quinta-feira, 5 de maio de 2011

CAMINHO DA LIBERDADE - CRÍTICA


Peter Weir escolhe a dedo seus projetos, mesmo que essa atitude resulte em intervalos longos entre um trabalho e outro – seu último filme foi “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo”, em 2003. O cuidado que o cineasta dispensa à suas produções, no entanto, costuma gerar obras marcantes e, consequentemente, indicações à premiação para melhor direção no Oscar, caso de “A Testemunha” (1985), “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) e “O Show de Truman” (1998), além da dezena de indicações pela aventura do capitão de um navio de guerra, interpretado por Russel Crowe, em batalha contra o exército napoleônico e contra a fúria do mar.

O diretor volta a colocar o homem enfrentando a natureza no filme “Caminho da Liberdade”, sobre um grupo de fugitivos de uma das “gulags” – as prisões com trabalhos forçados da antiga União Soviética. Para recuperar a liberdade e fugir das péssimas condições em que estão submetidos, sete prisioneiros caminharam por cerca de quatro mil quilômetros, indo da Sibéria, cruzando a Mongólia e a China até a Índia. Durante o longo e sacrificante percurso, foi preciso lutar contra a fome, a sede, o cansaço, e os dois extremos climáticos: as tempestades de neve e o calor dos desertos. A história é inspirada no livro “The Long Walk: The True Story of a Trek to Freedon”, do polonês Slavomir Rawicz.
 
“Caminho da Liberdade” não se trata, no entanto, de uma aventura – pelo contrário. Peter Weir criou um filme de contemplação, no qual os destaques vão para as paisagens: não à toa, o longa-metragem é uma produção da National Geografic. Mas isso não significa que os personagens fiquem em segundo plano, principalmente porque o elenco é de primeira: Jim Sturgees (que deve ganhar o grande público em breve, quando estrear “One Day”, romance com Anne Hathaway), Ed Harris (“Pollock”), Colin Farrell (“Por Um Fio”), Mark Strong (“Kick-Ass”) e Saoirse Ronan (a garotinha de “Um Olhar do Paraíso”, hoje já nem tão garotinha assim).

Weir gasta alguns minutos iniciais do filme para deixar claro que a corajosa decisão de cruzar o continente asiático foi menos uma atitude heroica e mais uma questão de sobrevivência, mesmo. Na prisão siberiana do regime de Stálin, as condições eram desumanas, equivalentes aos campos de concentração nazistas. Presos políticos e criminosos violentos dividiam o mesmo espaço, passando fome e frio. Um dos prisioneiros, liderados pelo personagem de Sturgees, reúne um grupo e escapa em meio a uma nevasca. Daí para frente, Weir permite que, pouco a pouco, cada ator explore de forma intensa seus personagens, que serão colocados em situações extremas. Ao mesmo tempo, o diretor usa as belíssimas imagens das gigantescas paisagens para estabelecer o lugar do homem no mundo.

A produção poderia ser uns minutinhos mais curta já que o longo trajeto perde um pouco de sua força no terceiro ato e, em parte, isso é culpa de Colin Farrell, que rouba a cena desde a primeira vez em que aparece. Seu personagem, o assassino russo Valka, é extremamente interessante e complexo: se, aparentemente, ele se mostra frio e individualista, vamos acompanhando sua transformação pessoal ao longo da viagem, e o ator irlandês entrega com força sua interpretação (aliás, Farrell sempre vai bem quando retrata sujeitos atormentados). Quando seu personagem sai de cena, no meio do caminho, o trajeto parece ficar um pouco mais cansativo tanto do lado de lá quando do de cá.


 *Texto publicado no site www.Plugou.com.br

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