sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Duncan Jones e seu "Contra o Tempo"


Em 2009, o filme de um cineasta iniciante fez muito barulho entre a crítica especializada, mas foi visto por pouquíssima gente no mundo todo. Trata-se de “Lunar”, um drama de ficção científica de baixíssimo orçamento estrelado por Sam Rockwell. Além da interessante abordagem existencialista e do questionamento sobre tecnologia e ética, o longa-metragem chamou a atenção por conta de seu idealizador, Duncan Jones, filho da lenda viva David Bowie.

Ao abordar uma questão filosófica de forma competente já em seu trabalho de estreia, o jovem diretor britânico chamou a atenção dos poderosos de Hollywood, como o cineasta Christopher Nolan (“O Cavaleiro das Trevas”), que o cogitou para a direção do novo filme do Superman, e o ator Jake Gyllenhaal, que lhe ofereceu o roteiro de “Contra o Tempo”, seu mais novo trabalho.
“Eu estava em Los Angeles apresentando ‘Lunar’ para a imprensa internacional e procurando pessoas com quem eu queria trabalhar e me encontrei com Jake, que falou ‘Por que você não dá uma olhada nisso? Acho que tem a sua cara’. Foi Jake quem viu as semelhanças entre ‘Contra o Tempo’ e ‘Lunar’”, explicou o diretor.

De fato, por ser uma ficção-científica que também aborda questões éticas, é possível fazer um paralelo entre os dois filmes. Em “Contra o Tempo”, Gyllenhaal interpreta Colter Stevens, um militar que é forçado a participar de um projeto secreto do exército americano cujo objetivo é impedir um ataque terrorista. Por meio de uma tecnologia especial, o sargento é enviado repetidas vezes à memória de um homem morto para descobrir quem é o responsável pelo atentado. O elenco é completado por Michelle Monaghan, Vera Farmiga e Jeffrey Wright.
Agora com um orçamento relativamente grande – cerca de US$ 30 milhões –, um astro conhecido do grande público e muitas cenas de ação, com direito a corre-corre e explosões, pode ficar a impressão que o jovem diretor rendeu-se à fórmula hollywoodiana, mas Jones, que cursou pós-graduação na Universidade de Vanderbilt, voltou a abordar um tema que lhe é caro. “Estudei filosofia sobre mente/corpo e como se poderia aplicar a ética em máquinas pensantes num potencial futuro, e minha abordagem ainda é maciçamente influenciada por esses anos”.

Mesmo que o filme não seja escrito por ele, como é o caso de “Contra o Tempo”, roteirizado por Ben Ripley. Ao focar-se apenas da direção dos atores e na condução da história, Jones pôde, inclusive, fazer pequenas alterações no texto, como a mudança de tom do filme, que ficou mais leve. “Originalmente, o roteiro era muito sério, como se fosse uma espécie de episódio de ‘24 Horas’ com ficção-científica”, brinca o diretor. “Quando você está trabalhando em seu próprio projeto, você se torna muito protetor da obra, como se ela fosse seu bebê, que você não quer modificar nada. Ao trabalhar no projeto de outra pessoa, você pode ser objetivo, verificar o que funciona e o que não funciona.”

Outra mudança importante foi a escolha da cidade onde se passa a história. Originalmente, seria em Nova York, mas os produtores acharam melhor mudar o cenário para Chicago por conta da questão do terrorismo. Pelo jeito, mesmo após uma década, o 11 de Setembro ainda é uma ferida aberta em Hollywood.

Mas a maior mudança pela qual passou Duncan Jones foi o tamanho da produção entre seu primeiro e seu segundo trabalho. Se em “Lunar” ele tinha a palavra final, já que se tratava de um filme de baixo orçamento, “Contra o Tempo” sempre foi vigiado por vários produtores durante o processo de filmagem. Não que isso tenha sido um problema para o diretor: antes de entrar no mundo do cinema, Jones havia trabalhado por muito tempo com publicidade, cuja relação entre clientes e produtores de audiovisual assemelha-se bastante. “Felizmente tive essa experiência na publicidade, onde cada filmagem realizada precisa ser explicada para o cliente sentir-se confortável. Tive apenas que mudar meu estado de espírito para algo diferente do que aconteceu em ‘Lunar’”.

Aparentemente, no entanto, Jones não conseguiu usar sua habilidade de negociação para conquistar a direção de “Superman – O Homem de Aço”, novo filme sobre o mais famoso super-herói das histórias em quadrinhos. Ele chegou a ingressar na seleta lista escolhida por Christopher Nolan, que produz o longa, e até teve uma reunião com o diretor de “A Origem”. “Foi assustador”, diverte-se, e confessa que gaguejou na hora de dizer “É muito bom conhecê-lo”. “Ele é um cara amável, muito inteligente. Conversamos sobre como foi fazer ‘Lunar’ e como foi fazer ‘Contra o Tempo’. Então ele me contou que foi parecido com o que aconteceu quando ele fez ‘Amnésia’ e ‘Insônia’ e falou sobre como é sair de pequenos filmes independentes para grandes produções.”
Como já se sabe, a direção do filme ficou a cargo de Zack Snyder (“300”, “Watchmen”), no entanto Jones garante que não ficou chateado por não ter sido escolhido. “Obviamente, teria sido fantástico ter tido essa chance. Mas acho que Snyder vai fazer algo visualmente espetacular”.

Se Jones não ficou com o filme do Superman, qual será seu novo trabalho? Apesar de não revelar o nome, ele já confirmou em diversas entrevistas que seu terceiro filme será outra ficção-científica, mais uma vez criada por ele, o que leva a crer que poderia ser, finalmente, “Mute” – uma história ambientada, segundo o próprio diretor, num mundo semelhante ao do clássico “Blade Runner”, de Ridley Scott. O cineasta já concluiu o roteiro, mas tem encontrado dificuldades para conseguir financiamento para o projeto. Tanto que “Mute” pode virar uma “grafic novel” antes de se tornar filme.

Mas Jones não pretende ficar apenas na ficção-científica. Após concluir seu ainda secreto terceiro filme, o filho de David Bowie deseja explorar novos gêneros. “Adorei o que Tarantino fez em ‘Bastardos Inglórios’. A ideia de caras em uma missão na Segunda Guerra Mundial... era como os tipos de filmes que eu amava. Adoraria fazer um filme de faroeste.”

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