O espiritismo está se tornando um subgênero no cinema brasileiro, e de grande sucesso comercial: Bezerra de Menezes – O Diário de Um Espírito (dirigido por Glauber Filho e Joe Pimentel) chamou a atenção do público em 2008 e deu início à produção de diversas obras que homenagearam o centenário de Chico Xavier, caso de E a Vida Continua, de Paulo Figueiredo, baseado no livro homônimo do médium, e do documentário As Cartas Psicografadas de Chico Xavier, de Cristiana Grumbach, sobre as famílias que buscaram a ajuda do espírita após a perda de entes queridos. Mas foi o filme Chico Xavier e a megaprodução Nosso Lar que alcançaram marcas recordes de bilheteria e confirmaram a força do gênero: a cinebiografia dirigida por Daniel Filho registrou R$ 6,2 milhões só no final de semana de estreia e a adaptação de Nosso Lar (dirigido por Wagner de Assis, baseada num dos livros mais conhecidos do médium mineiro) ultrapassou a marca de 4 milhões de espectadores.
As Mães de Chico Xavier, que estreia dia primeiro de abril, encerra as homenagens e deve repetir o êxito na bilheteria, já que traz as características de seus antecessores, a começar pelo ator Nelson Xavier, que volta a interpretar o famoso médium, desta vez com idade mais avançada do que no filme anterior (os próprios produtores consideram este longa a conclusão de uma trilogia sobre Chico). Dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes, e baseado no livro Por Trás do Véu de Isis, do jornalista Marcel Souto Maior, o filme centra-se na vida de três mães que buscam nas palavras do célebre médium o conforto da perda de entes queridos. E o elenco não decepciona: Via Negromonte utiliza-se do silêncio para mostrar a dor que sente com o péssimo relacionamento com seu filho, dependente químico; Vanessa Gerbelli segura as pontas no papel da mulher ignorada pelo marido e que precisa se erguer após a morte do pequeno filho; e Tainá Müller, que vem conquistando seu espaço desde Cão Sem Dono e Tropa de Elite 2, interpreta uma jovem professora em crise com sua gravidez não planejada.
Apesar de a produção negar ser este um filme doutrinário, fica evidente a vontade de oficializar a autenticidade do espiritismo, utilizando-se como condutor o jornalista interpretado por Caio Blat, que, se é cético e tira sarro das imagens de Chico Xavier quando recebe a proposta de fazer uma reportagem sobre o médium, torna-se um defensor e divulgador da religião de Allan Kardec ao longo da projeção. Quando o jornalista pergunta ao seu chefe qual a versão ele deve buscar em sua reportagem, a resposta é enfática: “A verdade”.
A linguagem de novela é o maior problema de As Mães de Chico Xavier. É evidente que seu público-alvo é adulto e não espera uma narrativa muito diferente do que está acostumado a ver na TV, mas seu desenvolvimento é lento e pode incomodar. Nosso Lar trazia os efeitos especiais como chamariz e Chico Xavier tinha uma montagem interessante, com flashback e suspense. Já o filme de Glauber Filho e Halder Gomes deixa apenas para o último ato os acontecimentos, forçando o espectador a esperar por algo que ele já sabe que vai acontecer desde o começo do filme. Enquanto isso, alternam-se diversas imagens de nuvens – que remetem ao Paraíso –, e trilha musical típica das telenovelas globais (que também trazem o espiritismo nas entrelinhas).
A mensagem antiaborto no final reforça a posição doutrinária, no entanto é coerente com a trama. Agora, o “momento” Ghost – Do outro Lado da Vida, após uma cena de acidente de ônibus, é totalmente desnecessária e já está bem batida no cinema.
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