quarta-feira, 6 de abril de 2011

CONTRACORRENTE - CRÍTICA


É bastante raro uma produção peruana chegar ao circuito comercial brasileiro – geralmente só acontece quando o filme conquista prêmios internacionais, como foi com “La Teta Assustada”, de Claudia Llosa. Desta forma, vale a pena conferir o longa-metragem “Contracorrente”, que finalmente chega por aqui, até porque a obra tem uma premissa que homenageia o clássico livro de Jorge AmadoDona Flor e Seus Dois Maridos”, de 1966, posteriormente adaptado para o cinema por Bruno Barreto.

Num vilarejo do litoral peruano, o pescador Miguel (Cristian Mercado) está prestes a se tornar pai, porém mantém um relacionamento amoroso secreto com Santiago (Manolo Cardona), um fotógrafo forasteiro que passou a viver no local. Um incidente, no entanto, causa a morte do fotógrafo e seu espírito ficará preso à vila até que seu corpo seja velado como dita as tradições religiosas da comunidade. 

Filme de estreia de Javier Fuentes-León, autor também do roteiro, “Contracorrente” discute com muita sensibilidade e naturalidade as dificuldades da aceitação pessoal e coletiva sobre a homossexualidade. Apaixonado por sua esposa e respeitado entre os colegas, Miguel não vê a si próprio como bissexual, apesar de ser claro o amor e desejo que sente por Santiago. Como apenas o pescador enxerga o espírito de seu amado, ele finalmente sente-se confortável em andar de mãos dadas em público e é perceptível que este é um dos momentos mais felizes de sua vida. Vale ressaltar, aqui, a belíssima interpretação de Cristian Mercado e Manolo Cardona.

A possível descoberta sobre o relacionamento homossexual de Miguel e as consequências que este fato podem causar na comunidade vão de encontro com o título da antiga novela brasileira “Direito de Amar”, assistida pelos moradores. Um direito que está em discussão em todo o mundo, inclusive entre os governos sulamericanos. Enquanto países como a Argentina já legalizaram a união civil homossexual, o Brasil não conseguem sequer criminalizar a homofobia. “Contracorrente” pode contribuir para o debate.
                                                 




CURIOSIDADE
Ciente das semelhanças de seu filme com a obra de Jorge Amado, o diretor Javier Fuentes-León fez uma homenagem dando o nome de Dona Flor à tia do protagonista. 




*Texto publicado no site www.ArteView.com.br

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