor, o mau
uso. Marcus Nispel aproveita a experiência adquirida nas refilmagens dos
clássicos sangrentos “Sexta-Feira 13” e “O Massacre da Serra Elétrica” e
não economiza nos litros de sangue e em cenas com membros ou cabeças decepadas.
Mas há um problema: não há qualquer dramaticidade nos atos violentos, o que
reduz sua importância ou simplesmente a banaliza.
Veja
bem, não há qualquer implicação sobre o uso da violência como mero
entretenimento: qualquer obra de QuentinTarantino é um exemplo disso. E é claro
que não se espera um estudo sobre o assunto à
la Michael Haneke num filme de Conan, mas quando um ato de brutalidade é
filmado, ele deve causar impacto visual ou emocional.
Basta
analisar a cena inicial, que mostra o nascimento do herói. Em pleno campo de
batalha, uma mulher grávida é mortalmente ferida. Ela quer ver o filho antes de
perecer, então seu marido (Ron Perlman) pega uma faca – ensanguentada, já que
minutos antes foi utilizada em algum inimigo – e, com um golpe, realiza uma
cesariana e extrai o bebê. É uma cena forte, ou ao menos deveria ser. No lugar
de repulsa, é possível que arranque risos involuntários do público.
Esse
é o tom do novo “Conan”, ignorar os personagens e partir logo para a espada na
barriga. Talvez isso explique o porque do roteiro de Thomas Dean
Donnelly e Joshua Oppenheimer ser um “filme de origem” que não mostra
a origem do protagonista. Do simbólico nascimento, a história avança alguns
anos, mostrando o garoto com habilidades assassinas que presencia o massacre da
comunidade e a morte do pai para, logo em seguida, fazer mais um grande salto
no tempo e mostrar o protagonista já adulto e bárbaro assassino formado. A
impressão que fica é que o importante sobre o herói está escondido justamente
nestas elipses.
É
engraçado pensar que os produtores acertaram no que seria mais difícil: quem
substituiria Arnold Schwarzenegger no filme que o consagrou? A escolha por Jason
Momoa é até óbvia após sua participação na minissérie televisiva “Game
of Thrones”, já que seu Khal Drogo é uma versão genérica do bárbaro
cimério. E o ator havaiano cumpre bem o papel, aliás dando a Conan uma
personalidade mais próxima do imaginado por Howard: em vez do brucutu calado, um
sujeito malandro e carismático.
Mas
Momoa não é capaz de segurar o filme sozinho com uma história tão fraca, cujo
prólogo lembra muito “O Senhor dos Anéis”. O guerreiro Khalar Zym (Stephen
Lang, de “Avatar”) atravessa todo o continente Hiboriano massacrando aldeias e
recuperando partes de uma máscara sagrada que, quando completa, lhe dará
poderes místicos e permitirá ressuscitar sua esposa. Após chegar à idade
adulta, Conan vê a oportunidade de vingar-se do vilão e de sua filha, a bruxa
Marique (Rose McGowan, a garota com perna de metralhadora em “Planeta Terror”).
E é
só isso. Uma história simples de vingança com cenas de ação mal elaboradas e
uma edição repleta de cortes que não valoriza a estética dos combates. Para
piorar, do segundo para o terceiro ato há a adição de um par romântico que
quebra o clima, já que não há química entre Momoa e Rachel Nichols. Enfim, “Conan, o Bárbaro” “finge” ser transgressor. Entrega, de fato, os
elementos que fizeram a mitologia criada por Howard: estão lá a brutalidade, a
nudez e a magia. Mas é tudo tão frio quanto a espada do herói.
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