quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O HOMEM DO FUTURO - Crítica


Novo filme de Cláudio Torres mistura comédia romântica e ficção científica

Filmes sobre viagem no tempo são sempre complicados pelo próprio conceito do paradoxo temporal: um furinho no roteiro pode pôr tudo a perder se o espectador levar a história um pouco mais a sério. São raras as produções que sobrevivem ilesas dessa armadilha e tornam-se clássicos, como “Peggy Sue - Seu Passado a Espera” e as cinesséries “O Exterminador do Futuro” e “De volta para o Futuro”, por exemplo. É bom saber que Cláudio Torres bebeu justamente dessas fontes para criar “O Homem do Futuro”, uma comédia romântica com pitadas de ficção científica sobre homem que volta no tempo e tenta reconquistar a mulher que perdeu no passado.

A história, escrita pelo próprio diretor, fala sobre Zero (Wagner Moura), um cientista tão genial quanto maluco que trabalha num projeto para a criação de uma nova forma de energia por meio de um acelerador de partículas. Sua pesquisa, se funcionar, poderá mudar o mundo, mas algo dá errado e a máquina acaba abrindo um portal que o leva de volta ao ano de 1991, justamento no dia da festa à fantasia na universidade, evento em que ele perdeu a namorada (Alinne Moraes) e sofreu um bullying humilhante diante dos outros alunos. Esses dois acontecimentos marcaram sua vida e o levaram a ser, pelos próximos 20 anos, uma pessoa amargurada e solitária.

Ao voltar no tempo, Zero vê a oportunidade de corrigir os erros do passado e alterar seu futuro, instruindo sua versão jovem a conquistar a mulher dos seus sonhos e a tomar atitudes que o beneficiem em sua carreira. Mas, como já é esperado nos filmes com essa temática, realizar mudanças nos acontecimentos pode causar efeitos catastróficos.

Quem está na casa dos 30 e 40 anos irá se divertir muito com as piadas sobre os comportamentos e as características dos anos 1980 e 90, como a diferença do nome do dinheiro nacional, o esperançoso governo Collor, a primeira geração de celulares gigantescos ou a proibição do cigarro em lugares fechados – brincadeiras que não devem funcionar tão bem para um público mais jovem. Aliás, é curioso verificar que há um saudosismo do final do século passado que anda rondando o mundo do entretenimento, vide “Super 8”, “Rei Leão” de volta aos cinemas, os brinquedos “Transformes” com uma série cinematográfica, o desenho “ThunderCats” com novo visual etc.

Muito da força do filme está, obviamente, em Wagner Moura, que se mostra versátil interpretando três versões do mesmo personagem. Sua atuação é propositalmente caricata e cheia de gags (quase lembrando Selton Mello), o que pode incomodar num primeiro momento, quando comparada com performances duras entregues nos dois “Tropa de Elite” ou “Cidade Baixa”, por exemplo, mas é coerente com o tom do filme, leve e despretensioso. Assim como ele havia feito em “VIPs”, Moura consegue dar vida a uma versão mais jovem de si mesmo apenas com ajuda de maquiagem e sutilezas no olhar e no comportamento – um papel que poderia virar galhofa nas mãos de um ator menos competente.

Com exceção de Gabriel Braga Nunes, como um vilão desconfortavelmente parecido com seu personagem na última novela das nove, o elenco de apoio cumpre sua função e parece se divertir com a história, com destaque para Alinne Moraes, a musa inspiradora Helena, e o divertido Fernando Ceylão, como o melhor amigo do cientista Zero. A eficiente montagem de Sergio Mekler também chama a atenção por deixar a narrativa ágil e fluída, apesar da criação de futuros alternativos e uma reviravolta no final.

Cláudio Torres vem construindo uma filmografia (é dele, também, “A Mulher Invisível”, “A Mulher do Meu Amigo” e “O Redentor”) regular que, se não é composta por clássicos, consegue ser bem-sucedida comercialmente e fugir do clichê que ronda grande parte dos filmes nacionais mainstream. Com um pouco mais de liberdade e autoralidade, poderá entregar belas obras no futuro. 

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