Baton vermelho: R$ 1,95. Lápis delineador preto para olho: R$ 2,50. Maquiagem pankake teatral, cor branca: R$ 7,00. Spray para cabelo, cor verde: R$ 15,00. Ingresso de cinema: R$ 16,00. Sair pelas ruas da cidade de São Paulo com a maquiagem do vilão Coringa, assustando criancinhas, sendo perseguido por policiais, vigiado pelos seguranças do shopping, causando discórdia no cinema e, para fechar a madrugada, entrar num bar lotado e jogar umas partidinhas de bilhar: NÃO TEM PREÇO.
Na estreia mundial de Batman – O Cavaleiro das Trevas, no dia 18 de julho de 2008, propus aos meus amigos para que fôssemos ao cinema com o rosto pintado igual ao Coringa de Heath Ledger. Não foi surpresa o pessoal ter topado, afinal “bagunça” e “confusão” são requesitos básicos para que eles saiam de casa. Surpresa, mesmo, foi verificar a reação das pessoas ao verem cinco “coringas” passeando pelo shopping.
A primeira tarefa foi comprar a maquiagem, numa perfumaria onde o único ser humano com cromossomos XY era eu. Ao entregar a lista de produtos, a vendedora me olhou com “aquela” cara e eu quase pude ler em sua mente: “Vai ter showzinho hoje, mona?”. Até pensei em explicar a finalidade da maquiagem, mas o motivo não era lá muito convincente, convenhamos...
Em casa, começamos o processo de pintura. Diferente de todas as versões anteriores do vilão do homem-morcego criada nos quadrinhos, desenhos animados, séries de tevê e filmes, a maquiagem do Coringa criada pelo falecido ator Heath Ledger é borrada, suja, descuidada. Passa a imagem de um palhaço maníaco, perigoso. Ainda bem, afinal uma pintura à la Jack Nicholson nos deixaria com cara de travestis e, obviamente, não era essa a ideia. Com o rosto branco, a região ao redor dos olhos pintada de preto, a boca toda borrada de batom e com o cabelo esmeralda, pegamos o carro e fomos ao shopping.
Diferentemente de um dia normal, torcíamos para que todos os semáforos estivessem fechados. A reação das pessoas, ao olhar pela janela e dar de cara com marmanjos com o rosto pintado, é digna de estudos científicos, teses de doutorado: sujeitos com pinta de empresários davam um sorriso sem-graça; pessoas mais velhas geralmente desviam o olhar rapidamente, fingindo que não viram nada de mais; algumas senhoras subiram o vidro e olharam para frente. Torci para que alguém fizesse sinal da cruz.
Ao chegar à entrada do shopping, vimos que estávamos em cima da hora. A sessão já ia começar. Perguntamos de forma apressada a um segurança onde era o estacionamento e, nesse momento, aconteceu uma das cenas mais hilárias: o homem simplesmente travou. Começou a olhar para nós e não conseguiu responder: “É... é... hã...é...”. Imagino ele pensando: “Meu Deus! E se eles forem terroristas e fizerem alguma coisa, a responsabilidade pela entrada deles foi minha!”. E continuou: “É... é... hã...”
Como estávamos atrasados, deixamos o segurança para trás e fomos procurar o estacionamento, que, descobrimos, fica no topo do prédio. Quando paramos o carro lá em cima, quatro seguranças ficaram ao redor do veículo, anotando a placa, falando nos rádios, observando nossos movimentos (provavelmente, o “travado” lá embaixo havia passado a informação sobre nós, os possíveis terroristas). Fomos “escoltados” até a entrada do shopping!
Ao passarmos pela porta, um pai nos viu e afastou seu rebento. “Vem cá, filho, vem cá, filho!”. Quando chegamos ao hall do cinema, uma fila enorme nos aguardava. Todos – repito – todos começaram a olhar para nós. Risadas, palmas e assobios. Fingimos que não era com a gente e entramos na fila. Segundos depois, um rapaz chega e diz: “Posso tirar uma foto com vocês?”. Saímos da fila, tiramos a foto e voltamos. Outro sujeito: “Posso tirar uma foto?”. Saímos da fila, tiramos a foto, voltamos pra fila. Esse processo se repetiu umas oito vezes.
De repente, um homem de uns 40 anos, roupa social com o logo do cinema, coloca a mão em meu ombro e diz, um pouco constrangido: “Com licença. Eu sou o gerente do cinema e...”, e eu logo imaginei “pronto, acabou o passeio. O gerente vai nos expulsar daqui!”. Mas eis que o homem continuou: “... e gostaria de tirar uma foto com vocês!”. Depois de várias poses com cara de mau, conseguimos, finalmente, entrar na sala, já lotada. Mais gritos surgiram, mas um se sobressaiu: “Vai arrumar uma namorada!”, berrou um sujeito. “Sai, drag queen!”. Gostaria muito que o sujeito se apresentasse, para fazermos jus à maquiagem de vilão, mas, infelizmente, ele se escondeu na multidão.
Quando acabou o filme, à meia-noite, saímos do shopping, mas ainda queríamos espantar mais algumas pessoas. Paramos em nosso “bar oficial” para tomar uma cerveja e jogar um bilharzinho. Como o pessoal já nos conhecia de aventuras anteriores, nem deu tanta atenção assim. Uma pena. Às três horas da manhã, a festa acabou. Precisei de quase uma hora para tirar toda a maquiagem, mas valeu a pena.
Queria estar lá com vcs!!:)
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