quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A PESSOA É PARA O QUE NASCE - CRÍTICA


Dirigido por Roberto Berlier, A pessoa é para o que nasce, retrata a vida de três irmãs cegas que ganham o seu sustento cantando nas ruas de Campina Grande. Mais do que uma observação sobre as dificuldades na rotina das mulheres que não enxergam, o filme procura mostrar que é possível manter o bom humor e uma vida menos infeliz.

O documentário começa com a longa cena em que Poroca, uma das irmãs, tenta por diversas vezes colocar o vestido, mas não consegue encontrar o lado certo da roupa. “Eita ferro...” e “Ô, meu deus!” são as expressões repetidas diversas vezes durante o filme, quase como um mantra. Maroca, Porocá e Indaiá (ou Regina, Maria e Conceição) passam o dia todo nas ruas de Campina Grande fazendo rimas e canções em troca de algumas moedas, enquanto os outros irmãos, saudáveis, não trabalham: “Trabalha o feio para o bonito comer”, diz, revoltada, uma das irmãs.

O que mais impressiona ao longo do filme é a quantidade de vezes que as irmãs usam o verbo “ver”, como se, de alguma forma, enxergassem o mundo. “Puxa, você está aí? Eu não tinha visto” ou “Vamos para São Paulo para ver os paulistas” são alguns dos exemplos. Genial, entretanto é o momento em que Maroca descreve seu grande amor: enquanto ela vai ditando os aspectos físicos do homem, a tela fica toda escura. Desta forma, temos o mesmo ponto de vista da protagonista.

Outro destaque do filme é a cumplicidade que o diretor Roberto conseguiu arrancar das três irmãs. Devido ao longo tempo de duração de gravação (as filmagens começaram em 1998 e só foram terminar em 2004), as “Ceguinhas de Campina Grande” passaram uma intimidade e naturalidade que causa admiração ao telespectador. “Eu nunca imaginei que seria estrela do cinema”, se espanta Maroca. Pois é ela quem causa risos e, mais tarde, um pouco de tristeza quando revela que está apaixonada pelo diretor Roberto Berlier.

Quando as legendas sobem, ao final da projeção, elas já conheceram Gilberto Gil, fizeram shows em diversas regiões do Brasil e ganharam um dinheirinho para reformar a casa. E pedem para os telespectadores comprarem seu CD, afinal, o filme acabou e chegou a hora de voltar às ruas cantar e pedir esmolas.  

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