Considerado
por muitos o novo processo evolutivo do cinema (como já havia acontecido
décadas atrás com a inclusão do som e das cores), o 3D vinha sofrendo
constantes ataques tanto por parte do público quanto da crítica. Diversos filmes
que simulam as três dimensões começaram a apresentar bilheterias abaixo do
esperado (em alguns casos, até inferior à cópia 2D) e as causas podem ser
numeradas: saturação por parte dos espectadores, preço do ingresso mais elevado
e, principalmente, a baixa qualidade de algumas conversões, feitas às pressas
pelo estúdio apenas para arrecadar uns dólares a mais, como o exemplar caso de “Fúria
de Titãs” (de 2010, dirigido por Louis Leterrier).
Mas o
relançamento de “O Rei Leão”, animação de 1994 da Disney, deu novo fôlego ao 3D
e apontou aos estúdios um novo caminho: a conversão de clássicos do cinema ao
formato da estereoscopia. Isso porque o relançamento do desenho do leãozinho
que conquistou o mundo 17 anos atrás custou 10 milhões de dólares e arrecadou
US$ 30,2 milhões no final de semana em que voltou às salas de projeção nos
Estados Unidos – o dobro do esperado pelo estúdio do Mickey Mouse. E o bom resultado
foi além: com 10 dias em cartaz, “O Rei Leão 3D” já havia ultrapassado 60
milhões de dólares e manteve-se em primeiro lugar nas bilheterias pela segunda
semana consecutiva, ficando à frente de quatro estreias de pesos pesados –
“Moneyball” (com Brad Pitt), “Winter, O Golfinho” (com Morgan Freeman), “Sem
Saída” (com Taylor Lautner, da “Saga Crepúsculo”) e “Os Especialistas”
(com Robert De Niro, Clive Owen e Jason Statham).
“Qualquer
dúvida que havia entre os estúdios para relançar ‘Titanic’ praticamente se
evaporou no final de semana passado”, comemorou o cineasta James Cameron, hoje
o maior porta-voz do 3D no cinema. Cameron está trabalhando com a 20th Century
Fox e com a Paramount Pictures na conversão do filme de 1997,
atualmente a segunda maior bilheteria da história, mas ele não está sozinho
nessa empreitada. Os estúdios já acenderam o sinal verde e diversas produções
já estão sendo cogitadas para um retorno no formato tridimensional, enquanto
algumas obras já estão em estágio avançado de conversão, caso da saga “Star
Wars”, de George Lucas, e “Top Gun”, de Tony Scott.
Um fator
decisivo para esse novo fenômeno está na diminuição do custo de conversão dos
filmes devido às constantes melhorias desenvolvidas nos softwares responsáveis
pelo processo. Para se ter uma ideia, há um ano o custo de conversão de um longa-metragem
de duas horas era próximo de 100 mil dólares por minuto; hoje, “Top Gun” está
sendo convertido a um custo aproximado de US$ 25 mil por minuto.
Mas
não é qualquer obra do vasto catálogo de Hollywood que deve ser simplesmente relançada
em 3D. “Você precisa ser criterioso”, avisa Dave Hollis, diretor de
distribuição da Disney. “Há uma lista de exigências a ser cumprida, é preciso
verificar se há os ingredientes corretos: o filme foi um bom negócio na
primeira vez que estreou? Passou o tempo necessário para uma geração que ficou
de fora?”
É o
caso de “O Rei Leão”, que saiu de cartaz há 17 anos, mas continuou próximo do
público devido aos lançamentos em DVD, além de espetáculos frequentes em shows
e peças teatrais. É, também, o caso de “Titanic”, que sempre esteve em
evidência desde 1997. Além de possuir o maior número de Oscar (11 estatuetas, ao lado de “Ben-Hur” e “O Retorno do Rei”), o
drama romântico estrelado por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet sustentava até o
começo de 2010 o título de maior bilheteria da história do cinema – perdendo o
posto para “Avatar”, também dirigido por James Cameron.
“Avatar”,
aliás, exigiu o desenvolvimento de novas câmeras cinematográficas, específicas
para a filmagem em 3D – uma façanha criada pela Cameron | Pace Group, empresa
da qual o cineasta é co-presidente. Para a conversão de “Titanic” no novo
formato, Cameron e os estúdios Fox e Paramount estão investindo US$ 18 milhões
e um ano de atenção especial para que o trabalho fique o mais próximo da
experiência de ter sido filmado em 3D, como ele gostaria. “Todos os meus
objetivos, quando realizei o filme originalmente, serão alcançados com a
conversão”, garante Cameron. “Eu queria levar o espectador a 1912. O 3D faz parecer
mais real, mais visceral. O drama, o romance, o perigo, tudo isso será
aumentado pelo 3D”. O relançamento de “Titanic” está marcado para abril de
2012, quando o naufrágio do navio completará um século.
Mas
Cameron não acredita que as conversões em 3D devem limitar-se a lançamentos
especiais ou comemorativos. “Todos aqueles títulos que estão em nossa
biblioteca, as obras que amamos, seja ele ‘Tubarão’, ‘Star Wars’, o seu filme
favorito pode e deve ser convertido”. Mas o diretor faz uma ressalva: “Mas é preciso
fazer direito e os cineastas devem estar envolvidos”. Tony Scott está
acompanhando de perto o trabalho realizado em “Top Gun”. George Lucas
supervisiona há anos a conversão de sua saga em 3D, que voltará aos cinemas em
fevereiro de 2012, começando por “Episódio I – A Ameaça Fantasma” (os demais
títulos serão relançados nos anos seguintes).
Como
se vê, os relançamentos de filmes convertidos em 3D podem até provocar discussões
calorosas: é uma atitude oportunista dos estúdios? Falta de criatividade de
Hollywood? Ou é a possibilidade dos mais velhos sentirem a nostalgia da
infância ou adolescência, ao mesmo tempo em que os mais jovens têm a
oportunidade de assistir a um clássico no cinema? Seja qual for a resposta, o
fato é que os filmes em 3D são uma realidade. Mais real do que a sensação de
tridimensionalidade proporcionada pelos óculos especiais.
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