quarta-feira, 25 de maio de 2011

SE BEBER, NÃO CASE - PARTE II - CRÍTICA

 Las Vegas dá lugar à exótica Bangcoc em sequência similar ao filme anterior 

Algumas piadas são tão boas que continuam engraçadas mesmo quando contadas mais de uma vez. Nesse caso, a graça não está na surpresa, mas justamente porque você já sabe o que vai acontecer. É essa a aposta dos produtores de Se Beber, Não Case! – Parte II, sequência do filme que fez enorme sucesso de público e de crítica em 2009 ao mostrar três marmanjos tentando se recuperar de uma enorme ressaca após uma noite de bebedeira que deixaria Charlie Sheen com inveja.

Desta vez, Las Vegas é substituída por Bangcoc, capital da Tailândia, já que o dentista Stu (Ed Helms) decidiu se casar no país de origem de sua futura esposa Lauren (Jamie Chung). É claro que a simples despedida de solteiro sai do controle e dá espaço para novas situações constrangedoras, como uma tatuagem no rosto, dedos decepados, sexo não convencional e o sequestro de um monge.

Num momento em que o politicamente correto torna-se cada vez mais frequente não apenas no cinema, mas no dia a dia, o diretor Todd Phillips junta-se a Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos) e a Sacha Baron Cohen (Borat, Bruno) na produção de comédias escrachadas para o público adulto, com piadas polêmicas e escatalógicas – os irmãos Farrelly (Eu, Eu Mesmo e Irente) talvez não se enquadrem aqui porque buscam um público mais amplo).

“Quando um macaco belisca um pênis, isso é engraçado em qualquer língua”, diz Alan (Zach Galifianakis) numa cena. É mesmo. Phillips parece ter uma queda por animais: na produção anterior, um tigre é sedado; em Um Parto de Viagem, Robert Downey Jr. cospe na cara de um cachorro; aqui, o pequeno primata é traficante e viciado em cigarros. É muito ofensivo? Pois prepare-se para nus frontais de travestis e o cineasta Nick Cassavetes (Alpha Dog) tatuando uma criança (o papel seria de Mel Gibson, mas o astro foi substituído após suas recentes polêmicas envolvendo violência doméstica e racismo).

O longa é mais uma produção a trazer o novo modelo do herói cinematográfico americano: no lugar de valentões atléticos, os protagonistas são sujeitos deslocados, inteligentes porém com problemas de relacionamento (vide os recentes A Rede Social, Kick-Ass, Zumbilândia ou Juno. É o homem em xeque diante da própria masculinidade e seu papel na sociedade. Stu (Helms) é infeliz em sua vidinha normal e libera seu “dark side” nestas eventuais bebedeiras; Alan (Galifianakis) é extremamente infantilizado (beirando à deficiência mental) e tenta se espelhar no amigo Phil (Bradley Cooper) que, apesar de ser o bonitão da turma, envolve-se justamente com homens desajustados, o que reflete  sua própria personalidade. 
       Tirando a cena do quarto de hotel imundo e quente, que ironicamente remete à Apocalypse Now, esta “Parte II” não traz nenhuma novidade, seguindo uma estrutura tão parecida com a primeira parte que, se os personagens não fizessem citações a alguns acontecimentos do filme anterior, o longa poderia ser chamado de refilmagem, não de  sequência. Caso aconteça um terceiro filme, como o diretor já confirmou ter interesse em realizar dependendo do sucesso deste, o título pode sofrer daquele mesmo mal que acontece quando alguém vem nos contar uma piada que já conhecemos há algum tempo: ele pode ficar sem-graça.

*Texto publicado no site Pipoca Moderna.com.br

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