quinta-feira, 7 de julho de 2011

CORAÇÕES PERDIDOS - CRÍTICA

Corações Perdidos traz Kristen Stewart como prostituta
           
A morte deve ser o maior tabu da sociedade ocidental – talvez maior até do que o sexo. Entender e aceitar a limitação da vida é algo quase fora de cogitação, sendo preferível ignorá-la. Mas quando ela chega e nos leva o que é mais precioso – pais ou filhos – podemos ser acometidos por outro sentimento: o da culpa.

É a culpa que move o casal Riley do título original de Corações Perdidos (Welcome to the Rileys). Após a morte da filha adolescente, Lois (Melissa Leo, vencedora do Oscar 2011 por O Vencedor) nunca mais saiu de casa, nem para pegar o jornal na rua. Doug Riley (James Gandolfini, protagonista da série televisiva Família Soprano) afastou-se da esposa e busca pequenos momentos de prazer no pôquer e com uma amante fixa.

Mas a morte ronda mais uma vez a vida de Doug – sua amante também morre repentinamente –, lembrando-o de que ele continua vivo e que precisa sentir isso, efetivamente. Uma convenção de negócios na distante Nova Orleans é a oportunidade para o sujeito buscar novos ares e enxergar sua condição por uma outra ótica. Durante um descanso num bar de quinta categoria, ele conhece uma jovem stripper (Kristen Stewart, da Saga Crepúsculo) que se prostitui para ganhar alguns dólares a mais.

 E é esse relacionamento entre um pai sem filha e uma filha sem pai que move o segundo longa-metragem de Jake Scott (de Os Saqueadores), filho do cineasta Ridley Scott (Gladiador). E o jovem diretor mostra que pode ter uma boa carreira no cinema. Corações Perdidos é um filme delicado, que procura desenvolver seus personagens sem pressa, utilizando-se inclusive de nuances. O belo lar dos Rileys mais parece um mausoléu, e a interpretação de Melissa Leo a aproxima de um zumbi, uma morta-viva. A residência é de uma assepsia exagerada e suas paredes têm um tom azulado quase congelante, opondo-se diretamente à imunda e decadente casa da prostituta Mallory, com iluminação mais quente e viva.

É curioso, também, ver o contraste físico e psicológico entre Gandolfini e Kristen: ele é enorme, e de uma doçura proporcional, enquanto ela é pequena e magra, mas agressiva e ignorante - Kristen foi premiada como Melhor Atriz no Festival de Milão. Essas dualidades vão transformando os personagens, que procuram redenção e um pouco de felicidade diante do caos que tomou suas vidas. É importante observar que a história se passa em Nova Orleans (a cidade que ficou submersa e destruída após o furacão Katrina e foi negligenciada pelo governo Bush) em 2009, quando os Estados Unidos estavam sentindo na pele a crise financeira mundial. É o lugar e o momento ideais para personagens (ou uma nação?) refletirem os caminhos que percorreram e quais devem ser seguidos daqui para frente.  

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