terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

DUETO PARA UM & RONALDO FENÔMENO


Pode soar engraçado, mas não consigo deixar de pensar no agora ex-jogador Ronaldo – o fenômeno –, ao falar da peça Dueto Para Um, dirigida por Mika Lins e interpretada por Bel Kowarick e Marcos Suchara, baseada no texto escrito por Tom Kempinski na década de 1980. Trata-se da história de uma famosa violinista que, acometida pela esclerose múltipla, é impedida de exercer sua arte no auge da carreira e busca ajuda de um psiquiatra para tentar impedir o avanço da depressão.

A peça é realizada num palco escuro, cru, desprovido de recursos cênicos, e baseia-se exclusivamente na arte do diálogo entre a paciente e seu médico. Com isso, a diretora estreante Mika Lins exige o máximo de interpretação de seus atores e o resultado foi a premiação de Bel Kowarick pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por sua personagem, Stephanie Abrahams. O roteiro se passa durante seis sessões de terapia e a atriz nos mostra o avanço da doença, seja com a mão definhando, a curvatura de suas costas ou a tristeza em seus olhos. No entanto, é curioso o fato de que seu colega de palco, o ator Marcos Suchara, tenha sido ignorado pela APCA. Sua interpretação do Dr. Feldman rouba as cenas, com um psiquiatra desesperado por não conseguir ajudar sua paciente.

E é o clima e o debate entre os dois personagens que movimentam o roteiro, que procura discutir como continuar o prazer da vida após perder seu maior sentido. A peça é baseada na história verídica da violoncelista inglesa Jacqueline du Pré, morta aos 42 anos vítima da doença degenerativa. O violino, para Stephanie, não é apenas um instrumento musical, mas a extensão de seu corpo. A música vai além de ser seu meio de vida, é sua própria vida. Presa a uma cadeira de rodas e com os movimentos musculares ignorando seus estímulos cerebrais, o próprio ato de viver precisa ser visto de outra forma.

Guardadas, obviamente, as devidas proporções, não estaria em situação semelhante Ronaldo Nazário? Três vezes melhor jogador do mundo, maior artilheiro das Copas, e ídolo de uma geração, o atleta alega que o hipotireoidismo o obrigou a encerrar sua carreira, por conta das dores e do excesso de peso. A partir de agora, ele estará longe dos gramados, deixará de fazer dribles e gols filmados e transmitidos para o mundo inteiro. Deixará de ser o “fenômeno” e se tornará apenas Ronaldo, o ex-jogador. Ele vai levar isso numa boa?

Voltando à Dueto Para Um: há um filme, de 1986, também baseado na peça. Dirigido por Andrei Konchalovsky e roteirizado pelo próprio Tom Kempinski, Duet for One (no Brasil batizado de Sede de Amar – não confundir com o nacional homônimo) tem a atriz Julie Andrews no papel de Stephanie e conta com Liam Neeson no elenco. Os interessados em assistir à peça devem se apressar: a temporada no Tucarena encerra-se no dia 27 de fevereiro.

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