segunda-feira, 21 de março de 2011

O RETRATO DE DORIAN GRAY - CRÍTICA


“O mundo é seu. Por uma temporada”. A frase de Henry Wotton ao jovem e belo Dorian Gray resume a questão central de O Retrato de Dorian Gray, adaptação do clássico livro homônimo de Oscar Wilde sobre a efemeridade da beleza juvenil, e que chega somente agora no Brasil, apesar de já ter sido lançado nos Estados Unidos e na Europa em 2009.

Dirigida por Oliver Parker (que já adaptou para o cinema Um Marido Ideal, em 1999, e A Importância de Ser Honesto, em 2002 – ambos também livros de Wilde), a produção ganha fôlego por trazer em seu elenco o atual vencedor do Oscar de Melhor Ator Colin Firth (O Discurso do Rei) no papel de Henry Wotton, o aristocrata que apresenta ao casto Dorian Gray os prazeres do submundo da Londres vitoriana.

Ben Barnes (As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian) interpreta o jovem que acaba de chegar à capital inglesa para resgatar sua herança e é recebido por duas figuras opostas da alta sociedade britânica: o pintor Basil Hallward (Ben Chaplin) e o hedonista Henry Wotton. Basil fica encantado com a beleza do jovem interiorano e o presenteia com um quadro com seu retrato. Enquanto isso, Henry destila todo o seu veneno e sua visão ácida sobre a decadência da moralidade e os vícios renegados da sociedade ao inocente Dorian Gray, e sugere que ele aproveite todas as oportunidades e vantagens de sua beleza enquanto há tempo.

Seduzido pelos prazeres que lhe podem ser oferecidos, o rapaz – numa cena não muito clara – troca sua alma pela eternidade de sua beleza, transferindo para seu quadro todos os males físicos, como as cicatrizes e as marcas do envelhecimento. Se, num primeiro momento, Dorian Gray aproveita ao máximo uma vida de excessos, ele perceberá que a posteridade será uma maldição.

A adaptação de Parker deve incomodar os admiradores da obra original, já que há liberdades criativas sobre alguns acontecimentos e personagens, mas os maiores problemas desta versão estão na narrativa do filme. O assunto levantado por Oscar Wilde há mais de um século é extremamente atual e pode ser conferido numa simples zapeada pela televisão, para constatarmos que apresentadoras sexagenárias com rosto de adolescente e dançarinas supersiliconadas são o padrão exigido pela ditadura da beleza.

Porém, o diretor optou por um terror sem sustos e uma linguagem e estética de filme de vampiro no lugar das possibilidades dramáticas oferecidas pelo texto de Wilde, perdendo a oportunidade de discutir sobre esse urgente tema. Qualquer episódio de Nip/Tuck trata com muito mais profundidade o assunto.

Sobram, então, as atuações, e Colin Firth rouba as cenas com seus sarcásticos diálogos dignos da obra original. Ben Chaplin mal consegue explorar seu personagem que, no livro, nutre uma paixão escondida pelo jovem Dorian Gray. E Ben Barnes não consegue dar ao protagonista a dramaticidade necessária, entregando uma atuação sem emoção e estéril. E fica uma outra pergunta que as mulheres podem responder: Barnes é, realmente, tão bonito quanto afirmam os personagens? 
* Texto publicado no site http://www.arteview.com.br/

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