sexta-feira, 5 de agosto de 2011

NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO - Crítica


Novo filme de Hugo Carvana tem título sincero


É inegável a contribuição de Hugo Carvana ao cinema nacional – sua filmografia é gingantesca, atuando desde clássicos como Terra em Transe (de Glauber Rocha, em 1967) ao recente 5X Favela (filmagem coletiva, de 2010). Talvez por isso mesmo seus dois filmes mais recentes como diretor tragam, além do humor característico, uma pitada de melancolia, uma saudade de um tempo em que o herói cinematográfico era o malandro romântico, não traficantes ou soldados do Bope.

A Casa da Mãe Joana (2008) tem um pouco disso e Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo, que estreia esse mês, também, e essa característica seria um diferencial não fossem dois problemas: o que é melancólico não emociona e o humor não faz rir.

Tarcísio Meira volta aos cinemas depois de 21 anos (seu último filme foi Boca de Ouro, dirigido por Walter Avancini em 1990) como Ramon Velasco, ator aposentado e trambiqueiro irrecuperável. Ele viaja Brasil afora com seu filho Lalau Velasco (Gregório Duvivier, de Apenas o Fim), também ator, que não se enquadrou nos moldes da televisão e acabou optando por pequenos shows de stand-up a cada cidade em que estaciona sua Kombi colorida-lisérgica.

Carvana usa essas apresentações do filho para apresentar o personagem de Tarcísio Meira ao público, deixando claro que há uma relação de admiração e decepção com o pai, alguém que vive de pequenos golpes sem pensar nas consequências, afinal sua filosofia é repetidamente citada na frase “não se preocupe, nada vai dar certo”.

Durante um de seus shows, uma relações públicas (Flávia Alessandra) de uma grande corporação lhe faz um interessante convite: ganhar uma bolada para se passar por um famoso guru durante um workshop. A oportunidade é perfeita não apenas pelo cachê, mas também para se livrar do pai e viver uma vida sem golpes – apesar de ser esse trabalho exatamente um trambique. 

E é aqui que “Não Se Preocupe...” derrapa, ao não aproveitar a grande piada do filme: o guru que promove o enriquecimento sem culpa. O personagem criado por Duvivier, um mentor espiritual indiano com sotaque hispânico (?), é hilário e sua filosofia pró-capitalismo é uma bela tiração de sarro.

No entanto, a história toma um rumo diferente e acaba se tornando uma trama policial completamente batida e previsível, resgatando o personagem de Tarcísio Meira como protagonista.

Com exceção de Duvivier como o conselheiro fajuto e a participação especial do próprio Carvana como um falso frade, as demais interpretações são sofríveis, em grande parte por culpa de diálogos fracos.  

No fim, a impressão que fica é que o longa é uma mistura de novela das 7 com Zorra Total. E, nesse caso, o espectador precisa se preocupar, sim, porque o filme não deu certo.  

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