terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CRÍTICA: A REDE SOCIAL



Não é à toa que o filme A Rede Social não traz o nome Facebook em seu título: apesar de tratar-se da origem do site de relacionamento mais popular do mundo, o diretor David Fincher está mais interessado em analisar o fenômeno contemporâneo em que as pessoas têm centenas de amigos virtuais, mas são incapazes de se relacionar bem com gente de “carne e osso”.

O assunto, aliás, é recorrente em sua filmografia: em Clube da Luta (1999), o homem moderno está em crise e só consegue se relacionar com seus pares por meio da violência física; em Zodíaco (2007), o cartunista interpretado por Jake Gyllenhaal está excluído do grupo de colegas do jornal do qual trabalha e torna a busca pelo assassino serial sua obsessão, enquanto sua vida pessoal se deteriora; em O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), a diferença de idade impede a relação amorosa do casal interpretado por Brad Pitt / Cate Blanchett; apenas em O Quarto do Pânico (2002) o isolamento parece ser uma forma de segurança, quando mãe e filha se protegem de assaltantes em sua casa.

Com roteiro de Aaron Sorkin baseado no livro Bilionários Por Acaso, de Ben Mezrich, A Rede Social traz novamente o tema caro a Fincher, a sensação de desconexão de seu protagonista. Em 2003, o estudante de Harvard Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, ótimo) recebe um fora de sua namorada após, involuntariamente, ofende-la durante uma conversa banal: Zuckerberg não percebe, mas a velocidade de seu pensamento e sua genialidade o tornam arrogante e prepotente. Frustrado com o fim do relacionamento, desenvolve, de seu apartamento e durante a madrugada, um site em que permite aos usuários comparar as garotas da universidade: o sucesso foi tão grande que o tráfego derrubou a conexão da internet de Harvard. Nascia ali o embrião do Facebook que, adaptado da ideia de dois irmãos gêmeos da mesma universidade (interpretados por Armie Hammer), virou uma rede social que ganhou, a cada dia, mais e mais usuários. O sucesso do site rendeu processos milionários por parte dos gêmeos e de seu amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), co-criador do projeto e que, por meio de um golpe jurídico, teve seus lucros reduzidos a uma porcentagem risível.

Esse ambiente de intrigas, traição e sucesso financeiro é o pano de fundo para David Fincher fazer sua análise sobre o mundo moderno, e o Facebook é uma ótima metáfora sobre a nossa época: em nossos perfis, projetamos tudo o que queremos ser, postamos nossas melhores fotos (geralmente as que estamos mais bonitos), adicionamos centenas de “amigos” e até personalidades conhecidas, como se de fato fôssemos íntimos das tais celebridades... as páginas são praticamente uma peça publicitária pessoal. E o novo modelo do herói cinematográfico deixou de ser o sujeito de porte atlético, bonito e valente, dando lugar aos nerds, inteligentes, porém solitários e sem habilidades para se relacionar com o sexo oposto – o perfil está cada vez mais constante como pode-se ver em Juno (2007), em Zumbilândia (2009), em Kick-Ass (2010) etc.

O jovem Mark Zuckerberg encontra-se naquela região cinzenta, entre o herói e o vilão. É carismático, mas tem dificuldade de se conectar às outras pessoas. Apesar de extremamente inteligente, nem percebe que é o culpado pelo fim do namoro. Enquanto centenas de colegas de Harvard divertem-se madrugada adentro com festa regada a sexo e drogas, o programador cria um site e faz postagens ofensivas sobre garotas em seu blog pessoal. Por influência do ousado Sean Parker (Justin Timberlake), trai seu único amigo. Quando seu site alcança um milhão de usuários, nem comemora e recusa abraços. Mas David Fincher não faz julgamentos, inclusive na questão dos direitos autorais no mundo da internet: “Os fabricantes de cadeiras não pagam royalties para seus antecessores”, defende-se o jovem gênio contra o processo dos irmãos Winklevoss sobre o roubo de propriedade intelectual.

No entanto, por mais inteligente e articulado que seja, Mark Zuckerberg começa e termina o filme tomando um fora de uma garota. O sujeito com bilhões de dólares na conta bancária e que ajudou 500 milhões de pessoas a se relacionar (ainda que virtualmente), não consegue convidar a mocinha para um jantar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário