quinta-feira, 14 de abril de 2011

NANA CAYMMI EM RIO SONATA - CRÍTICA


Depois do documentário "Música é Perfume" (2005), sobre Maria Bethânia, o cineasta suíço Georges Gachot volta sua lente para outra musa da música popular brasileira, Nana Caymmi. Filha de Dorival Caymmi, Nana é o exemplo perfeito de uma cantora que alcançou respeito e admiração em todo o cenário musical nacional, porém nunca foi, efetivamente, uma artista da grande massa. É irônico que sua bela e poderosa voz já foi ouvida por diversas vezes e por todo o país, principalmente quando algumas de suas músicas foram temas das novelas globais, no entanto ela andaria como anônima pelas ruas, diferente de suas colegas cantoras.

Nana Caymmi em Rio Soneto” tem a função de resgatar a importância da artista, em tom de reverência, mesmo. Diferente de produções que tentam humanizar uma personalidade, o documentário de Gachot faz um resgate de sua trajetória e busca por meio de depoimentos de artistas consagrados (como o ex-marido Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Donato, Erasmo Carlos e Bethânia) situar Nana em condição de diva – ainda que haja momentos de simplicidade, como nas cenas de jogo de baralho ou quando ela brinca com a própria idade.

O grande problema do filme está justamente nos depoimentos que, ao longo de 84 minutos, parecem se repetir. A experiência só não se torna cansativa porque o longa é recheado de canções de Nana, seja em estúdio ou em apresentações ao vivo, desde as imagens de arquivo do Festival da Música Brasileira, de 1967, ao lado de Gil, e a performance com o mestre Tom Jobim em 1971, até aparições mais recentes, como na grandiosa interpretação da música “Atrás da Porta”, de Chico Buarque e Francis Hime.  


        As belas imagens do Rio de Janeiro servem como cenário para as canções tristes de Nana e como metáfora sobre a própria cantora. Diferente da ensolarada Cidade Maravilhosa, o Rio do filme é cinzento, chuvoso e encoberto de neblina, escondendo seus principais cartões postais. Num mesmo paralelo, Nana sempre fugiu de movimentos e modismos musicais, buscando uma coerência na carreira – o que, talvez, tenha lhe custado um reconhecimento popular maior.


*Texto publicado no site www.CinemanaRede.com

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