domingo, 11 de setembro de 2011

LARRY CROWNE - Crítica


"Larry Crowne" usa crise econômica para refletir relações humanas


A crise financeira mundial, que explodiu no final de 2008 e que parece voltar com força agora em 2011, já está dando suas caras no cinema americano tanto por meio de documentários como nas ficções. Quem deu o primeiro passo, como já era esperado, foi Michael Moore, com Capitalismo – Uma História de Amor, ainda em 2009. No ano seguinte, Charles Ferguson realizou Trabalho Interno, obra que faturou este ano o Oscar de Melhor Documentário. Em 2010, Oliver Stone também tocou no assunto ao realizar Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme, sequência do longa-metragem de 1987.

Em 2011, três grandes produções abordam o tema: os ainda inéditos Margin Call, de J.C. Chandor (com Kevin Spacey, Jeremy Irons e grande elenco), The Company Men (com Ben Affleck, Chris Cooper e Tommy Lee Jones) e o novo filme de Tom Hanks, Larry Crowne – O Amor Está de Volta, uma comédia romântica que também traz a recessão norte-americana como pano de fundo.

Aqui, Hanks interpreta o sujeito que dá título ao filme – um trabalhador exemplar de uma grande empresa que, sem mais nem menos, é demitido. A justificativa é que Crowne não havia feito qualquer curso universitário ao longo de sua carreira na firma, mas fica claro que o motivo real eram os cruéis “cortes de gastos”.

Completamente perdido após o trauma e endividado por causa da hipoteca, o sujeito que dedicou-se por anos a uma empresa que o chutou na primeira oportunidade decide ir à luta e matricula-se num curso de oratória numa universidade. Lá, perceberá como está perdido entre a geração dos smartphones. E a maior qualidade deste filme é justamente brincar com a dicotomia antigo x moderno e os créditos devem ser dados a Tom Hanks, que assumiu o roteiro, em parceria com Nia Vardalos (autora de Casamento Grego), e a direção – 15 anos depois de sua estreia em The Wonders - O Sonho não Acabou (1996).

E Hanks mostra que aprendeu muito a conduzir uma narrativa com os grandes diretores com quem trabalhou ao longo da carreira (entre eles, os irmãos Coen, Jonathan Demme, Robert Zemeckis e Steven Spielberg). Afinal, o astro consegue fugir do clichê justamente no gênero mais previsível do cinema: a comédia romântica. Basta olhar o cartaz do filme, que já entrega de cara que o protagonista ficará com sua professora, interpretada por Julia Roberts. Aqui, o importante não é o fim, mas o meio.

É curioso ver o próprio cinquentão Hanks aceitando a velhice chegando, como na cena em que precisa ajeitar os óculos para melhorar a leitura – enquanto sexagenários como Sylvester Stallone (Mercenários, Rambo IV) e Harrison Ford  (Cowboys & Aliens, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, Firewall) tentam perpetuar a imagem de heróis de filmes de ação. Até mesmo a grande estrela Julia Roberts desce do pedestal de musa (como visto recentemente em Comer, Rezar, Amar) ao dar vida à professora Mercedes Tainot, uma mulher comum, mal-humorada, sem qualquer sex appeal ou maquiagem para cobrir suas rugas – seu marido (o ator Bryan Cranston) diz numa cena que a esposa é uma tábua de passar. É mesmo.

Ao questionar a própria idade, o roteirista e diretor Tom Hanks se pergunta em qual mundo está vivendo e, como já conhecemos pelo trabalho anterior e pelas produções que participou anteriormente, sua visão é otimista e esperançosa. Hanks mostra que passado e presente podem dialogar sem conflito, seja misturando Feng Shui com GPS ou colocando os motoqueiros como a turma mais cool da universidade – mas eles não pilotam Harley-Davidsons, e sim lambretas.

O mesmo acontece com as brincadeiras gráficas que o diretor faz com as trocas de mensagens de texto dos celulares, mostrando na tela do cinema os caracteres, como se o próprio espectador estivesse recebendo o SMS. É uma ideia muito divertida, principalmente porque a maior parte acontece durante as aulas do professor vivido por George Takei (outro símbolo do passado, o Hikaru Sulu da série Star Trek).

No fundo, a proposta do filme é resgatar as relações humanas, priorizar o coletivo em detrimento do individual – não à toa, os motoqueiros descolados são compostos por homens, mulheres, brancos, negros, latinos... Diferente de, por exemplo, À Procura da Felicidade, onde Will Smith precisa enfrentar – e vencer – todo o sistema sozinho, Larry Crowne privilegia o grupo. Talvez isso explique a farpa mais afiada que é direcionada ao fenômeno das redes sociais virtuais, representada pelo marido da professora vivida por Julia Roberts: o sujeito, que finge trabalhar em casa escrevendo para um blog (mas passa a maior parte do dia vendo pornografia) é um babaca repugnante.

Com tanto escapismo em cartaz, é ótimo ver uma produção tão simples ter tanto a dizer – e refletir sua época. A boa química entre os atores, o humor leve e o clima esperançoso dão a Larry Crowne um forte clima de “Sessão da Tarde” – mas aqueles especiais, como Curtindo a Vida Adoidado ou o próprio The Wonders, trabalho anterior de Tom Hanks.

        Ah, sim. O filme também é uma história de amor.


Um comentário:

  1. Amei o filme, acabei de assistir ao acaso no CINEMAX. Li outras críticas e achei super injustas . Sua crítica é muito mais coerente . É um filme que prende atenção, tem um humor leve e despretencioso.

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