segunda-feira, 25 de julho de 2011

VEJO VOCÊ NO PRÓXIMO VERÃO - CRÍTICA

Filme marca a estreia de Philip Seymour Hoffman na direção


Uma estrangeira faz perguntas tolas ao motorista Jack, interpretado por Philip Seymour Hoffman – ela desculpa-se e explica que está treinando o seu inglês. Logo depois, o rapaz para o carro para conversar com o companheiro de trabalho Clyde (John Ortiz): na verdade, nem é bem uma conversa já que Jack não consegue se expressar muito bem, nem com o melhor amigo.

No pouco que é dito, descobrimos que o motorista de limosines adora reggae, apesar de não entender muito bem algumas palavras do inglês jamaicano. Por fim, quando realiza seu primeiro encontro romântico em anos, Jack não consegue desenvolver uma conversa, respondendo apenas a “sim” ou “não” ou simplesmente repetindo as mesmas frases ditas pela moça (Amy Ryan).

Como se vê, Vejo Você No Próximo Verão (Jack Goes Boating) trata da incomunicabilidade das pessoas nos dias de hoje, ainda que ouvimos a todo momento que, no mundo moderno, “estamos todos conectados”.

 É uma bela estreia de Hoffman na direção, baseado numa peça teatral de Robert Glaudini (que também adaptou o roteiro). Na história, Jack é um sujeito tímido, fechado, cuja rede de relacionamentos engloba apenas três pessoas: seu tio e patrão (Richard Petrocelli) e o casal Clyde     e Lucy (Daphne Rubin-Vega). Os amigos decidem marcar um jantar para tentar promover o relacionamento entre Jack e Connie (Amy), uma mulher tão cheia de neuroses e travas emocionais quanto o rapaz.

Nos poucos momentos em que conseguem realizar algum esboço de diálogo, Jack descobre que terá que aprender a cozinhar e a nadar para agradar Connie. Na verdade, apesar de relativamente simples, o ato de aprender novas atividades simbolizará a grande mudança do personagem que, pela primeira vez, começa a direcionar a própria vida e não apenas ser levado por ela.

Vejo Você No Próximo Verão é um filme de sutilezas e interpretações e afundaria não fosse o ótimo elenco, afinal o roteiro acompanha inteiramente a trajetória vivida pelos dois casais. O carisma de John Ortiz é magnético e Hoffman, como sempre mostrou ao longo da carreira, é livre de qualquer vaidade: aqui, ele está gordo e feio.

O diretor também compõem interessantes enquadramentos e belas imagens, principalmente nas cenas da piscina – e é coerente ao mostrar uma Nova York fria, suja e pouco acolhedora, diferente da cidade romanceada em outras projeções.

São belas, também, as imagens em que Jack aparece imaginando situações: ele sendo um ótimo nadador, cozinhando perfeitamente, passeando de barco com Connie... O casal de amigos Clyde e Lucy também fogem da realidade, não fantasiando coisas, mas com o uso de maconha e haxixe. Porém, quando a imaginação (ou o efeito das drogas) acabar, será preciso enfrentar a realidade e os problemas escondidos debaixo do carpete.

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