Ao dar prioridade às questões sociais, o cinema nacional recupera fôlego e ganha destaque e respeito no cenário mundial
Entre setembro e outubro de 2008, Linha de Passe (de Walter Salles), Ensaio Sobre a Cegueira (de Fernando Meirelles) e Última Parada 174 (de Bruno Barreto) estrearam nas salas de cinema de todo o Brasil. Cada filme aborda um tema específico – a ausência da figura paterna, a dificuldade de viver em sociedade e a vida nas favelas cariocas, respectivamente, mas há uma questão central que une essas três produções a uma nova tendência do cinema nacional: a utilização de questões sociais como base para as histórias a serem contadas.
Assuntos vazios
Nos anos 1970 e 80, a censura impediu que diversos filmes fossem feitos e os que ainda puderam ser exibidos tiveram trechos mutilados, impedindo que os diretores de cinema pudessem expressar suas opiniões ou denunciar algum assunto através da sétima arte. Desta forma, as pornochanchadas (responsáveis por grande parte do preconceito que o próprio brasileiro ainda tem diante das produções nacionais) e as comédias simples dos Trapalhões dominaram os cinemas por 30 anos. Quando Fernando Collor acabou com a Embrafilme, toda produção cinematográfica havia morrido junto. Quem quisesse fazer filmes deveria bancar a própria produção, e a crise cinematográfica só começou a melhorar com a criação da “Lei Rouanet” – Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995), de Carla Camurati, é considerada um marco inicial da Retomada. Mas o filme que melhor representa a ressurreição do cinema nacional é Central do Brasil (1998), de Walter Salles, com indicações ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz (Fernanda Montenegro).
A ditadura em foco
A partir de 1997, uma sequência de bons filmes sobre a ditadura militar (1964-1985) passou pelas salas de cinema em todo território nacional. Só para citar alguns, O que é isso, companheiro? (1997), AI-5 – O Dia que não existiu (2000), Quase Dois Irmãos (2004), Vlado – Trinta anos depois (2005), Zuzu Angel (2006), O ano em que meus pais saíram de férias (2006), Batismo de Sangue, (2007). Pessoas que sofreram na própria pele as torturas cometidas por militares durante a ditadura comemoram o interesse do cinema, caso de Frei Betto, autor do livro Batismo de Sangue, que deu origem ao filme homônimo: ”Quando se faz memória de tempos de atrocidades, evita-se que se repitam. O Brasil, sobretudo as novas gerações, têm o direito de conhecer a verdadeira história do período da ditadura militar para que ela jamais retorne”.
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