sábado, 13 de agosto de 2011

A ÁRVORE DA VIDA - Crítica


A Árvore da Vida é a nova obra-prima de Terrence Malick

Muita gente riu daquele vídeo que se espalhou pela internet no qual um garotinho de uns dois anos chora copiosamente e fica falando “que dó, que dó” porque seu irmãozinho matou uma formiguinha. Pois a nova obra-prima de Terrence Malick, A Árvore da Vida, trata justamente sobre a importância da vida, de todos os seres.

Ok, comparar o vencedor da Palma de Ouro deste ano a um viral de internet pode ser um exagero – até soar ofensivo! – mas dá uma ideia do que esperar da nova produção deste cineasta que enxerga o cinema como verdadeira forma de arte – não como mero entretenimento.

Este é apenas o quinto filme de Malick, desde que iniciou sua carreira cinematográfica em 1973, com Terra de Ninguém (completam sua cinematografia Cinzas no Paraíso, de 1978, Além da Linha Vermelha, de 1998 e O Novo Mundo, de 2005). Todos altamente carregados de conteúdo filosófico e não é à toa: o diretor é formado em Filosofia pela Harvard e lecionou a disciplina no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets).

Com A Árvore da Vida não seria diferente: ao centralizar sua câmera numa família do subúrbio do sul dos Estados Unidos na década de 1950, Malick fala sobre crise existencial, o papel de Deus, vida e morte, e o lugar do homem no mundo. Tudo, é claro, por meio de belíssimas imagens fotografadas por Emmanuel Lubezki e rigorosamente pensadas pelo diretor, também autor do texto.

Se o assunto é profundo, a história é completamente simples: Brad Pitt interpreta Mr. O'Brien, pai de três garotos e casado com uma bela mulher (Jessica Chastain). É por meio das memórias do filho mais velho (Sean Penn na fase adulta e Hunter McCracken na pré-adolescência) que somos levados ao interior desta família para testemunhar as diferenças de personalidade entre a mãe angelical e o pai severo, os questionamentos dos personagens sobre os motivos de Deus para os eventos que nos rodeiam e a finitude da vida. Isso porque um dos irmãos morre aos dezenove anos, fato que marca para sempre o núcleo familiar.   

Como já faz parte de seu estilo, o espectador acompanha as angústias e dúvidas dos personagens por meio de suas narrações, complementadas por imagens que simbolizam seu texto e hipnotizam por sua beleza (impossível não pensar na “Alegoria da Caverna”, de Platão, na cena em que a câmera, de ponta-cabeça, filma apenas as sombras os garotos brincando no meio da rua). Deve-se destacar, também, o grande trabalho de direção dos atores, que entregam grandiosas interpretações, especialmente as crianças.

O cuidadoso trabalho de montagem (que durou cerca de dois anos e foi realizado por uma equipe de seis pessoas, dentre elas Daniel Rezende, de Cidade de Deus e Tropa de Elite) ignora a cronologia, alternando o presente, sobre um homem extremamente melancólico (Sean Pean) em crise existencial, o passado, quando conhecemos sua infância e sua família, e o passado da Terra, ou melhor, do universo.

Sim, Malick volta no tempo para “filmar” o Big Bang, a criação dos planetas e o surgimento do primeiro ser vivo, transformando A Árvore da Vida num filme extremamente religioso ao mesmo tempo em que nega a existência de Deus.

A discussão é infinita e já foi tema até do grupo Monty Python que, em 1983, realizou O Sentido da Vida, filme no qual tentam descobrir as respostas às questões existenciais por meio de hilárias esquetes sobre vida, morte e religião e, no fim, concluem, ironicamente, que o sentido da vida está em “tentar ser bom com as pessoas; evitar comer gordura; ler um bom livro de vez em quando; caminhar um pouco; e viver em paz e harmonia com gente de todos os credos e nações”.

Obviamente, Malick é mais profundo, ainda que traga, no fim, um pensamento simples. O diretor dá igual atenção a uma tomada centralizada no rosto de Brad Pitt, a um girassol sendo tocado pelo vento, a um acidente geográfico e a um dinossauro, lembrando que o homem não está no centro do universo.

E, ao diminuir a escala humana ou ignorar uma existência superior, Malick não reduz a importância da vida, pelo contrário. Se na imensidão espacial surgiu um planeta que gerou um ser unicelular que deu origem a todos os seres vivos que caminharam, caminham e caminharão pela Terra, toda a vida é sagrada. Seja ela a de uma criança ou a da formiguinha que ela esmagou.


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