quarta-feira, 11 de maio de 2011

AVES DE VERÃO - CRÍTICA


Veterano do mundo dos documentários, o cineasta Paul Riniker faz uma bela estreia na ficção com o filme “Aves de Verão” (Sommervögel), produção vencedora do prêmio de público do principal festival da Suíça deste ano e que poderá ser vista no 2º Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, realizado no CineSESC e no Centro Cultural Banco do Brasil (em São Paulo) entre os dias 13 e 22 de maio.

Na primeira cena do longa, Greta, uma mulher de 33 anos com deficiência mental, olha insistentemente para o interior de um inseto. É o convite do diretor para repetirmos o ato – no caso, olharmos para nós mesmos. A história se passa num camping restrito, formado por famílias que procuram viver uma vida sossegada, quase como uma sociedade alternativa. Após passar um tempo na prisão por ter matado um homem, Res (Roeland Wiesnekker) chega ao acampamento e consegue emprego como zelador. Seu passado obscuro e seu jeito rústico (era integrante de um motoclube) causam estranheza nos moradores, mas chama a atenção de Greta (a belíssima Sabine Timoteo).
 
De personalidade agressiva, Res tenta afastar a mulher, que se apaixona por ele e quer, a todo custo, uma aproximação do zelador. Com o tempo, forma-se uma relação de amizade entre os dois que passa a incomodar tanto os moradores do local quanto a família da deficiente. Apesar de ser sua primeira ficção, Rinike já trabalha com cinema há 30 anos e mostra segurança tanto na escolha das tomadas quanto na direção dos atores. Roeland Wiesnekker transmite carisma no papel de um homem que já teve uma vida conturbada, mas que, agora, procura sossego e redenção, e Sabine Timoteo não faz feio na sempre difícil missão de interpretar alguém com deficiência mental. A moça procura fugir do clichê e consegue arrancar risadas com algumas situações.

Mas é o tom do filme sua maior qualidade. Rinike trata com delicadeza o romance do casal, permitindo que cada personagem evolua e cresça em cena, só para, então, mostrar a possibilidade de uma união. O diretor não se preocupa em acelerar o tempo e deixa que as nuances falem pelo filme, como a transformação do trailer de Res ou a metáfora sobre seu hobby: consertar coisas. No fundo, “Aves de Verão” se trata de preconceito, seja ele contra deficientes mentais, ex-presidiários ou homossexuais. E mostra que, mais difícil do que enfrentar os julgamentos dos outros, é superar o próprio preconceito.
 *Texto publicado no site CinemaNaRede.com

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