segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

JOGO DE PODER - CRÍTICA


As torres gêmeas de Kuala Lumpur abrem o filme Jogo de Poder, que estreia no dia 11 de março no cinema. É, claramente, uma referência ao ataque terrorista às torres do World Trade Center em 2001 e suas consequências políticas. A produção é baseada na autobiografia Fair Game, de Valerie Plame, a ex-expiã da CIA que teve sua vida arruinada após sua identidade ser revelada pelos jornais estadunidenses. Detalhe: foi a própria Casa Branca a responsável pelo vazamento da informação, como represália ao artigo escrito por seu marido, o diplomata Joseph Wilson, sobre as fictícias armas de destruição de massa do ditador Saddam Hussein.

Doug Liman, que parece gostar do mundo da espionagem (é diretor de A Identidade Bourne e de Sr. e Sra. Smith), arrisca-se a ingressar por um gênero que não vem obtendo grandes sucessos de bilheteria na última década: o cinema com fundo político, de reflexão sobre a conduta de Washington e sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão. Tanto obras que trataram o assunto de forma mais séria – caso de Leões e Cordeiros (de Robert Redford), de No Vale das Sombras (de Paul Haggis) e de Syriana (de Stephen Gaghan) – quanto filmes de puro entretenimento – como Rede de Mentiras (de Ridley Scott), O Reino (de Peter Berg) e Zona Verde (de Paul Greengrass) – foram ignorados pelo público norte-americano.

Jogo do Poder tem a possibilidade de reverter esse quadro. O atual contexto político está favorável à produção de Doug Liman, afinal George Bush deixou a Casa Branca sendo o presidente com o menor índice de aprovação dentro e fora dos Estados Unidos. Desta forma, fica fácil para Liman colocar nos créditos de abertura a música Clint Eastwood, do Gorillaz, enquanto apresenta imagens de arquivo de Bush com seus discursos belicistas, além de toda a paranoia da mídia e da população sobre novos ataques terroristas. Ou seja, a distância do tempo dos acontecimentos permite ao diretor mostrar como todos tiveram sua parcela de responsabilidade, sem ofender ninguém.


 A linguagem visual de A Identidade Bourne é repetida aqui, com uma câmera curiosa, que vigia as ações dos personagens – ou seja, uma espiã, assim como sua protagonista. Naomi Watts interpreta com segurança a agente secreta traída pelo governo e que teve sua vida virada ao avesso, inclusive levando ao extremo a situação de seu casamento com Joseph Wilson, vivido por Sean Penn. A história tem o roteiro adorado por Hollywood, de um “Davi enfrentando Golias” – ou, no caso, de um casal lutando contra a máquina de guerra e de propaganda da Casa Branca. E, ao contrário do que sugere o irônico título original (Fair Game), o jogo não é justo.


* Texto publicado no site http://www.cinemanarede.com/  

Nenhum comentário:

Postar um comentário