sábado, 13 de agosto de 2011

TRANSEUNTE - Crítica


Filho de Glauber Rocha estreia na ficção com Transeunte



Após três documentários (Rocha que Voa, Intervalo Clandestino e Pachamama), finalmente Eryk Rocha estreia num longa-metragem de ficção com Transeunte. Sua investida nesse tipo de cinema era aguardada por críticos e cinéfilos pelo fato de Eryk ser filho do cineasta Glauber Rocha, principal nome do Cinema Novo na década de 1960.

E o jovem diretor mostrou que herdou do pai algumas das características cinematográficas ao fugir dos modelos padrões tanto na questão estética quanto narrativa e recolheu diversos prêmios em festivais nacionais.

Transeunte acompanha a vida de Expedito (o veterano do teatro Fernando Bezerra), um homem que completou 65 anos e acaba de perder a mãe. Sem esposa ou filhos, o sujeito vive sozinho e passa os dias caminhando pelas ruas do centro do Rio de Janeiro ou sentado em bancos da praça, observando as pessoas ou ouvindo programas radiofônicos em seu aparelho portátil.

Rocha utilizou a experiência do documentário para dar vida ao personagem. Com isso, a câmera está constantemente procurando a ação – mesmo que ela não aconteça, a menos que se considere o ato de limpar o metal onde se coloca as pilhas nos rádios como ação. Os enquadramentos são muitas vezes extremamente fechados, denotando as rugas e bolsas sob os olhos.

A fotografia em preto e branco de Miguel Vassy é perfeita para o tema, já que remete a diversas interpretações, como a vida monocromática, a questão da velhice e a sensação de solidão.

É interessante observar que praticamente não há diálogos no filme, afinal Expedito é solitário e evita (ou não consegue) relacionar-se com as pessoas. Sua primeira fala acontece depois de quase meia hora de projeção e não se trata exatamente de um diálogo: ele passa seus dados pessoais ao funcionário do INSS – ou seja, informações sobre quem ele é, mas não exatamente a sua identidade.

Este é um filme de redescoberta, de entender a si próprio, justamente numa fase da vida em que a crise de identidade e existencial costuma bater em milhares de pessoas. Afinal, vivemos numa sociedade que despreza a velhice e isto se reflete inclusive nos meios culturais. Basta olhar as sexagenárias atrizes de novela ou apresentadoras de televisão, ou verificar que Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e Harrison Ford insistem em transmitir uma aura de heróis de ação.

            Com belas metáforas, seja no insistente caminhar do personagem ou na construção do prédio no terreno vizinho, Transeunte dialoga com outra obra em cartaz,
Mamute, da dupla Gustave de Kervern e Benoît Delépine, e com Gérard Depardieu no elenco, que também trata da questão do envelhecimento com o mesmo respeito.

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