terça-feira, 13 de março de 2012

O Espião que Sabia Demais materializa o anti-James Bond


Quando lançou seus livros de espionagem, ainda na década de 1960, John le Carré declarou que suas obras seguiam o caminho oposto ao dos romances de Ian Fleming, criador do herói britânico 007.

Ninguém discute o grau de fantasia sugerido pelos livros e, principalmente, pelos filmes de James Bond sobre o mundo da espionagem, com suas armas mirabolantes, ternos refinados, supervilões e belas mulheres a cada esquina. Mas dá para imaginar a frustração de le Carré ao assistir a essas produções – afinal, ele mesmo foi um agente da MI-5, a inteligência britânica, e sabe muito bem que seria mais fácil encontrar um espião desabafando com seu terapeuta do que saltando de paraquedas com um rifle na mão ou uma caneta explosiva no bolso.

É nesse tom melancólico e realista que se encontra o grande trunfo de “O Espião Que Sabia Demais”, adaptação da obra de le Carré pelo cineasta sueco Tomas Alfredson (“Deixe Ela Entrar”). Com roteiro de Peter Straughan (“Os Homens que Encaravam Cabras”) e Bridget O’Connor (que faleceu em 2010), a adaptação conta a história do agente George Smiley (Gary Oldman), que recebe a missão de descobrir qual de seus colegas do mais alto posto do Serviço Secreto Inglês está trabalhando com os soviéticos durante a Guerra Fria.

Como se vê, é uma sinopse simples, presente em todos os filmes da franquia “Missão Impossível”. Mas “O Espião Que Sabia Demais” retira todo o glamour e ação resfolegante da espionagem, substituindo o charme de um Ethan Hunt por velhos cansados e decepcionados com suas próprias vidas.
Para construir esse universo, Alfredson criou um clima de opressão e claustrofobia, apoiado pela fotografia escura de Hoyte van Hoytema, e ofereceu uma história entrecortada por flashbacks, numa montagem que entrega aos poucos quem são os personagens e para onde eles poderiam ir – como se o próprio espectador estivesse investigando o caso.

Apesar de o diretor ficar conhecido apenas recentemente, ele já é um veterano na direção de filmes e séries na televisão da Suécia e sua experiência fica evidente pela composição dos quadros e movimentos de câmera: os primeiros minutos que apresentam Smiley, por exemplo, se resumem a acompanhá-lo caminhar calmamente pelas ruas de Londres – sem falas. É curioso notar que ele está cercado de grades por onde passa, como se sua rotina o trancafiasse.

Na trama, os espiões são meros funcionários públicos que precisam brigar com os chefes para conseguir financiamento para as missões. Seu entretenimento não é escalar montanhas, mas assistir a TV. O que o incomoda não são os ladrões de seu carro conversível, mas uma mosca dentro do veículo. E ele não conquista mulheres – aliás, sua esposa o deixou.

São detalhes que parecem desnecessários e até supérfluos, mas compõem um quadro complexo, com personagens cheios de facetas (ora suspeitos, ora amigáveis), interpretados por um elenco inglês formidável: além de Oldman, John Hurt, Colin Firth, Toby Jones, Mark Strong, David Dencik, Ciarán Hinds, Benedict Cumberbatch e Tom Hardy, entre outros.

Mas o show é mesmo de Oldman, inspirado como o agente à beira da aposentadoria. Seja no tom de voz, seja na forma de se sentar ou analisar as situações, o ator entrega uma atuação perfeita (como na cena em que rememora o encontro de anos atrás com seu grande inimigo, Karla, líder da KGB), apoiado por ótimas falas – como na conversa com uma ex-espiã (Kathy Burke) sobre a época da 2ª Guerra Mundial, quando a Inglaterra ainda tinha alguma relevância política no mundo.
Curiosamente, a feição melancólica de George Smiley até combinaria com as caras fechadas dos três JBs que dominaram a espionagem no mundo do entretenimento na última década: James Bond (Daniel Craig), Jason Bourne (Matt Damon) e Jack Bauer (Kiefer Sutherland). Mas o discretíssimo sorriso de Gary Oldman no final do filme, ao som de “La Mer”, mostra qual deles poderia, de fato, existir no mundo real.

A Dama de Ferro - Crítica


“Carinhosamente” apelidada de “Dama de Ferro” pelos soviéticos durante a Guerra Fria, a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher é uma das figuras mais controversas do século 20. Única mulher a alcançar o mais alto cargo político do Reino Unido, Thatcher dividiu e divide opiniões até hoje sobre seu legado: ela foi responsável por planos econômicos que privilegiaram privatizações e a rédea solta no mercado financeiro – o que, para muitos, salvou a Inglaterra da recessão. Para outros, no entanto, sua conduta aumentou a divisão entre ricos e pobres e marcou um retrocesso nas reformas sociais e nos serviços públicos. Heroína ou vilã, “A Dama de Ferro”, novo filme de Phyllida Lloyd (“Mamma Mia!”, de 2008), não tem a menor pretensão de encontrar o lugar histórico da personagem.

A ideia de alguém repressor ou agressivo, provocado pelo irônico título, cai por terra já na cena inicial, que mostra Thatcher nos dias de hoje, aos 80 anos e anônima, tentando comprar leite num mercadinho. A fragilidade da personagem é ainda mais evidenciada na cena seguinte, quando ela chega em casa e começa a reclamar do preço do produto ao seu marido, Denis (Jim Broadbent), e imediatamente é revelado que ele não existe – Thatcher sofre de Alzheimer, com perda da memória e frequentes alucinações. E é este o caminho escolhido pelo roteiro de Abi Morgan (“Shame”): explorar a vulnerabilidade da protagonista e abster-se de comentários políticos mais incisivos.

Há aqueles que podem se incomodar, e não sem razão. Em plena época de movimentos como o Occupy Wall Street e as revoltas populares em toda a Europa devido à crise econômica, seria interessante conferir, no cinema, a visão política de uma das maiores defensoras do neoliberalismo. O filme, de fato, adota a perspectiva de Thatcher, porém de forma superficial e, na maioria das vezes, sem analisar as consequências de suas atitudes, sejam elas positivas ou negativas.

Assuntos de extrema importância para a história recente britânica, como os ataques a bomba do IRA (Exército Republicano Irlandês) e a questão separatista da Irlanda do Norte, além do clima de decadência do império passam rapidamente na tela, sem que se convide o espectador a refletir e tomar partido.

O único momento em que Phyllida arrisca-se a opinar é durante a cena da aula de direção de Thatcher à sua filha, Carol (Olivia Colman). Para evitar uma colisão com um ciclista, a primeira-ministra ordena à filha: “Vá para a direita”. A moça responde: “Mas se eu for para a direita, não estarei no caminho errado?”. Thatcher reforça e pega no volante: “Vá para a direita!”, ela grita, quase batendo o carro. A cena, ainda assim, permite uma analogia sobre o direitismo inerente de Thatcher, mas também insere a dúvida: a direita é o lado errado?

Phyllida não ignora as revoltas e a insatisfação do povo diante das medidas econômicas da Primeira Ministra (são mostradas imagens de arquivo de protestos e repressão policial), porém nunca fica claro de fato os resultados do thatcherismo.

O longa tampouco aprofunda um dos momentos mais tensos de seu mandato de 11 anos: a Guerra das Falklands/Malvinas. O conflito pela recuperação do arquipélago pelo Reino Unido causou a morte de quase 1000 pessoas entre ingleses e argentinos, e, exceto por um diálogo afiado com um diplomata norte-americano, não são mostrados os bastidores da crise (como a coerção de Thatcher, obrigando os franceses a colaborar na guerra).

Mas tudo isso pode ser relativizado pelo fato de “A Dama de Ferro” não ser um filme político, e sim um estudo de personagem. Nesse caso, revela-se eficiente em seu objetivo, ainda que, como toda cinebiografia, padeça da suavização dos defeitos de seu herói. O ponto de vista adotado é o de Thatcher já demente, e não o da mulher em plena ascensão política. Desta forma, todas as situações estão contaminadas pela parcialidade de alguém que revê a própria vida com lamentação – não porque acha que falhou como política, mas como mulher de família (num certo momento, o marido imaginário a lembra de que voltar o DVD repetidamente para rever as cenas dos filhos crianças não irá levá-la de volta no tempo).

Sua luta para conquistar espaço no universo predominantemente machista do Parlamento inglês, o treinamento vocal e de postura para criar uma imagem confiável, a recuperação econômica da Inglaterra, a vitória na Guerra das Falklands, a parceria com o governo dos Estados Unidos contra a União Soviética, e o descontentamento público e dos próprios líderes do Partido Conservador (sugerindo uma traição) remetem às memórias de alguém que seleciona apenas o que quer lembrar, não o que de fato aconteceu.

Para ressaltar esse clima, Phyllida usa da fotografia de Elliot Davis (“Crepúsculo”) para construir uma atmosfera intimista, adotando algumas vezes a câmera na mão e olhares frontais, como se o expectador estivesse no lugar da protagonista.

Mas é inegável que “A Dama de Ferro” só se torna relevante pela espantosa interpretação de Meryl Streep. Voz, postura, olhar, caminhar, Streep vai muito além da eficiente maquiagem e encarna Margaret Thatcher, a jovem política que se utiliza de gritos irritantes para se fazer ouvir e a líder de uma nação que humilha seus companheiros sem permitir espaço para argumentações ou debates. Seu trabalho fica ainda mais evidente com a montagem não linear e extremamente quebrada, indo e voltando no tempo diversas vezes para encontrá-la passando por diferentes fases.

Apesar da evolução (e regressão) psicológica da personagem, é por meio da interpretação de Streep, novamente indicada ao Oscar, que podemos enxergar a essência da personagem – uma mulher que desejava fazer algo na vida e não passar seus últimos dias lavando xícaras de chá.

É Kermit, mas pode chamar de Caco



Kermit e os Muppets estão de volta aos cinemas. Espere aí, “Kermit”? Pois é, se você o conhecia como “Caco, o Sapo”, é melhor ir se acostumando, pois o líder dos bonecos criados pelo mestre dos fantoches Jim Henson (1936-1990) foi rebatizado com o seu nome original americano para o lançamento do filme “Os Muppets” no Brasil, que acontece nesta sexta (2/12).


Caco… ou melhor, Kermit, Miss Piggy e cia. chegaram ao Brasil com a série “Vila Sésamo” nos anos 1970 e o nome do sapo marcou gerações. Para que a mudança de identidade ocorresse da forma mais natural possível, o próprio Kermit (na verdade, seu dublador e manipulador Steve Whitmire) veio ao país explicar a confusão. Segundo o próprio, quando um produtor brasileiro dos anos 1970 perguntou qual era seu nome, o anfíbio ficou nervoso e acabou tossindo. “Eu disse ‘cof, cof’ e ele entendeu Caco”, explica Kermit. 
A explicação é oficial e será exibida num curta antes do filme, ainda que Miss Piggy, enciumada, tenha outra versão para esta história. Ela garante que o sapo usou o nome Caco só para azarar incógnito num carnaval carioca.

É claro que se trata de uma brincadeira e os motivos da mudança são bem diferentes. Há 40 anos, a estratégia das empresas era adotar nomes regionais, já que o mercado era fragmentado. Já hoje, no mundo conectado pela internet, é muito mais interessante ter uma marca única, facilitando a identidade e economizando custos sem a necessidade de adaptações nas embalagens dos produtos. É por isso, por exemplo, que o “Ursinho Puff” virou “Ursinho Pooh” e a fada “Sininho” (de “Peter Pan”) virou “Tinker Bell”. Para se ter uma ideia, Kermit é conhecido como “Cocas” em Portugal, “Gustavo” na Espanha e, em alguns países latinos, é chamado de “Rana René”.

Mas durante suas entrevistas para os jornalistas brasileiros, o querido sapo mostrou que não se incomoda se o chamarem por outro nome. “Podem me chamar de Caco, afinal é assim que sou conhecido aqui por uns 30 anos”.

Sim, foi o próprio sapo quem conversou com a imprensa e não seu manipulador, o ventríloquo Whitmire (responsável pelo boneco desde a morte de Henson, em 1990). E é impressionante como o personagem ganha vida, com movimentos naturais e até com cacoetes. Ele é simpaticíssimo e faz jornalistas adultos se sentirem criancinhas. Mas fica uma dúvida: e a nova geração, que cresceu assistindo a “Shrek” e às animações da Pixar, será que vai se interessar por bonecos de pano animados com a mão?

Kermit acredita que sim. “Acho que o fato de sermos reais e interagirmos, como atores de verdade, conta muitos pontos para nós. Isso não se consegue com um desenho”, disse. É claro que ele conta também com o apoio dos pais, que acompanharam os Muppets nos últimos 30 anos. “O que eu espero é que todos os nossos fãs mais velhos, que cresceram com a gente, agora nos apresentem aos seus filhos”, Kermit dá o recado.

E o retorno dos bonecos (o último longa-metragem foi em 1999, “Muppets do Espaço”) não é um fenômeno isolado: o potencial nostálgico de séries e personagens de décadas atrás tem rendido diversos filmes de sucesso, apelando tanto para o público adulto, quanto para as crianças, como os recentes regressos de “Smurfs” (que rendeu US$ 141 milhões) e de “Rei Leão 3D” (que surpreendeu com US$ 93 milhões arrecadados).

A Disney, que já é dona da Pixar e de parte da Marvel, adquiriu os direitos dos personagens de Jim Henson em 2004 e bolou uma estratégia de marketing viral em 2009, postando no YouTube um vídeo com os bonecos ao som da música “Bohemian Rhapsody”, do Queen. O resultado foi mais de 23 milhões de visualizações, o que estimulou novas brincadeiras que invadiram as redes sociais e, pouco a pouco, foram resgatando “Os Muppets” do limbo.

Por curiosidade, foi justamente o sumiço dos bonecos há mais de uma década o ponto de partida do roteiro elaborado por Jason Segel (“Ressaca de Amor”), um fã assumido dos Muppets. Na história, os personagens contam com a ajuda de Gary (Segel), sua namorada Mary (Amy Adams) e seu irmão Walter, ele próprio um boneco, para reconquistar o sucesso do público. A direção é de James Bobin, da série “Flight of the Conchords”.

O longa também conta com diversas participações especiais, como o vocalista Dave Grohl, da banda “Foo Fighters”, e o ator Jim Parsons – o físico Sheldon Cooper da série “The Big Bang Theory”. Mas Kermit assume que gostou mais foi de uma certa garota durante as filmagens. “Confesso que há um lugar especial no meu coraçãozinho de sapo para Rashida Jones (série ‘Parks and Recreation’). Se você der uma boa olhada nela, vai entender o porquê. Mas não diga isso para a Miss Piggy, no entanto.”

Hugh Jackman é um gigante de aço


O destino prega peças curiosas: não fosse por um pequeno incidente, provavelmente Hugh Jackman ainda estaria preso aos musicais na Austrália e assistiria com a família em algum cinema de Sydney a “Gigantes de Aço”. Acontece que o ator Dougray Scott, que estava cotado para interpretar Wolverine, machucou-se durante as gravações de “Missão Impossível 2”, e o diretor Bryan Singer precisou recorrer às pressas aos atores anteriormente rejeitados. Ao rever o teste de Jackman, bingo!

O resultado, como todos já sabem, foi uma carreia meteórica: em pouquíssimo tempo já protagonizava sozinho um filme de ação (“Van Helsing: O Caçador de Monstros”), trabalhou com dois dos grandes diretores americanos da nova geração – Darren Aronofsky, em “A Fonte da Vida”, e Christopher Nolan, em “O Grande Truque” –, filmou com Woody Allen em “Scoop – O Grande Furo” e até apresentou o Oscar, em 2009 – oportunidade que muitos atores veteranos jamais tiveram.

De volta aos blockbusters com “Gigantes de Aço”, que liderou por duas semanas o ranking dos filmes mais assistidos nos EUA, Jackman interpreta um mau caráter de bom coração, Charlie Kenton, ex-pugilista decadente que descobre que tem um filho de 10 anos e tenta rapidamente se desfazer dele. “Foi muito divertido ver até onde poderíamos levar o personagem”, o ator comenta, sobre o comportamento politicamente incorreto de Charlie. “Este é um filme da DreamWorks distribuído pela Disney e o protagonista vende seu filho nos primeiros 20 minutos! Quando mostramos para o estúdio, pensamos que eles pediriam para refazermos tudo.”

E é exatamente a relação problemática entre esse homem irresponsável e um garoto inteligente o que move o filme e tem conquistado os americanos. Ainda que o mau comportamento de Charlie em relação ao próprio filho fique próxima de ser cruel. “Depois de alguns takes”, lembra o diretor Shawn Levy (“Uma Noite no Museu”), “Hugh vinha todo preocupado até mim e perguntava ‘Você tem certeza de que não estou sendo muito duro com esse menino?’”. A preocupação do astro não é à toa: ele é pai de um garoto da mesma idade do personagem de Dakota Goyo (a versão mirim do deus do trovão no filme “Thor”).

O fator que desencadeará a redenção de Charlie, como não poderia deixar de ser, será um robô-sucata encontrada no ferro-velho, mas que demonstrará, a cada nova luta de box robótico futurista, uma resistência incrível. Como se vê, apesar de ter o boxe como cenário, “Gigantes de Aço” privilegia o coração em detrimento da ação. “Para fazer um filme de robô em 2011, e para que ele seja único, ele tinha que ser diferente”, comenta o diretor, sugerindo que tentou caminhar num trajeto oposto ao traçado por outra produção de Steven Spielberg, “Transformers”.

E para que a emoção da interação entre pai, filho e máquina fosse legítima, a produção optou por utilizar a presença física dos modelos do robô sempre que possível, em vez dos efeitos digitais e do fundo verde. “Imagine como foi para Dakota Goyo, com 11 anos de idade! Era simplesmente extraordinário e você vê isso no filme – é um sonho tornado realidade”, comenta Jackman.

A busca pela realidade foi tanta que o astro australiano decidiu engordar para interpretar um pugilista aposentado, inclusive conservando uma barriguinha. Acontece que, um mês antes de as filmagens começarem, o diretor percebeu que o ator não caberia no figurino do filme e solicitou imediatamente um emagrecimento. “Acho que o público não está pronto para ver um Hugh Jackman barrigudo”, brincou Levy.
Jackman recuperou a forma, o que será muito útil em breve, quando voltará a interpretar o mutante mais popular da Marvel em “The Wolverine”, a ser dirigido por James Mangold (“Encontro Explosivo”). Ainda se sabe muito pouco sobre a história, que terá o Japão como cenário, mas o ator já adianta que os problemas da memória do personagem ficaram para trás. “Já exploramos muito isso nos outros filmes”. Além disso, ele garante que a maior característica de Wolverine deverá ser potencializada. “Não acho que já vimos sua raiva expressa corretamente”, diz, para a alegria os fãs do personagem.

Antes de voltar a encarar o mutante de garras, porém, ele interpretará Jean Valjean no musical “Les Misérables”, dirigido por Tom Hooper (“O Discurso do Rei”), com Anne Hathaway e Russell Crowe no elenco. Ainda vai entrar em cartaz na comédia indie “Butter”, já exibida em festivais, e deve dar vida ao primeiro showman milionário P.T. Barnum em “The Greatest Showman on Earth”, lá em 2013. Ah, também vai apresentar um show sozinho num teatro da Broadway.


Com uma agenda tão concorrida, fica a pergunta: alguém ainda se lembra quem foi Dougray Scott?

sábado, 10 de março de 2012

Diretor de "A Separação" teme o próprio sucesso


Existe uma piada maldosa que diz que se você jogar um comprimido efervescente num copo com água, encontrará mais tensão e ação do que num filme iraniano. Quem ri disso desconhece o cinema de Ashgar Farhadi, responsável pelo suspense tenso de “Procurando Elly” (2009) e por um dos melhores filmes de 2011, “A Separação”.


O cinema de Farhadi é quase uma antítese das obras dos mais conhecidos nomes do cinema iraniano, como Abbas Kiarostami (“Cópia Fiel”), Jafar Panahi (“Fora do Jogo”) e Mohsen Makhmalbaf (“A Caminho de Kandahar”). Mas, cada um a seu modo, todos são importantes ao retratar a situação social e política que vive sua país, extremamente repressivo e ditatorial, utilizando o cinema como um grito de protesto e uma forma de comunicação com seu próprio povo e com os demais países do mundo – de fato, o resultado é uma cinematografia renovada e uma das mais relevantes do mundo atual.

Embora pareça uma novidade recente, Ashgar Farhadi chega a seu quinto filme como diretor com “A Separação”. O drama extremamente elogiado pelos críticos se tornou uma unanimidade a partir do barulho criado nos festivais pelos quais passou: até agora, já ganhou mais de 40 prêmios, entre eles o Urso de Ouro no Festival de Berlim, além do Urso de Prata para os atores Peyman Moadi e Leila Hatami. “A Separação” também ganhou o Globo de Ouro e é o favorito ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, tornando-se a segunda obra iraniana a realizar o feito (o primeiro foi “Filhos do Paraíso”, de Majid Majidi, em 1998), além de conquistar uma espetacular indicação a Melhor Roteiro Original para o próprio Farhadi.

O diretor não esconde a alegria pela repercussão, mas está consciente dos perigos que o estrondoso êxito pode acarretar à sua carreira. “O sucesso de um filme pode convencer o cineasta a tentar repetir seus próprios sucessos e entrar numa competição consigo mesmo. É preciso olhar para isso como algo temporário”, declarou durante o Festival de Cinema de Nova York. Ele também está ciente de que está chamando muita atenção para si mesmo, o que pode ser perigoso num país como o Irã.

Sem citar especificamente o aclamado filme, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, declarou em janeiro que é comum que as premiações exaltem longas com temáticas relacionadas à pobreza e dificuldades de um país como o Irã. “Isso não deveria fazer nossos artistas ignorarem os pontos positivos e as evidentes características de nossa nação a fim de ilustrar o tipo de coisa bem recebida pelos organizadores de tais festivais”, criticou.

Farhadi sabe que pode enfrentar problemas maiores daqui para frente, e não apenas a censura do regime de Mahmoud Ahmadinejad. A ditadura no Irã tem fechado o cerco contra diretores que questionam o regime vigente e as prisões têm sido frequentes – um grande exemplo é Panahi, condenado a seis anos de prisão domiciliar e proibido de filmar pelos próximos 20 anos!

Ciente do perigo, ao contrário de seus colegas estabelecidos no exterior, Farhadi ainda mora em Teerã e tenta suavizar suas declarações para não criar conflitos com o regime. “A Separação” chegou a ter suas filmagens interrompidas após o diretor ter defendido Panahi e a produção só voltou a receber permissão para ser realizada após ele desculpar-se publicamente com o governo. Um ato que ele defende, ainda que lamente nas entrelinhas. “Qual é o sentido de se fazer um filme se ele não pode ser visto pelas 70 milhões de pessoas no meu país?”, questionou. Por esse motivo, Farhadi diz que é mais difícil conceder entrevistas sobre seus filmes do que realizá-los e sempre solicita ao seu tradutor que suas palavras sejam citadas com precisão, para não haver riscos dos jornalistas interpretarem equivocadamente algumas respostas.

E o cineasta tem concedido muitas entrevistas nos últimos meses por conta da dramática história do casal de classe média que decide se separar. A médica Simin (Leila) quer sair do Irã e oferecer uma condição de vida melhor para sua filha de 11 anos, Termeh (Sarina Farhadi). No entanto, seu marido, o bancário Nader (Moaadi), recusa-se a mudar de país, pois precisa cuidar de seu pai (Ali-Asghar Shalbazi), que sofre de Alzheimer. Os dois decidem ir à justiça pedir o divórcio, que é recusado pelo juiz. Só essa trama inicial já renderia discussões sobre a questão das leis e costumes iranianos, mas o roteiro vai mais fundo e coloca os personagens em situações que os levarão a confrontar e pôr em xeque suas próprias convicções morais.

É melhor não entrar em detalhes sobre a trama, mas é preciso saber que o casal opta pela separação e, diante da ausência da esposa em casa, Nader é forçado a contratar Razieh (Sareh Bayat) para cuidar de seu pai. A mulher é extremamente religiosa, a ponto de sentir a necessidade de telefonar para seu guia espiritual a fim de saber se seria pecado limpar um homem idoso que está doente. Razieh aceitou o trabalho porque passa dificuldades financeiras, já que seu marido Hodjat (Hosseini Shahab) está desempregado há algum tempo. Uma série de erros, desentendimentos e mal-entendidos levará os personagens a conflitos e um processo criminal que deixaria o escritor Franz Kafka (“O Processo”) orgulhoso.

O grande chamativo de “A Separação” foi Farhadi não ter tomado partido de nenhum de seus heróis, adotando um recurso ao estilo de “Rashomon” (1950), de Akira Kurosawa, que permite ao espectador conhecer cada ponto de vista e suas motivações e implicações. “Eu não queria ditar quais conclusões o espectador chegaria”, explicou o cineasta, sobre as múltiplas interpretações.

O resultado é uma obra que permite que cada pessoa enxergue o filme à sua maneira – tanto que o próprio regime iraniano não viu problemas na exibição do filme no país (onde foi um enorme sucesso) e o indicou para concorrer nos festivais estrangeiros. “Eu assisti ao filme com o público em diferentes partes do mundo e há aqueles que enxergam um ponto de vista político, enquanto outros o veem com uma perspectiva sobre a moralidade. Outros o veem como uma questão social, e outros enxergam o reflexo da vida no dia-a-dia comum. Pode ser qualquer uma dessas coisas”, sugeriu o diretor, ciente da força de sua obra.

Farhadi já afirmou diversas vezes que não utiliza o cinema como uma ferramenta política ou ideológica, porém há aqueles que acreditam que sua negação trata-se apenas de uma estratégia para fugir da censura. Durante a entrevista coletiva no festival nova-iorquino, ele deu algumas dicas de como escapa das garras dos censores. “Uma dos motivos (de não ser barrado pela censura) é que não faço julgamentos em meus filmes. Há outras formas, mas se eu falar sobre elas, não poderia mais usá-las”, explicou o cineasta.

De fato, analistas e críticos apontam diversos momentos na obra do diretor que refletem o atual Irã. A própria situação do casal, dividido entre querer sair do país em busca de uma vida melhor ou se apegar à família, seria uma metáfora sobre a dúvida de milhões de cidadãos persas.

Os questionamentos das crianças, o comportamento hipócrita dos personagens e o uso de palavras com duplos significados e interpretações seriam outras pistas deixadas por Farhadi sobre sua opinião política. Detalhes que poderiam passar despercebidos, como as ocasionais presenças da cor verde, símbolo da luta contra o regime, e o tom fortemente avermelhado do cabelo tingido de Simin, escondido sobre o lenço. São retratos de pessoas respeitam as regras – seja por imposição ou crença – apenas na superfície, questionando-as e as enfrentando em seu dia-a-dia, ainda que por debaixo dos panos da repressão.

O cineasta, é claro, não confirma nada, e até desmente ou desvia as suposições. O personagem com Alzheimer, por exemplo, seria inspirado em seu avô, que teve a doença. A garota que vê os pais se separarem (e representaria a próxima geração) e questiona o aprendizado é interpretada pela própria filha do diretor – uma situação que Farhadi garante viver atualmente, ensinando Sarina a entender o significado das palavras em persa e suas origens árabes.

Mas, nas entrelinhas, fica claro que Farhadi tem uma posição política definida e usa, sim, seu cinema como expressão. Só não pode assumir. Questionado sobre sua opção em escrever um roteiro e dirigir um filme que faz o público sair cheios de perguntas, em vez de respostas, ele explica que as dúvidas provocam o expectador a pensar, enquanto fornecer respostas anestesiaria o raciocínio. “Em todos os meus filmes, tentei multiplicar os pontos de vista em vez de impor a minha visão, para habilitar o espectador a ter ângulos diferentes da história. Não é difícil concordar que o cinema, em essência, é uma arte ditatorial, onde o diretor dita o que o espectador deve ver. É exatamente essa atitude que eu luto contra. Acredito num cinema democrático”. Obviamente, ele não está falando apenas de cinema.

E por falar em cinema, é preciso lembrar que “A Separação”, politizado ou não, é um belo filme, que transbordou as fronteiras físicas e culturais do Irã e vem conquistando reconhecimento por onde passa – e para Moadi, que já havia atuado no longa anterior do diretor, o sucesso não é uma surpresa. “Asghar (Farhadi) fala sobre as preocupações humanas e morais, questões tão vastas e grandes que nenhuma restrição ou limitação podem ser aplicadas a elas”, disse o ator principal da trama.

A universalidade das obras do diretor é exatamente seu trunfo. O cineasta acredita que a história de “A Separação” poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, guardada as devidas diferenças culturais, e a grande prova disso é a identificação que críticos e público vêm demonstrando pelo longa.

O filme permite, inclusive, que os americanos reconheçam similaridades com os iranianos – um povo que eles estão acostumados a enxergar como extremamente distantes não apenas fisicamente, mas principalmente culturalmente. “Esse tipo de filmes pode preencher essa lacuna que a mídia não mostra, sobre as semelhanças entre nós. E isto é a coisa mais recorrente que venho dizendo nos últimos dias: as semelhanças entre as pessoas são muito maiores do que suas diferenças”.

Enquanto viaja o mundo divulgando o filme, recolhendo prêmios e pisando em ovos durante as entrevistas, Farhadi já começa a tecer seu próximo roteiro – que ele pretende filmar no Irã, apesar dos riscos de ter sua vida pessoal e profissional afetadas. “Se seu filho está com febre muito alta, o que você faria? O abandonaria ou ficaria lá? Sinto que eu tenho que ficar lá, mais do que nunca. Eu preciso trabalhar lá”, diz o diretor, contundente.

Robert Downey Jr. e suas novas aventuras


Robert Downey Jr. conversou com a imprensa brasileira em um dos salões do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro nesta semana, numa viagem feita para promover a estreia de “Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras”. E confessou que topou o passeio justamente para conhecer a Cidade Maravilhosa, animado por elogios feitos pelo músico Will.i.am, do Black Eyed Peas – que esteve na capital carioca para realizar shows e divulgar a animação “Rio”.

“Quis vir ao Brasil para abrir um diálogo com a América do Sul, um mercado em expansão absurda. E também porque, quando eu encontrei o Will.i.am, ele me disse ‘Você precisa ir ao Rio! Lá está acontecendo o que há de maior criativamente na América do Sul’”, contou o astro. E comparou: “É como Paris nos anos 1920, você sente no ar alguma coisa grande acontecendo!”
 
Exagero ou não, a verdade é que Downey Jr. nem chegou a conhecer a cidade direito, já que quase não saiu do hotel em que ficou hospedado, de domingo (8/1) até terça-feira (10/1), quando foi embora. Ou seja: o astro dispensou as festas noturnas cariocas. “Se tivesse saído, provavelmente nem teria comparecido a esta entrevista. Dizem que uma noitada por aqui dura dois anos”, brincou, arrancando risos dos jornalistas.

Mas o ator estava falando sério. “A parte da minha alma que estaria animada para sair por aí está silenciada. Quando costumava deixar-me contaminar pelo prazer em viagens de negócio, estes últimos sempre acabavam cancelados”, explicou, lembrando da fase em que quase jogou sua carreira no ralo devido ao excesso com álcool e drogas, pouco mais de uma década atrás.

Robert Downey Jr. surgiu em Hollywood no final dos anos 1980 em comédias adolescentes como “Mulher Nota Mil” (1985) e rapidamente chamou a atenção dos produtores e dos críticos com seu papel no drama que redefiniu a juventude dos anos 1980 no cinema, “Abaixo de Zero” (1987). Em 1992, ele estrelou “Chaplin”, no qual interpretava o mito do cinema Charles Chaplin. O papel valeu sua primeira indicação ao Oscar e o que parecia ser o início do auge de sua carreira na verdade acabou marcando o começo de um declínio. Suas festinhas exageradas e as constantes visitas à polícia colocaram o ator para escanteio. “Tive momentos realmente terríveis”, relembra.

Ele chegou a escrever uma autobiografia, na qual contaria o que aprontou e o que passou, mas desistiu de lançá-la. “Devolvi o dinheiro à editora, senão eu teria sempre que ouvir um jornalista dizer: ‘No seu livro, você afirma que…’”, gargalhou. “Tenho histórias incríveis”, ele diz, num misto de orgulho e arrependimento.

O visível bom-humor reflete seu atual estado de espírito: aos 46 anos, longe das drogas e prestes a se tornar pai pela segunda vez, Downey Jr. ressurgiu das cinzas ao interpretar dois ícones culturais: o super-herói das histórias em quadrinhos Tony Stark/Homem de Ferro e o detetive astuto Sherlock Holmes, criação literária de Arthur Conan Doyle (1859-1939). “Nunca imaginei que ficaria marcado por esses personagens. Não sou tão ‘cool’ como eles”, comemorou.

Ele afirma que teve muita sorte ao ser convidado para participar dos filmes, que renderam milhões em bilheteria e já se tornaram franquias. Homem de Ferro retorna ainda esse ano em “Os Vingadores”, além de ganhar um terceiro filme em 2013, enquanto a segunda aventura de Sherlock Holmes, que estreou nesta sexta (13/1) no Brasil, já tem nova sequência em desenvolvimento

Em “O Jogo de Sombras”, o detetive enfrenta finalmente seu maior inimigo das páginas dos livros, o professor James Moriarty (Jared Harris), um sujeito com uma mente tão brilhante quanto a de Holmes. O filme mantém as características que fizeram sucesso no filme anterior (lançado em 2009 e que faturou meio bilhão de dólares pelo mundo): um Sherlock Holmes irônico, muito inteligente e, para incômodo dos fãs dos antigos filmes do personagem, um grande lutador.

“Conan Doyle o descreveu como um boxeador, um esgrimista e um mestre de baritsu. Então, tudo o que fizemos foi pegar essas descrições e usá-las. Todo mundo já conhecia as outras habilidades de Sherlock, mas essas eram menos trabalhadas”, explicou Downey Jr. sobre as cenas de luta, ainda mais constantes na nova produção.

A investigação com uma lupa mais uma vez dá lugar à ação incessante, uma opção para atrair o público jovem, mas o ator acredita que essa versão de Guy Ritchie (diretor do longa) seja até mais fiel à imaginada por Conan Doyle. “Quando começamos a pesquisar sobre o filme, nos deparamos com algumas interpretações equivocadas de outras produções de Sherlock”, disse. “O personagem nunca usou capa ou fumou cachimbo. Isso foram detalhes acrescentados nos anos 1940 e 50”.

Downey Jr. comentou também que foi sua ideia fazer Holmes se vestir de mulher, em um dos momentos do novo filme que deve arrancar mais gargalhadas do público. “Na cena do trem, Sherlock apareceria inicialmente como padre, mas achei que as pessoas não iriam gostar muito. Então falei que ele deveria estar vestido de mulher, como uma drag queen. O importante é mostrar que em ‘O Jogo de Sombras’ nós temos diretor, produtores, atores e sempre a melhor ideia ganhou.”

O ator aproveitou para comentar a amizade que construiu com Jude Law, que interpreta o fiel amigo e assistente Dr. Watson. “Acho que nós nos complementamos. E para um cara bonito, ele até é legal”, ironizou. Downey Jr. também brincou sobre qual dos dois seria o mais sexy da dupla. “Jude está solteiro, deve estar soltando mais feromônios do que eu, um homem fiel e muito bem casado”, contemporizou, com o típico sorriso de Tony Stark.

Ele tem motivos para sorrir, de fato. Neste momento, Downey Jr. está negociando sua participação no novo projeto de Tim Burton, a adaptação de “As Aventuras de Pinóquio”, romance de Carlo Collodi lançado em 1881. Ele faria o Mestre Geppetto. “Estou conversando bastante com Burton sobre o Pinóquio. Não assinamos nada, mas é possível”. Além disso, o roteiro de “Sherlock Holmes 3” já começou a ser escrito e o terceiro filme do Homem de Ferro foi confirmado pela Marvel para o ano que vem. Antes, ele aparecerá no aguardadíssimo “Os Vingadores”, que já está pronto e estreia no Brasil em 27 de abril. “Ainda não vi o filme dos Vingadores, mas nós trabalhamos bastante para juntar todos os heróis. Espero que as pessoas gostem”, declarou.

Christopher Nolan dá pistas de Batman


Acabaram as filmagens de “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, capítulo final da trilogia de Batman sob a ótica de Christopher Nolan. E até o cineasta, conhecido por ser frio e cerebral, assumiu que teve sua sensibilidade abalada durante a produção. “Eu não costumo ficar emotivo no set, acho que isso não me ajuda a fazer meu trabalho, mas você definitivamente fica com um nó na garganta ao pensar ‘Bem, esta é a última vez que vamos fazer isso’”, confessou Nolan ao Los Angeles Times.
Durante a semana, jornalistas americanos tiveram acesso ao prólogo de sete minutos que será exibido nas cópias IMAX de “Missão Impossível – Protocolo Fantasma”, que estreia nesta sexta (16/12) nos EUA. O preview tem como função apresentar o personagem Bane (Tom Hardy) ao público, assim como foi feito em “O Cavaleiro das Trevas”, que introduziu o Coringa de Heath Ledger.
 Na cena avançada, Bane invade um avião da CIA para sequestrar um especialista em combustível nuclear e em reatores. Por meio de um elaborado plano, o vilão derruba o avião e resgata o cientista, deixando claro para o público que é tão inteligente quanto brutal. “Foi uma sequência complicada de filmar, mas estou muito feliz com o resultado. Filmamos na Escócia e chove o tempo todo lá, é um lugar terrível para se fazer uma cena aérea. Mas nós tivemos muita sorte com o tempo e um bom planejamento”, comemorou Nolan.

O diretor, no entanto, não abre mão do segredo do enredo – sabe-se apenas que a história se passa oito anos após os eventos do filme anterior e Batman está sendo caçado pela polícia, já que ele acabou assumindo os crimes cometidos por Harvey Dent/Duas-Caras (Aaron Eckhart). Durante a divulgação de seu novo longa-metragem, “O Espião que Sabia Demais”, Gary Oldman (o comissário Gordon) não escondeu a empolgação com a conclusão da saga do Homem-Morcego. “É uma história fantástica e isso vai ser épico”, ele disse.
É a mesma empolgação que acomete os fãs, principalmente porque a escolha do antagonista, somadas às fotos das filmagens feitas por paparazzi e ao novo cartaz, com os dizeres “A Lenda Acaba”, leva a crer que “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” adapta a saga “Batman: Knightfall”, publicada em 1993. Na história, Bane arquiteta um plano para levar o herói à exaustão física e emocional até que, numa luta corpo a corpo, o vilão quebra a coluna do herói, deixando-o paralítico.

Obviamente, Nolan nega qualquer pista, mas sempre deixa claro que a força física e inteligência de Bane vão direcionar a história. “Com um bom vilão você precisa de um arquétipo, precisa ir a um tipo extremo de vilania. O Coringa era a anarquia, o caos. Com Bane, a questão é a fisicalidade, algo que não havia aparecido nos outros filmes. Bane é um vilão de força física, é um monstro clássico do cinema, de certa forma – mas com um cérebro fantástico”. 
O próprio Homem-Morcego, Christian Bale, avisou que neste terceiro filme Batman vai passar por maus bocados. “É hora de Bruce Wayne enfrentar a dor, que sempre atormentou sua vida”, ele comentou durante a promoção de seu novo filme, “The Flowers of War”, candidato chinês ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Christopher Nolan escreveu o roteiro com o irmão Jonathan Nolan a partir de conversas com seu outro parceiro, o escritor David S. Goyer – que o apresentou ao personagem. “Eu não o conhecia muito bem”, confessou Nolan. “David me deu um monte de coisas sobre ele, eu não estava familiarizado com a sua história. Ele é um personagem muito legal e conseguimos um ator como o Tom (Hardy), que conseguiu algo especial. Ele se transforma”, elogiou o diretor, sobre o intérprete de seu vilão – o ator recebeu o convite ainda durante as filmagens de “A Origem”.
 Mas apesar da ênfase em Bane, a pressão da expectativa não caiu sobre os ombros de Hardy (como se esperava após a espetacular performance de Ledger como o Coringa), mas nos de Anne Hathaway, que viverá a gatuna Selina Kyle. Após a divulgação oficial do uniforme da Mulher-Gato, uma onda de reclamações tomou a internet: diferente do visual sexy da versão de Michelle Pfeiffer no filme de 1992 (“Batman – O Retorno”), o figurino de Anne lembra uma roupa de espião high-tech. “Várias pessoas sentem que a Mulher-Gato já foi definida previamente. Sempre vi o papel de Anne como a tarefa mais difícil de qualquer um de nós”, lembrou Bale.

Mas os fãs não são os únicos a colocarem pressão sobre Nolan e sua equipe. A Warner espera um retorno financeiro considerável, afinal estima-se que o orçamento da produção é de estrondosos US$ 250 milhões. Tudo bem que os dois últimos filmes de Batman já renderam US$ 1,4 bilhão em bilheteria mundial, mas vale lembrar que o último filme de super-herói do estúdio, “Lanterna Verde”, foi um enorme fiasco. Além disso, Batman também será comparado a outro grande concorrente: “Os Vingadores”, filme da Marvel que reúne no mesmo time o Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Thor, Gavião Arqueiro e Viúva Negra. A produção da equipe de super-heróis chega aos cinemas americanos dois meses antes de “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”.
Christian Bale, que anunciou estar aposentando o capuz do herói, garante estar mais preocupado com o resultado artístico do que financeiro. “Em termos de bilheteria, eu não sinto qualquer pressão”. “Mas eu sinto uma pressão criativa e seria errado se eu não sentisse isso”.
 Por sua vez, Gary Oldman acredita que tanto o público quanto a crítica estão muito mais interessados na conclusão da saga do que com personagens ou detalhes específicos, e quem vai responder por isso será o diretor, não o elenco. “A pressão está mais em Chris (Nolan) do que em mim. Se eles se decepcionarem com Gordon é uma coisa; mas se eles se decepcionarem com o filme é outra coisa bem diferente”.

O cineasta tem consciência da responsabilidade que tem nas mãos e tenta usar o cuidado e a vigilância dos fãs do personagem a seu favor. “Isso me lembra que é uma verdadeira honra trabalhar em algo que significa muito para tantas pessoas”, respondeu calmamente. E dá seu recado sobre o fim da saga: “Sempre haverá controvérsia em relação às coisas que as pessoas vão discordar, mas espero que elas apreciem o esforço de tentarmos fazer algo bom”.
 A escolha de slogan, “A Lenda Acaba”, a presença de Bane e a participação de Joseph Gordon-Levitt como um jovem policial, descrito como incorruptível, pode aludir a uma grande mudança na história de Batman, que não descarta, inclusive, a morte do personagem ou sua substituição. Nolan amplia o mistério ao dizer: “Queríamos uma história que funcionasse como fecho, que desse a sensação de encerramento para todos esses personagens”.
A forma como ele descreve a despedida do elenco, nas filmagens, chega a dar calafrios. “O final foi muito emocional”, ele conta. “Conforme terminávamos de filmar a trajetória dos personagens… Dizer adeus a Alfred, pela última vez, ao Comissário Gordon e, eventualmente, com Christian, próximo ao final, dizer adeus a Batman… foi muita responsabilidade”, destaca. “E com os novos personagens também, encerrando as filmagens com Anne e os demais, me senti tocado, devo confessar”.