Em 1999, A Bruxa de Blair (de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez) quebrou alguns padrões hollywoodianos: no lugar da perfeição técnica do cinema americano, utilizou películas Super 8; em vez de um orçamento milionário, custou apenas US$ 40 mil; e nada de campanha publicitária, mas adotou um marketing viral até então inédito na adolescente internet pré-anos 2000. Tudo isso para contar a falsa história de três jovens que invadem uma floresta para fazer um documentário sobre a existência de uma bruxa secular.
A câmera tremida e mal posicionada passava a sensação de realismo e muitos acreditaram que o filme era, de fato, um documentário real – até os nomes dos personagens eram os nomes verdadeiros dos atores. A repercussão foi mundial, tornando-se um dos filmes mais rentáveis da história do cinema. "A Bruxa de Blair" também acabou fazendo escola: basta verificar a quantidade de filmes que passaram a adotar a linguagem de câmera na mão, seja em Hollywood, com Cloverfield – Monstro, ou numa cinematografia espanhola, como em REC.
É fruto dessa tendência o terror japonês Atividade Paranormal – Tóquio, uma refilmagem da produção americana de 2009 sobre um casal que, ao ter sua casa assombrada por um maligno fantasma, decide equipar o lugar com câmeras para registrar os efeitos paranormais. Supostamente feito com um baixo orçamento (apesar de ter contado com uma ajuda de Steven Spielberg), o filme fez sucesso nas bilheterias e já está caminhando para sua segunda continuação além de render esta questionável versão nipônica.
Questionável porque não há nada aqui que o espectador já não tenha visto tão recentemente no original. No lugar de marido e mulher do longa-metragem de Oren Peli, um casal de irmãos é a vítima das “travessuras” sobrenaturais e decide filmar o ambiente para entender o que está acontecendo. É incômodo que, por se tratar de um terror, há pouquíssimas cenas de susto, principalmente porque muitos dos momentos de tensão são quase idênticos à versão americana: o talco é substituído por sal; o médium assustado também dá as caras; e as imagens dos personagens dormindo também repetem o tédio do original. No entanto, é interessante observar o cuidado do diretor Toshikazu Nagae nos falsos enquadramentos amadores, permitindo que o operador da câmera, o carismático ator Aoi Nakamura, apareça constantemente por meio de reflexos.
Mas Atividade Paranormal – Tókio é um filme desnecessário, primeiro porque o seu original é contemporâneo. E, segundo, porque a realidade que o filme tanto tenta captar em sua linguagem apresentou uma triste ironia: os terremotos, tsunamis e a ameaça radioativa das usinas nucleares mostraram que há fantasmas bem mais ameaçadores assombrando o Japão atualmente.
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