quinta-feira, 23 de junho de 2011

A CASA - CRÍTICA


Filme uruguaio assusta com pouco recurso e bela fotografia

Uma mulher e seu pai são contratados por um amigo para limpar uma grande casa abandonada numa fazenda distante. Ao dormir, são atacados por alguma coisa ou alguém. A premissa deste filme independente uruguaio é extremamente simples e não teria chamado a atenção de tanta gente – foi exibido no Festival de Cannes 2010 – não fossem por três observações: foi produzido com apenas US$ 6 mil, uma câmera fotográfica digital e filmado em apenas um único take, sem cortes.

Bem, mais ou menos. Na verdade, apesar de grande parte de suas cenas serem realmente feitas num gigantesco plano-sequência, fica evidente que os momentos em que a câmera entra num ambiente de total escuridão são um subterfúgio para os cortes invisíveis. Esse truque não chega a estragar a sensação de take único e já é usado há bastante tempo (de Alfred Hitchcock em “Festim Diabólico” a Juan José Campanella, naquela cena fantástica em “O Segredo dos Seus Olhos”), mas tira um pouco da mágica do plano-sequência completo, que pode ser visto em “Arca Russa” (de Aleksandr Sokurov) e no nacional “Ainda Orangotangos” (de Gustavo Spolidoro), por exemplo.

Mas é importante observar que o falso plano-sequência não serve meramente como marketing, pois tem uma função narrativa, já que a câmera segue apenas o ponto de vista de Laura (Florencia Colucci) e “A Casa” (La Casa Muda, no original) se trata de um filme de suspense. O diretor uruguaio Gustavo Hernández parte de uma história real, sobre dois corpos encontrados mutilados numa residência na década de 1940, para produzir um longa-metragem visualmente belo e extremamente assustador.

Após chegarem à casa, pai e filha tentam dormir para começar o trabalho de limpeza no dia seguinte, porém ruídos no andar de cima forçam o homem a verificar o que acontece. O sujeito é assassinado de forma brutal e a ameaça ronda a morada num escuro quase absoluto, já que a protagonista possui apenas algumas lâmpadas. E é esse clima de escuridão somado à limitação do ponto de vista representado pela única câmera filmando “sem cortes” que dão ao filme uma angustiante sensação de claustrofobia. Cada parede, cada sombra e cada ruído são ameaçadores, e não saber se o perigo é sobrenatural ou real só piora a situação.

É preciso dar destaque à bela iluminação azulada adotada pelo diretor de fotografia Pedro Luque e aos cuidadosos enquadramentos que, apesar de serem feitos por uma câmera em constante movimento, mostram-se muito bem pensados e ensaiados.
O final reserva a reviravolta que pode dividir opiniões. Aqueles que gostarem, vão argumentar que os truques são normais e aceitáveis, desde que proporcionem a experiência desejada pelo diretor. Os que se decepcionarem, vão dizer que o cineasta trapaceou para contar a história. Ironicamente, é a mesma sensação causada pela questão do plano-sequência.

Hollywood já cresceu os olhos e não perdeu tempo: o remake está pronto e deve estrear este ano, dirigido por Laura Lau e Chris Kentis, dupla responsável pelo suspense Mar Aberto. 


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